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Trouxe Romeu para a casa da Sarah. Não existe a possibilidade dele chegar no meu condôminio e meu avô não ser avisado do outro lado da terra.
Planejei deixar ele sozinho na garagem. Mas eu sabia o caminho inteiro que acabaria como das outras vezes. Romeu me pedindo pra ficar, e eu cedendo.
Assim que chegamos ele passou mal, vomitou o quarto inteiro da Sarah e me obrigou a abraçá-lo por um minuto antes de me deixar dar banho nele.
-- Que merda. O quarto está fedendo. -- Estou em pé, na ponta da cama. Romeu está sentado, seus dois braços a minha volta. Me apertando. Seu rosto está encostado em minha barriga. Seus olhos estão fechados, porque Romeu está tonto.
-- Porque você é um porco nojento que vomitou em tudo. -- Respondo. Meus braços estão parados ao lado do meu corpo. Em parte porque sei como termina quando toco no Romeu, em parte porque sei como ele é fissurado em ser abraçado. Por mim. Exclusivamente meus abraços.
-- Eu já disse que foi sem querer. -- Tenta se defender com. a voz arrastada, as letras trocadas, e o cheiro ácido de vodka e vomito.
Uma batida na porta me desperta a atenção. Sarah entra, um pouco desconfortável. Está vestindo um vestido florido que mais parece uma camisola, não fosse as ombreiras. Roxo. Combina com ela.
-- Julie, eu chamei umas pessoas pra uma comemoração pequena aqui em casa -- E não me chamou. -- E sei que você não gosta de ser vista com o Romeu... Então...
-- Não vão nos ver. Não vou sair do quarto. -- Respondo.
-- Nem eu. Só preciso da Julieta, um filme de velozes e furiosos e não vou mais vomitar. -- Romeu diz com muita dificuldade, ainda sem se afastar de mim.
-- Ainda acho melhor se vocês forem embora. -- Sarah diz enquanto mexe no vestido rodado.
Suspiro fundo. Romeu bem lentamente afasta seu corpo de mim, deixando um frio onde ele estava. Um vazio irritante. Ele mal abre os olhos, mas ainda consegue ver Sarah. Pega suas mãos com dificuldade e faz um biquinho horrendo que me faz querer cobrir o vômito dele com o meu.
-- Por favor, Sarinha. -- Pede. Sarah fica corada, tenta esconder o rosto entre as madeixas loiras mas não funciona. Ela acaba fazendo que sim, e simplesmente saindo do quarto.
-- Vamos tomar banho. -- Falo, rígida. Romeu abre um sorriso inocente olhando pra cima.
-- Você está me chamando pra tomar um banho? -- Pergunta, e da risada. Eu puxo ele, e ele me ajuda se levantando. Levo ele para o banheiro pequeno demais para um garoto meio maromba de 1,96 e uma garota meio gorda de 1,62.
Romeu deixa seu peso cair sobre mim, tenho certeza que foi de propósito. Tenho. certeza que ele não se afasta, mas poderia se quisesse.
-- Não é assim que se impede erros de acontecerem. -- Romeu murmura baixinho.
Eu o ignoro, desço minhas mãos por seu corpo, e começo a puxar sua blusa por cima da cabeça. Da um trabalho enorme, mas consigo.
Os desenhos na sua pele aparecem. Já os conheço. Estava la quando Romeu o fez. Quando fez meu nome dentro da boca também.
Romeu tem o peitoral fechado com diversos desenhos, coração, anjos, demônios, Zeus, pássaros, chave, gaviões, cupidos. Uma poluição visual. Mas não tem nenhuma nos braços, ou outra parte do corpo. Sua costa também é fechada com um diversos anjos e estátuas. É difícil entender todos os desenhos.
Abro seu cinto, jogo o no chão, e tiro suas calças. Fico tranquila, pois sei que ele não vai ficar duro com nenhum movimento meu. Quando ele bebe, vira um brocha. Mas se eu disser isso em voz alta, ele vai chorar como um bebêzão.
Sei que o box de Sarah é grande para nós dois, mas não estou afim de me molhar, então saio da frente dele, e fico esperando que ele entre.
Mas é claro que ele não entra. Não sem mim.
Parece que estamos dançando uma coreografia que repetimos muitas vezes. Eu suspiro. Romeu sorri. Tiro minha roupa, e ele me joga a blusa dele. Eu prendo o cabelo, e ele fica me encarando como um gavião.
Como ele consegue me deixar envergonhada se é ele que está sem roupa?
Só então ele se levanta, cambaleando muito, e entra na banheira.
Eu sento na beirada, e pego o sabonete líquido. Começo a ensaboar Romeu, enquanto ele joga a cabeça para trás e quase adormece.
Sei que em algum momento ele vai me jogar dentro da banheira com ele, entao corro para quando isso acontecer, ele já estar limpo. Passo a mão por seu corpo, ele é magro, mas tem músculos por toda parte. Machucados também. Eu cresci vendo esses músculos serem feitos, então não me impressiono com eles. A quantidade de vezes que eu preciso dar banho nele também já me fez acostumar com um cara tão gostoso praticamente pelado na minha frente. Quando chego perto de suas partes, no entanto, eu sempre coro, por isso deixo quase por último, porque normalmente ele já está dormindo. Exatamente como está agora.
Depois de mais esfregadas por toda parte, Romeu exala perfume de quem acabou de tomar banho. Então acordo ele para lavar seu cabelo. Romeu se ajeita, ficando ereto e deixando sua cabeça mais próxima, eu passo shampoo e estou ensaboando quando suas mãos se agarram em minha cintura e ele me puxa para dentro do banheiro.
Eu abafo um grito para não chamar atenção dos convidados da Sarah. Meu coração está acelerado e eu um pouco trêmula.
A água está morna, e o corpo do Romeu quente. Estou entre suas pernas, com meu corpo rente a sua barriga.
-- Porwue você é tão chato? -- Pergunto respirando fundo.
Romeu apenas fica calado. Suas mãos estão em seus joelhos que precisam ficar um pouco levantandos para eu caber aqui.
Ele se aproxima, seu rosto ficando a centímetros do meu. Então ele murmura ao pé do meu ouvido.
-- Vem aqui. -- Romeu não precisa pedir muitas coisas pra mim. Quase tudo que sou é dele.
Eu me ergo, e me viro ficando de frente pra ele. Romeu junta as pernas, e eu me sento em seu colo, enroscando minhas pernas em seu quadril e agradecendo pela banheira da Sarah ser tão grande.
  Romeu é tão grande que mesmo sob seu colo, e ereta, enquanto ele está relaxado, ele é maior que eu. Alguns centímetros, mas isso sempre me surpreende.
-- Porque bebeu hoje? -- Pergunto, mexendo em seu cabelo, para poder lavar.
-- Dominic. -- Mas Romeu não termina de contar, então eu o belisco, para que ele continue.
Pego o Shampoo e coloco um pouco em sua cabeça.
-- Me proibiu de participar do racha no dia que eu tiver bebido. -- Romeu balança a cabeça igual um cachorro, jogando água em mim.
Seus olhos são focados em minha boca.
-- Caralho. Seu cheiro é tão bom. Chocolate é algo... salgado. -- Romeu me aprisiona em seus braços. Me apertando contra si. Eu lavo seus cabelos em silêncio. Meu peito ardendo.
-- Você não deveria dirigir bebado. -- As palavras saem enquanto eu lavo as madeixas escuras com condicionador.
-- Eu sou melhor que qualquer um dos seus amiguinhos.
-- Mas eles andam de moto.
-- Eu seria melhor andando de moto também.
-- Só porque você não é tão ruim de carro?
Romeu explode em uma risada. A mesma de quando éramos crianças. A mesma de quando ele me viu acusar uma senhorinha cega de peidar, mesmo quando era eu. A risada que ele nunca mais me deixa ouvir quando está sóbrio.
-- Lembra de quando estávamos na formatura do nono ano e você queria entrar de salto alto...
-- Eu treinei por meses.
-- E você caiu de quatro na frente dos professores...
-- Meus joelhos nunca mais foram os mesmos.
-- Eu tive que ir te ajudar
-- E você caiu também. -- Completo sorrindo ao ver a alegria dele.
Suspiramos juntos, enquanto eu defino que o banho terminou.
Ele já está limpo o suficiente.
-- Agora você vai se secar, se vestir, e vai me encontrar no quarto. Vamos dormir e amanhã... -- Abro um sorriso triste. -- Amanhã voltamos a nos odiar, meu amor.
O silêncio entre nós, faz o barulho da água e das pessoas falando do lado de fora do nosso mundinho se tornar inquietante.
Romeu volta a ser o garoto triste que odeio. Volta ser tudo diferente do que somos. Mas ainda está me abraçando, ainda está respirando perto do meu pescoço. o dificuldade.
-- Julieta, eu queria voltar. Antes de tudo. -- Romeu me encara com os olhos sinceros. Apesar de vermelhos. -- Queria que você fosse minha. Como antigamente.
-- Romeu...
-- Minha Julieta. -- Romeu sobe a mão esquerda, fazendo carinho em meu rosto. -- Queria você colada em mim, o tempo todo.
-- Eu também. -- Murmuro sentindo um nó na garganta. Abraço Romeu, escondendo meu rosto em sua clavícula. Queria beija-la, como eu fazia antes.
Droga.
Queria que eu não fosse a Julieta, e ele não fosse o Romeu. Queria que eu não fosse uma Balestrini e que ele não fosse um Dutra.
Ah, meu amor.
Queria que fôssemos apenas Julie e Romy.

Quarenta minutos mais tarde, Romeu está mais sóbrio, então já consegue andar sozinho, mas está passando mal, então ainda me prende a ele. Não mais fisicamente. Deixei que ele fosse primeiro para o quarto e tomei meu banho. 
Mesmo que eu não queira sou levada em uma viagem nostálgica sobre nossa amizade.
Quem diria que os Dutra teriam os contatos para colocar Romeu na melhor escola de São Paulo desde cedo?
E como meu avô, senhor Roberto Balestrini não verificou todos os nomes na lista da sala de aula da neta?
Foi assim que nos conhecemos, quando eu encuquei que queria dormir com o cobertor do Romeu. Não o meu, rosa cheio de flores bregas, eu queria o azul com raios dele.
Logo o Romeu, que odeia dividir até o ar que respira, deixou a menina de cabelos cacheados tomar seu cobertor e babar ele inteiro.
Meus pais só foram descobrir que a filha deles era amiga de um Dutra sete anos mais tarde. Onde eu e Romeu já sabíamos que nossas famílias se odiavam e escondíamos muito bem que éramos amigos. Mas nós esquecemos de mentir a data da festa de dia das mães para a minha família, resultado, a família inteira se encontrou.
Foi... caos.
Meu avô acusando o tio do Romeu, o pai dele vindo para cima da minha mãe, e nós dois assustados.
Naquele dia, Romeu fez a coisa mais idiota da face da terra. Me deu um anel que ele roubou da mãe, e prometeu que iria me encontrar.
Nos dois tínhamos doze anos. Meu avô conhecia muitas pessoas e conseguiu tirar o Romeu da escola. Quando voltei a ver Romeu, tínhamos quinze anos.
Ele me achou.
Na porta de uma lanchonete. Sujo do trabalho. Com o semblante cansado. Mas seus olhos.... Eles brilhavam por mim.
Definimos que com certeza éramos almas-gêmeas. Destinados. Por dois anos, eu via Romeu quase todos os dias.
Ate que os pais do Romeu morreram. Eu o ajudei, claro, fugi de casa por um mês, fiquei ao lado dele, e ficaria de novo, mas a morte dos pais dele trouxe um amargo novo para nossa vida.
A mãe de Romeu, Sálvia Dutra era autora. Havia escrito uma biografia, que contava como sua família decaiu para o fundo do poço. O problema é que ela acusava os meus pais de coisas... Enfim, como seu último desejo, ela pediu que a avó do Romeu publicasse. Meu pai, governador implorou que a família Dutra não manchasse a nossa imagem, mas foi em vão.
Até esse ponto, eu e Romeu apenas fingíamos que não era sobre nós, estávamos tão errados. Tudo o que aconteceu depois provou que quando duas famílias se odeiam, não há nada que possa crescer dali que seja bonito.
Saio do banho, e visto uma roupa da Sarah, me aproximo da cama, e noto que Romeu ainda não dormiu, ele está deitado encarando o teto.
-- Vou ter uma apresentação de um edifício ergonômico na quarta. Você vem? -- Romeu pergunta. Eu engatinho na cama, e dou um tapa nele. Romeu se ajeita na cama, se sentado e se encostando na cabeceira. Eu sento em seu colo, enrolando minhas pernas em seu quadril, novamente.
-- Não. -- Respondo, e Romeu suspira.
-- Porque não pode fingir que se importa? -- Eu te amo, canalha.
Romeu segura com força meus dois braços, apertando, fazendo marcas em mim, me fazendo sofrer.
-- Porque você não se importa?
-- Vai se fuder! -- É minha resposta em meio as lágrimas que cercam meus olhos. Romeu me empurra, e depois cruza os braços sobre o peito. Sei que seu humor questionável está voltando, então suspiro fundo, engolindo a força a vontade que tenho de revidar.
-- Acho melhor irmos dormir agora. -- Murmuro, e saio de cima dele.
Antes que meu corpo toque o colchão, com um reflexo muito rápido, Romeu segura minha cintura e joga o peso do próprio corpo sobre mim, me aprisionando de baixo dele. Meus olhos buscam imediatamente os olhos dele.
Estamos ofegantes, e eu arisca.
-- Cai fora, ou eu...
Romeu sela nossos lábios rapidamente, sequer escutando o que eu disse, nem prestando atenção em mim.
Sua boca é macia, molhada, quente, conhecida. Mas sei que ele não está me beijando, e sim a Julieta de quinze anos. Ainda sim, retribuo as carícias de sua língua, enroscadas na minha.
Romeu vira meu rosto, e desce seus lábios, dando beijos e mordidas pela extensão do meu pescoço. Causam uma sensação de formigamento no pé da minha barriga. Sua mão esquerda passeia pela minha cintura, mas começa a descer, lenstamente. E hoje, há algo diferente na atmosfera, então eu simplesmente interrompo seu fluxo de beijos, virando o rosto. Romeu percebe que não estou mais reativa e suspira fundo, enquanto me solta, soltando o peso do corpo sobre mim.
Não preciso dizer que quero dormir, pois Romeu volta ao seu lado lado da cama, e me puxa para cima dele. Nossos rostos se encontram por um momento, mas logo me arrumo, descendo mais. Gosto de dormir ouvido o coração dele bater. Então encosto o meu ouvido em seu peito, e me enrosco inteira nele. Meu cabelo molhado chama sua atenção e ele faz carinho ali, enquanto eu adormeço.

ROMEU E JULIETA - RACERS 2Onde histórias criam vida. Descubra agora