Capítulo 04

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— Oh merda...— Quando percebi o que havia dito, coloquei a mão sobre a boca, mas fiquei aliviada por ter falado em minha lingual nativa.

— Merda? Achei que tivesse achado meus olhos lindos. — Caspian parecia realmente magoado com a minha fala e se não fosse pelo meu nervosismo, não teria percebido que ele me entendeu perfeitamente e tentaria consola-lo de novo.

— Você me entendeu? Fala português?!

— Não. Mas o que isso tem haver?

— Foi uma gíria. Me desculpe. As vezes dizemos a palavra quando somos pegos de surpresa. Mas como conseguiu entender se falei em minha língua nativa?

— Sereias viajam o oceano inteiro e temos memória muito boa, aprendemos rápido a entender os idiomas debaixo da água. Não sabemos falar todos, mas compreendemos o significado.

— Isso é incrível!

— Acha mesmo? — Os olhos azuis claros como o mar do Caribe, brilharam em resposta a minha fala.

— Claro! Imagina ser bilíngue? Mesmo que não seja de maneira proposital, ainda é legal.

— Qual linguagem mais aprecia? — O tritão desceu alguns degraus, se aproximando mais de mim, como uma criança curiosa perto de um peixe no aquário para entende-lo melhor. — Prefiro o Francês! É uma língua tão romântica!

— Mesmo falando português, prefiro o Espanhol. Acho uma língua muito quente, sedutora, sabe?

— ¿Podría acompañarme la señora de los hermosos ojos oscuros? — Ao ouvir sua pronúncia perfeita e até com os pequenos detalhes do sotaque espanhol, me vi mais encantada ainda por aquele belíssimo tritão.

— Você disse que sereias não falavam outra línguas.

— Não. Disse que não falamos todas as línguas que ouvimos no oceano. Espanhol é minha segunda língua materna, já que minha mãe é espanhola. — Uma curiosidade me afrontou com tanta força que quando percebi, já tinha feito a pergunta.

— Não sabia que sereias nasciam em países diferentes. Pensei que por serem do mar...não tivessem cidadania. — Arregalei os olhos para minha própria atitude e bati levemente em minha boca. — Quer dizer...bem, eu...me desculpe! Não sei porque disse uma coisa dessas. Claro que vocês tem direito de serem cidadãos de onde quiserem! Me desculpe! — Vendo meu embaraço, Caspian riu para minha bagunça, se contendo em pequenas gargalhadas.

— Calma, Astrihi. — A palavra ficou presa na minha mente, como cola.

— Do que me chamou? — Mas Caspian não me respondeu essa pergunta e simplesmente a ignorou.

— Nossa cidadania é dada de acordo com a localização do nosso nascimento no mar. Minha mãe nasceu em águas espanholas, já eu nasci em águas canadenses. Por isso sabemos a língua do país, principalmente depois de entrar na creche, que é onde somos introduzidos no mundo humano e colocados para adoção.

— Uou! Quanta informação. Bom, respondendo a sua pergunta em espanhol, eu aceito te acompanhar. Preciso arrumar minhas malas. — Caspian assentiu com a cabeça para mim e voltou a subir os degraus. Decidi me aproveitar de sua companhia para fazer mais perguntas, mesmo que sentisse certo receios com algumas mais pessoais. A vida daquela bela espécie me deixava curiosa. — Mas se você foi adotado pela senhora Barbara, como sabe de sua mãe? — Seus passos se estagnaram pelo percurso, como se algo o estivesse impedindo de continuar a caminhar. — Tudo bem?

— Minha mãe, assim como provavelmente as de todos os outros tritões, foi embora muito jovem e me largou na praia, para ser cuidado por quem me achasse. Barbara e Jeorge se comprometeram comigo e me colocaram na creche, para que eu me adaptasse aos humanos e a essa terra.

Um Amor Em Águas SalgadasOnde histórias criam vida. Descubra agora