Capítulo 1: Piloto

14 3 0
                                    

  4:50 da manhã quando soou no mundo aquele som irritante do alarme, aparentemente condenando a minha desgraça de ter que iniciar o ensino médio em outra escola, em outra cidade, longe de todos os meus amigos e de todos os ambientes que me transmitiam paz.
  Quando minha mãe resolveu que nos mudarmos seria então a melhor solução para o fim conturbado do último relacionamento dela, eu já sabia que aquilo seria o início do meu fim, não que minha vida em minha antiga cidade fosse um mar de rosas, muito pelo contrário, nem de cidade poderíamos chamar, era um pequeno distrito, porém era um lugar calmo, era a minha casa, sabia todos os cantos que poderia me esconder e conhecia tudo e todos, tinha tantos amigos, era amiga até das senhoras mais velhas que moravam ali, mais por conta da igreja é claro, logicamente não mencionei que sou católica, já adianto não acredito em milagres, mas acredito no sobrenatural. Acredito para ter alguém a quem me apegar sabendo que aqueles pensamentos, aquela crença não me machucaria.
   Sentei na cama, olhei para o espelho em frente e me deparei com o que parecia ser uma juba de leão, daquelas enormes e bagunçadas,eu tinha algum probleminha de esquecimento, e esqueci completamente de colocar minha bela touca de cetim de cor magenta.Meu cabelo é inteiramente desnorteado, não sabe o que quer da vida (parece a dona), ou ondulado como dizem as blogueiras especialistas em cabelos, eram pretos como jabuticabas, sua raiz era lisa e do meio para o fim cachos que se não vissem creme, ficariam completamente armados. Estava vestindo meu pijama vermelho com corujinhas, que já tinha a anos mas não abandonava por nada. Fiquei olhando pro nada e esperando, o que eu não sei. Cinco minutos depois minha mãe apareceu já zangada, típico da gata, gritando que eu estava atrasada, nisso era 4:55 da manhã, inacreditável, fiquei com a minha belíssima cara de ânus e fui pro banheiro carregando a toalha e o celular. Abri minha playlist que denominei "Minhas de fé" em alusão a música "minha de fé" da Ludmila, aquela mulher faz meu corpo arrepiar por um inteiro, que mulher meus queridos, que mulher. A primeira música que estava tocando era "diz pra mim" da banda Malta, é uma música deliciosa de se escutar, a melhor parte é a guitarra, uma bela canção para animar a manhã do primeiro dia de aula no primeiro ano do ensino médio.
   Às 5:30 sai do banho, cabelo completamente encharcado com a minha mãe ainda gritando que estávamos todas atrasadas, até com a coitada da Selene gritou, ela era a nossa gatinha de estimação, branca dos olhos azuis selene, por isso o nome. Vesti a calça jeans, coloquei uma bem colada, num tom claro com alguns rasgos só pelo charme e a farda, mesmo sendo escola do estado a cor da blusa era diferente das de todas as outras que já tinha visto, um tom azul escuro com alguns detalhes brancos. Fiquei feliz quando a vi pela primeira vez sabendo que não teria que usar aquela cor horrorosa do estado.
   Tomei enfim meu café da manhã, somente 5 pães carioquinha com manteiga assados na sanduicheira, sim eu sei, eu como muito e não sou gorda, nem magra, sou assimétrica, porém não gosto muito do meu corpo e não esperem que eu comente sobre ele aqui. O tempo passava e eu estava realmente começando a me atrasar, peguei minha mochila cor de berinjela e sai para o ponto do ônibus, minha mãe já havia saído de casa então deixei a chave no cantinho que combinamos, ela havia comprado um vaso de flores com pedras da cor da chave e havia ordenado para que eu deixasse bem escondida e que ninguém me visse a colocando ali.
  Fui andando até o lugar para esperar o ônibus, fiquei observando cada milímetro de centímetro da rua,as pessoas me olhavam, logicamente não me reconhecendo já que eu era nova na rua, passei esbanjando um sorriso que aparentemente encantava tantas pessoas, e imaginei solenemente o que pensavam sobre mim. Uma garota nova, branca de rosto meigo e sorridente, aí quem dera me conhecessem de verdade e soubessem de tudo. Mas era melhor assim, quanto mais achassem que eu era somente uma garota meiga e sorridente, melhor.
   Peguei o ônibus às 6:10, aparentemente o centro das atenções, todos me olhavam, tantas pessoas diferentes, rostos, tons de peles, corpos diferentes, me senti ficar com o rosto vermelho e então logo procurei um lugar pra sentar, não era boa com isso de ser nova e logo eu descobriria que realmente ser a aluna nova em um colégio integral onde todos já se conheciam, não seria fácil e muito menos agradável.

Confissões de uma garota aparentemente normalOnde histórias criam vida. Descubra agora