01| DEGUSTAÇÃO

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Levanto o rádio comunicador até próximo à boca, onde seu chiado distintivo se mescla à complexidade da noite nortuna ao meu redor

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Levanto o rádio comunicador até próximo à boca, onde seu chiado distintivo se mescla à complexidade da noite nortuna ao meu redor. O vento gelado acaricia meu porte enquanto fecho os olhos ligeiramente, permitindo que minha língua deslize pelo céu da boca antes de articular as palavras:

- Busca minha mulher. É pra tu brotar agora na casa da amiga dela, ela tá na Bryana. Você sabe onde é, na rua da adega... - Inspiro o ar frígido, sentindo minha cabeça latejar, e estreito meus olhos, continuando. - É pra levar ela pra Penha. Com cuidado, se eu souber de alguma gracinha é você e eu, neguinho. Não deixa ela sozinha, ela não quer ficar sozinha. Mas não é pra ficar cercando, e se você ficar olhando muito, eu vou saber. - Anuncio, o tom ríspido e possesso da minha voz ressoa enquanto abro meu olhar.

Deslizo minhas íris escuras pela paisagem que se desenrola diante de mim. Afastado, observo as sombras se movendo: meu pai, Dumal e Bagdá - enquanto estou parado na rua em frente à minha casa -. Aperto o olhar gradualmente, acompanhando de longe a interação dos três. Enquanto Róger gesticula, cruzando os braços sobre o peito, Bagdá está atento, absorvendo cada idéia que Dumal pronuncia.

Minha cabeça não para um segundo sequer, compadre! Está girando como se estivesse prestes a explodir. Essa porra está acontecendo rápido demais, e é a prova de que não estou errado em confiar nos meus instintos.

Eu sabia que aquela tatuagem tinha alguma ligação! Que tinha história por trás, mas é uma coincidência fodida ser justamente ligada a ela. Quando ela descobrir toda essa lambança de mentiras que acreditou por anos, ela vai se fechar mais, vai se sofrer. E se essa desgraçada acha que, por ser avó dela, eu não vou enfiar uma bala no crânio dela, está muito enganada. Eu faria algo muito pior!

A única vez que lembro de Layla mencionar algo sobre sua paternidade foi raro. Mas me recordo dela ter falado que, em algum momento, quis conhecer, e a maldita da avó dela negou. Dumal está praticamente morto, esse idiota sabe lidar como a porra no tráfico, mas quando se trata de assumir a responsabilidade, é um completo imbecil. Está vivo, mas morto de tão burro que é.

O único ponto positivo em toda a vida inútil dele foi ter sido o responsável pela vida dela ao mundo. Tirando isso, não é nada. Já pode morrer.

Com um movimento preciso, pressiono meu polegar no botão de desligar, localizado no canto superior direito do rádio comunicador preto. Subitamente, sinto um golpe perfurando meu peito, cortando a carne do meu coração como uma lâmina afiada, e um grunhido ríspido escapa da minha garganta, enquanto dou alguns passos para trás, sentindo o latejar forte pulsar em meu cérebro enquanto fecho as pálpebras com firmeza.

DEPOIS DA VERDADE - PRÉVIA Onde histórias criam vida. Descubra agora