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Sabe quando você está na escola e aprende que existem comoponentes químicos que sozinhos não fazem mal a ninguém, mas juntos... são letais?
É assim que eu sou com o Noah.
Quando estamos juntos, pegamos fogo, e queimamos todos a nossa volta.
Mas por algum motivo, não conseguimos ficar longe.
É o que eu estou pensando quando chego no Enigma e vejo a moto dele estacionada na frente do local.
A moto dele parece um pavão. Enorme. Preta e azul. Com um nome pornografico na lateral.
Não brigo com a Sarah por não me contar que ele estaria aqui, ela sabe que eu não viria há cem metros de onde ele está.
Ela segura em minha mão, enquanto atravessamos a rua. A balada está lotada, com fila virando a esquina, mas passamos direto com a pulseirinha fidelidade. Todos nossos amigos batem cartão aqui, seria impossível esperar todo fim de semana.
Quando entramos está tocando um funk alto que explode em meus ouvidos, mas de um jeito bom.
Olho em volta a procura do Caio. O encontro encostado em uma pilastra. Interrompo o caminho que Sarah está fazendo rumo ao camarote.
-- Pode ir. Preciso falar com alguém.  -- Aviso.
-- Eu vou com você. -- Sarah diz animada, mas eu logo a interrompo novamente.
-- Não. Você vai, depois nos encontramos.
Sarah acaba indo, meio a contra-gosto. Eu me expremo no meio de tanta gente, tentando com afinco passar para onde o Caio está. Os perfumes explodem junto as batidas, e as vozes, risadas, o calor humano, chega a mim como uma rajada.
Assim que chego, Caio me cumprimenta com um sorriso.
-- Julie. O de sempre? -- Pergunta. Eu confirmo.
-- Fico surpresa do seu chefe não ter proibido a venda ainda. -- Comento, pegando a latinha que ele me passa. Entrego o dinheiro para ele e olho em volta.
Nada dele ainda.
-- Ele não precisa saber de onde está vindo o dinheiro. -- Caio retruca.
O que ele quis dizer é que Romeu não precisa saber que o dinheiro vem da família Balestrini. Um Dutra odiaria tocar nas nossas notas de dinheiro, mesmo que isso significasse morrer de fome.
-- Valeu, Caio. -- Agradeço.
Passo no meio de tantas pessoas, subo as escadas, e entro no camarote da Sarah. Meus olhos são mesmo que sem a intenção, voltados para Romeu. Ele está sentado no divã, fumando narguilé. Passo por ele, sentindo seu olhos queimando todos os cantos do meu corpo.
Me aproximo da Sarah e abro um sorriso gentil.
-- Aqui está muito cheio. -- Digo. Para passar o tempo. -- Acho que preciso tomar água.
-- Sua pressão baixou? -- Sarah pergunta. Ela é meiga, gosto dela. Mas definitivamente temos uma distância grande entre nós desde...
  Faço um sinal que sim com a cabeça.
-- Pode pegar água pra mim? -- Peço. A loira concorda rapidamente, e desaparece do camarote. Eu balanço a lata com fervor e a levo até o meu nariz. O cheiro forte de perfume impregna em todos os cantos da minha mente. Eu inspiro com força, mas sei que não vai adiantar de nada.
Uma movimentação atrás de mim, quase ganha minha atenção, mas não o suficiente.
-- Que porra é essa na sua mão? -- Romeu pergunta. Ele é minha cocaina.
Encaro o moreno, alto demais, irritado demais, bonito demais a minha frente.
Abro um sorriso cinico que o faz erguer uma sobrancelha.
-- Vou deixar você adivinhar. -- Retruco.
Romeu se aproxima de mim, tampando qualquer sinal de luz que pudesse ter no camarote. Tudo se estingue perto dele.
-- Aposro que seu avô teria um ataque do coração se visse a netinha drogada. -- Sua voz se torna lenta, arrastada, enquanto ele se aproxima mais. Sua mão se prende em minhas bochechas. Apertando.
-- Você é um merda. -- Cuspo. -- Ou acha que sua avó, tão devota -- Sua mão se fecha mais em minhas bochechas. Incomoda. Como o que sinto por ele. -- iria se orgulhar do neto vendendo essa merda?
-- Mas você gosta dessa merda, né? -- Romeu pergunta, e eu não sei se está falando dele perto de mim, ou do lança perfume. Para me tirar dos meus pensamentos ele aperta mais minhas bochechas. A pressão acaba cortando. Sinto o gosto de ferro em minha boca.
  Com a mão livre, Romeu abre a minha boca a força, passeando o dedo pelos meus lábios.
-- Ss acha tão forte, tão esperta... -- Romeu brinca com as palavras, enquanto brinca comigo. Ele tira um canivete do bolso de trás da calça, olha para trás chamando um amigo, que aparece com um lança perfume e cocaina. O pó branco arregala os meus olhos. Ele pega uma quantidade de dois tiros com a ponta do canivete e me encara com o sorriso mais malicioso que o ja vi em seu rosto.
-- Abre mais a boquinha. -- Me recuso a obedecê-lo. Ele coloca o pó na minha língua, pressionando a ponta do canivete forte o suficiente para cortar. A mancha de carmim mancha o que deveria ser cocaina e eu chuto o joelho dele. Minha boca tem uma mistura horrível de pó, sangue e baba. Cuspo na cara do Romeu, com raiva.
-- Vai se fuder. Você acha que eu não sei que essa porra é diluída? -- Questiono, abrindo um sorriso vermelho. -- Que o lança tem só perfume? Eu não sou burra.
-- Somelier de drogas, talvez? -- Romeu tomba a cabeça ainda sorrindo.
-- Você é um merda. -- Respondo. Romeu enxuga a mancha vermelha em seu rosto, mas ainda está ali. -- Eu só continuei comprando essa porcaria pra ver até onde você iria fingir.
Assim como eu, ainda estou marcada para sempre na vida dele.
O empurro novamente, e passo por ele, saindo do camorote. Descendo as escadas as mãos frias de Sarah me interrompem.
-- Ei! O que aconteceu? Onde você vai? -- Sarah pergunta, preocupada.  Eu acabo suspirando fundo, enquanto me solto dela.
-- Não enche. Vou embora. -- Aviso.
-- A-agora? -- Pergubta, confusa. -- Vou pegar minhas coisas, vamos juntas.
Confirmo com a cabeça, e assim que ela desaparece no mar de pessoas dentro da balada, eu escapo para fora. Minha boca ainda tem um gosto terrível, mas o sentimento em meu peito de angústia é pior.
Peço um uber para a faculdade, não entro nela, no entanto saio do carro de aplicativo e ando até o ponto de ônibus meio abandonado na esquina.
Ruan, um cara com cabelos loiros, apesar de pele negra me recebe não muito contente. Isso me surpreende, normalmente ele abre um sorriso cativante ao me ver.
-- Tudo bem? -- Pergunto, entregando para ele uma nota de cinquenta. Ruan me observa, com o corta vento fechado, mal consigo ver seus olhos na penumbra.
-- Rala, Julieta. -- Ruan se levanta e começa a caminhar para trás da faculdade. Eu não entendo o motivo da frieza, então me balanço a cabeça e o sigo.
-- O que é? -- Questiono.  -- Eu pago essa porcaria, porque não quer me vender?
Ruan me olha, como se eu soubesse de algo, como se eu estivesse sendo cinica. Eu me encolho. Ele se vira repentinamente, anda até mim, e tira o celular do bolso. Mexe nele, e me mostra a foto de um cara de uns dezoito anos. Multilado e com marcas de espancamento por todo o corpo.
-- Recadinho do seu namorado. -- Ruan informa. -- Não vendemos mais drogas pra você.
-- O que? -- Meu coração dispara. -- O Romeu fez isso? Eu cuido dele, pode dei
O som foi ensurdecedor, mas o impacto de sua mão estapeando minha bochecha esquerda com força suficiente para me fazer cair me choca muito mais.
Caio no chão de bunda, as mãos segurando minha queda. aperto minhas mãos, esperando minha visão clarear.
-- Não volta, ou vai ser pior.
Ruan avisa antes de desaparecer no escuro. Levo minha mão até a bochecha, sentindo ainda, o local quente, fervendo. A vontade de chorar me inunda. 
  Mas me recuso a ficar aqui, No chão.
Me ergo, com dificuldade. Pego meu celular, trêmula e ligo para Romeu.
Primeiro toque. Segundo toque. No terceiro ele me atende.
-- Onde você está? -- Pergunto.
-- Olha para a esquina do bar. -- A voz do Romeu é grave, baixa, é veneno.
Me viro, olhando para a esquina do outro lado da rua. Encostado no poste, Romeu me encara, seus olhos escuros parecem... mais escuros. Mesmo que isso seja impossível.
Seus amigos estão recostados na parede, me olhando.
Claro que ele está aqui.
Romeu conhece cada passo da minha mente. Sabe onde me encontrar. Sabe pra onde eu vou.
Guardo o celular no bolso, e atravesso a rua, pouco me importando se existem carros passando.
Miro na moto azul primeiro. Azul e preto. A cor favorito do Romeu.
Meu grito é como um rompante ensurdecedor na madrugada silenciosa que se arrasta.
Eu chuto a moto, mas não é o suficiente para ela cair, então continuo chutando, gritando.
Pelo canto do olho vejo a hora em que os amigos do Romeu fazem menção de vir me parar ao ver que estou arranhando, chutando e rasgando a moto deles. Mas é necessário apenas um sinal de mão do Romeu, para que eles parem.
-- Deixa ela quebrar porra! -- Romeu grita.
-- É minha moto, Romeu. -- Um choraminga
-- Se encostar um dedo na Julieta, eu acabo com sua raça. -- Romeu avisa para todos.
Trocamos olhares raivosos. Mas não é assim que o amor funciona?

ROMEU E JULIETA - RACERS 2Onde histórias criam vida. Descubra agora