Capítulo 3: Como?

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  Subi de volta ao ônibus, após o primeiro dia de aula, aparentemente não tinha sido tão ruim e tenebroso igual eu havia imagina na minha cabeça. Perdida em meus pensamentos olhando pela paisagem totalmente poluída da cidade, senti uma pessoa sentar ao meu lado, um menino, que mesmo tendo passado o dia inteiro no colégio naquela quintura ainda tinha um perfume com uma fragrância deliciosa, bem doce e forte na medida suficiente. Olhei para ele tentando entender, ele aparentava ser um branco que havia tomado muito sol e seu tom de pele mudou, cabelos castanhos de lado, uma sobrancelha linda com um pequeno defeito e um sorriso tão encantador que quase me deixou babando. Antes que eu pudesse falar algo, ele se adiantou:
   - Olá novata, isso aqui tá parecendo um clichê né, eu chegando em você assim do nada, mas acredite eu não vou aperriar seu juízo, só me zanguei com os cara lá atrás e você parecia tão sozinha, vim aqui lhe fazer companhia.- ele falou aquilo com os olhos de jabuticaba brilhando, um sorriso tão sincero e exuberante- Não tem problema não é mesmo?
  -Oi, claro que não! Não sou a dona do ônibus, você pode sentar onde desejar.- aí garota burra, egocêntrica e irracional, precisava ser bruta com o garoto?
  - Nossa, vim na maior amizade e já tá sendo bruta?- ele falou rindo.
  - Não, jamais seria bruta com alguém que nem conheço, não sei nem seu nome, mil perdões se pareceu que eu tinha sido ignorante convosco, nunca foi minha intenção- falei apressada, clara e ríspida, com medo de ele não falar mais comigo. Ele soltou uma risada, muita gostosa de se escutar inclusive, e acrescentou dando um tapinha no meu ombro:
   - Eu tava brincando bobinha!- aquele tapinha me fez ficar imóvel, lembrando de uma cena assustadora, eu gritava pedindo ajuda e uma mão vinha e me batia, estava escuro, não consigo lembrar rostos, mas a mão era grande, enorme inclusive, e com aspecto grosso. Com certeza era um homem, mas isso era uma lembrança ou uma imaginação? A alguns meses essas lembranças estão vindo à tona, não consigo me acostumar com elas e não consigo ver quem é. Mas quanto mais eu lembrava, menos conseguia compreender.
    - Eii, você tá bem?? Tá tremendo garota, fala comigo!!- sua fala fez eu recuperar a consciência e mexi a cabeça sinalizando que estava bem.
Fomos calados até a descida no meu ponto, ele ficou me analisando tentando compreender o que havia acabado de acontecer, e até eu tentava entender, como eu iria explicar a ele que nem eu compreendia aquilo, que não conseguia ver o rosto do homem, que aquilo me atormentava. Como iria contar isso sem provas para confirmar minha tese?
Quando desci, praticamente corri pra casa, entrei embaixo do chuveiro e fiquei até o anoitecer completo, sem compreender nada daquilo, porque essas lembranças estariam voltando a tona? O que as manifestavam? O que eu poderia fazer para melhorar essas crises?

Confissões de uma garota aparentemente normalOnde histórias criam vida. Descubra agora