Capítulo 1

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— O cigarro ainda vai te matar!

Viro o rosto para olhar Vee, minha melhor – e única – amiga. E dou mais um longo e demorado trago no cigarro.

Ela balança a cabeça, desapontada.

Alguém precisa avisar para a minha amiga vegana e extremamente saudável que nem todo mundo quer seguir seu estilo de vida perfeito.

— Pelo menos vou escolher a causa da minha morte. — digo calmamente.

Vee tenta não argumentar, mas não consegue ficar quieta.

— Você só tem vinte e um anos, se parar agora, consegue ter uma vida saudável.

Ergo uma sobrancelha para ela.

— Pareço querer ter uma vida saudável?

Ela solta uma longa respiração.

— Eu ainda tenho esperança de mudar seu pensamento.

Não digo o quanto isso seria uma perda de tempo e volto a me encostar no banco de madeira. A tarde está agradável e uma brisa suave corre pelo campus, onde vários alunos estão largados na grama. 

Apesar do que disse para Vee, aproveito de bom grado o sopro de vida que a natureza que ela tanto ama nos traz.

— Olha lá. — Vee me cutuca com a ponta do dedo e indica um casal que está conversando a alguns metros. — Não é o casal perfeito?

Paro para prestar atenção no tal casal e os reconheço imediatamente.

Ah, sim. O Casal Perfeito.

Rachel Smith, garota popular de família rica e a clichê líder de torcida. Toda perfeita com seus longos cabelos acobreados, olhos azuis e pele de porcelana.

E ao lado dela, o namorado perfeito

Jason Coban, menino de ouro da faculdade, gênio que ganhou quatro campeonatos estudantis e capitão do time de vôlei. Com seus quase dois metros de altura, brilhantes olhos castanhos e cabelo claro, é a perfeita imagem de sonho americano de consumo.

Chega a ser ridículo de tão clichê.

— Como ela consegue manter o cabelo tão perfeito? — indaga Vee, muito impressionada com o rabo de cavalo impecável de Rachel.

— Eu queria mesmo é saber como ela consegue parecer linda mesmo tendo passado a noite inteira se drogando.

— Charlie! — apesar da falsa indignação, Vee não tenta me contradizer.

Nosso amigo traficante acabou soltando sem querer que vende cocaína para Rachel com bastante frequência.

— Será que Jason sabe? — pergunta baixinho.

— Não. Ele não sabe.

Ela vira o rosto para me olhar.

— Como tem tanta certeza sobre isso?

Dou de ombros.

— Fiz um trabalho de sociologia com ele há algumas semanas. Ele é todo correto, então duvido que continuaria namorando com a senhorita perfeita se soubesse disso.

Vee assente e volta a atenção para ele.

— Cara, como ele é bonito.

Dou o último trago no cigarro e olho para Jason.

Para quem gosta do tipo perfeitinho, o menino de ouro é um excelente modelo. Corpo atlético e com músculos bem distribuídos por cada centímetro do corpo alto. O cabelo é castanho claro, mas agora, com o brilho do sol, fica ainda mais claro. Os olhos também se destacam, ficando mais brilhantes e vivos.

Não é o tipo de homem para se ignorar.

— Prefiro os morenos. — digo simplesmente.

Sendo bem invasivas, continuamos observando o casal.

Rachel está falando algo com bastante energia, gesticulando exageradamente e com o rosto levemente avermelhado. Aparentemente é uma discussão. Jason, no entanto, escuta tudo de cabeça baixa, mãos enfiadas no moletom do time e não fala absolutamente nada.

Um grupo de quatro meninas, todas líderes de torcida, se aproximam e gritam o nome de Rachel. A postura dela muda na mesma hora, coloca um sorriso no rosto e acena para elas. Se não estivéssemos observando com tanta atenção, não teríamos percebido, mas foi impossível não notar quando ela ficou na ponta dos pés para beijar Jason. E ele virou o rosto na hora, desviando dos lábios da namorada.

Merda!

— Problemas no paraíso? — pergunta Vee baixinho.

Não respondo e continuo prestando atenção enquanto ela se afasta, as mãos cerradas ao lado do corpo, indo até as amigas.

— Ah, devem estar indo para o treino da nova coreografia. — murmura Vee. — Se eu ainda fosse uma integrante...

— Você seria tão fútil quando elas.

— Até que eu gostava de ser fútil.

Viro o rosto para ela, um sorriso fácil nos lábios.

— Você ainda é um pouco fútil.

Vee estreita os olhos castanhos com falsa indignação.

— Vaca!

Meu sorriso fica maior e volto a virar o rosto para frente.

E encontro Jason me encarando.

Meu sorriso morre na mesma hora.

Ele continua parado, as mãos no bolso do moletom e o corpo em uma falsa pose de relaxamento. Mas os olhos estão intensos. Inquietos.

E odeio perceber isso.

Odeio tudo e qualquer coisa que tenha a ver com ele.

Jason solta uma longa respiração, o peito largo se expande, e então abaixa a cabeça e se afasta.

— Cacete, Charlie! O que foi isso?!

Evito a tentação de soltar um palavrão e finjo que não sei do que ela está falando.

— Isso o que?

— Essa troca de olhares entre vocês?

Faço minha melhor caixa de deboche.

— Acho que não deixei uma boa impressão no menino de ouro. Você sabe, enquanto fazíamos o trabalho.

— Não. — Vee, que é uma das poucas pessoas que eu gosto, infelizmente é esperta demais para o meu bem. — Eu sei o suficiente sobre troca de olhar para saber que esse de vocês dois estava carregada de tensão.

— Não sei do que você está falando.

Faço menção de levantar, mas ela segura meu pulso. O olhar de Vee está sério, até mesmo preocupado.

— Charlie, cuidado. Não faz merda e nada imprudente.

— O que acha que eu poderia fazer?

— Você adora problemas e aquele menino de ouro, apesar de lindo e aparentar ser todo perfeitinho, tem a palavra problema escrito na testa.

Abro um sorriso para ela, divertida.

— Eu não procuro problemas, Vee. Fique tranquila.

É só quando estou longe o suficiente que digo para mim mesma.

— É o problema que vem atrás de mim.

O Namorado Da Minha Inimiga (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora