Bem-vindo a selva

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                   Bem-Vindo A Selva


Me colocaram deitado em uma cama bem estreita, como um quarto de manicômio. Não conseguia levantar nem que eu quisesse, mesmo assim meus pulsos e tornozelos continuavam amarrados. 

Um homem loiro usando jaleco branco entrou na sala se aproximando de onde estava. Não parecia ter mais de trinta anos. 

— Peço desculpas pelo tratamento rústico que acabou de sofrer. Essas pesquisas não são financiadas pelo governo, e nossa prioridade nunca foi gastar com anestesias — Seu tom era suave, mas parecia rir da minha situação. — Fico surpreso que ainda esteja vivo, são poucos os que conseguem viver tantos minutos após o soro ser aplicado. 

Cada parte do meu corpo doía, era como se houvesse sido fatiado por dentro. 

— Que tipo de pesquisas? O que foi aplicado em mim? — as palavras saíram arranhando minha garganta e umedeci meus lábios secos com a língua. 

— Isso já foi feito antes, mas nunca houve cem por cento de sucesso. Os que conseguiram sobreviver a dosagem, acabaram enlouquecendo gradativamente, alguns levando mais tempo que outros. Foi posto em seu sangue um soro biológico, que tende a melhorar seus sentidos, tato, olfato, audição, visão, paladar. Aumenta seus reflexos e se tivermos sorte, você irá desenvolver mais do que apenas essas básicas habilidades, quando e se, o soro ativar qualquer gene mutante encontrado em seu DNA. Isso varia em cada indivíduo — Quando ele falou a palavra "tivermos", sabia que eu não estava incluído nesse "nós". 

Não sei o que era mais aterrorizante, a possibilidade de enlouquecer, o fato de que era uma cobaia à mercê de outros ou não saber qual a finalidade de tudo aquilo. 

— Pra quê? 

— Se eu fosse você, tentaria dormir um pouco — Ele caminhou até a porta e partiu trancado-a silenciosamente atrás de si. 

Continuo puxando meus pulsos e pés, mas é totalmente inútil, minha pele apenas fica cada vez mais avermelhada onde está o couro sintético que me prende. Mesmo assim prossigo, com a dor queimando por dentro, chega a ser quase impossível permanecer imóvel. Tento pensar em outras coisas e tirar minha atenção da dor.  

Pensar em meus pais parecia consequente. O modo como eles agem, como se seguissem uma cartilha. Quando mamãe me abraça, algo nela me diz que isso é feito como uma obrigação para ela. Algo que ela acha que deve fazer, mas que realmente não quer fazê-lo.

Nunca me permiti acostumar ao cheiro dela ou o do papai. Pois todas as vezes em que tentei por acreditar que eu precisava, precisava de cheiros que deveriam me reconfortar, meus instintos discordavam, como uma auto preservação que eu não podia, nem queria lutar contra. E me sinto culpado por não querer lutar contra. Eu me pergunto se tudo não é só coisa da minha cabeça. 

Aceitei que minha família é o quebra-cabeça e eu, a única peça que não se encaixa, que não os entende. O pedaço que veio no pacote errado. Mas praticamente me comercializar é algo tão gelado, que nem Sr. Oki, o meu quase vizinho que idolatra o seu gramado e consequentemente me odeia depois que eu — quase — sem querer passei com os pneus esquerdos da caminhonete por cima de sua plantação verde, faria. 

Me pergunto se todos os outros estão passando pelo mesmo que eu. Mesmo Sasuke, Sasori, Sai, Neji e Suigetsu. Honestamente, apanhei mais do que bati de volta, isso sem dúvida, mas mesmo assim, eu não os queria passando por aquilo. Eu não queria ninguém passando por aquilo. Nem mesmo eles, muito menos Deidara, Sakura e Hinata. Pois é desumano. 

A verdade era que o sono não vinha, a dor provavelmente não o deixava vir. Passei a noite acordado pensando em todo tipo de coisa. 

Devia ser manhã, como ali não havia janelas, não tinha certeza. Dois alfas me fizeram andar pelos corredores brancos que passei a odiar, até alguém colocar um saco de tecido preto sobre minha cabeça. Aquilo fez um frio subir na minha coluna vertebral.

Garotos EstranhosOnde histórias criam vida. Descubra agora