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Acordo com Sarah me chamando com vigor. O sol adentrando as janelas. Sarah está debruçada sobre mim, com um sorriso de orelha a orelha.
-- Bela adormecida, como foram os sonhos? -- Pergunta.
Não preciso olhar para saber que Romeu caiu fora há muito tempo. Não preciso olhar para dentro de mim para saber que estou novamente com o coração sangrando. Mas me forço a abrir um sorriso tão bonito quanto o da minha amiga.
-- Como foi a festa? -- Indago, me levantando. Sarah se arruma em uma posição ótima, e bate em seu colo, pedindo que eu deite minha cabeça ali.
É o que eu faço. Então ela começa a contar todos os detalhes de como foi divertido. De como ela sentiu minha falta, e faz ótimos carinhos nos meus cachos enquanto isso. A vida da Sarah deve ser leve e tranquila, como eu gostaria que a minha fosse.
-- Foi tão engraçado Julie! O Jack, meu amigo, virou para a Rose, e quase vomitou em cima dela! -- Sarah conta em uma epifania de risos. Eu a acompanho.
-- Dvse ter sido ótimo.
-- Faltou você. -- Sarah confessa. -- Julie, eu preciso dizer.
-- Sarah, não começa... -- Imploro.
-- O Romeu não te faz bem! Quando vocês se juntam, se transformam em coisas horríveis, voces fazem tudo pegar fogo, prejudica -- Enquanto ela fala, eu me levanto. -- todos a sua volta. Eu sinto falta da minha Julie, quando está com ele.
-- De mim, ou do Romeu, Sarah? -- Pergunto, tombando o pescoço. -- Sente falta da sua amiga pateta que sempre está aqui, ou dos beijos macios que Romeu te dava, das mãos dele se enfiando na sua perna?
-- Julie! -- Sarah me encara triste. Com os olhos claros a beira d'água. -- Viu? Essa não é minha amiga.
-- Sarah, acho que você já entendeu muito bem que somos como um incêndio. -- Me levanto. O barulho da cama me incomoda. -- Se não quiser se queimar, melhor ficar longe.
-- Vai perder mais uma amiga por causa dele? -- Sarah pergunta, as bochechas molhadas. -- Eu só quero te ajudar.
-- Então não toca na porra do nome dele! -- As palavras saem da minha boca, enquanto eu me abaixo pegando minha bagunça do quarto. Saio de la batendo todas as portas que eu vejo. Sentindo como se eu tivesse pisando em fogo.
Como se eu fosse morrer sufocada se não fosse agora até o traficante mais próximo e injetasse dezenas de heroínas em meu braço.
Quando saio no sol meus olhos doem, frágeis, eu me inclino sob meus joelhos e arfo, sentindo o suor frio escorrer pela minha cabeça.
-- Julieta? -- Uma voz masculina desconhecida me chama. Eu ergo meu olhar para encontrar um garoto branco, com os cabelos escuros e grandes, um pouco ondulados. E olhos que retraem minha atenção. São azuis, extremamente claros. Como a cor do mar de manhã. O garoto usa óculos, e suéter preto.
Apesar dele saber meu nome, não o conheço.
Ele se aproxima um pouco preocupado.
-- Ei. -- Chama. -- Precisa de uma ajuda aí?
-- Acho que não foi uma boa ideia sair sem comer nada. -- Resmungo.
O garoto olha em volta, e me ajuda c tal qual uma velha atravessando a rua a chegar até o banco mais próximo. Me sento, e começo a sentir a palpitação no meu peito diminuir.
O garoto fica me encarando como se eu fosse morrer ou pior; vomitar em cima dele.
-- Eu te conheço? -- Pergunto.
-- Jack. Sou Jack e sim, você deveria me conhecer. -- Ele abre um sorriso que faz seu rosto inteiro parecer uma pintura super fofa.
-- Jack? -- O encaro. -- Como Titanic?
-- E você? -- Jack se senta ao meu lado. -- Julieta de Romeu e Julieta.
Faço uma careta confirmando.
Jack me entrega meu celular. Devo ter esquecido na casa da Sarah.
-- Quando você diz que eu deveria te conhecer?
-- Julie, eu faço artes cênicas. Sento quase atrás de você. -- Jack me olha como se fosse ridículo eu não lembrar dele, o que me faz ficar envergonhada. -- Agoea eu me senti pessimo.
-- Desculpe, eu não lembro o rosto de muitas pessoas e...
-- Trabalho de modulagem. Faz comigo e eu te perdoo. -- Jack pede, e eu abri um sorriso, concordando levemente com a cabeça.
-- Feito. Titanic.
-- Não vai me chamar assim, não é? -- Jack pergunta e eu escondo um sorriso.

Atravesso a porta do flat, vendo a paisagem dos prédios  com o sol refletidos neles. Suspiro fundo. Não sei o que fazer, então lembro do trabalho que prometi fazer com o Titanic.
Pego meu notebook, e me sento perto da bancada da cozinha, começo a rastrear ideias. Não sei muito bem qual o estilo de trabalho do Jack, não presto atenção em ninguém da minha sala. Sei o nome de três pessoas. E não sei nada sobre o trabalho delas, quem dirá o que Jack gosta de fazer.
Sarah me ligando tira minha atenção, fico olhando a tela do telefone enquanto a chamada cai. Suspiro fundo.
O que estou fazendo? Porque continuo indo atrás do Romeu.
Droga! 
Pego meu celular, sentindo o amargo na minha língua. Conheço bem o gosto do arrependimento.
Peço desculpas, e Sarah me pede pra abrir a porta, quando o faço, encontro ela, Jack e a Rose.
-- Vamos pro Club. -- Sarah avisa, entrando no apartamento e indo direto para a geladeira. -- Você está fedendo, vai tomar um banho.
-- Eu não acho. -- Jack implica com Sarah. Ele me encara com os olhos enormes que ficando ainda maiores com o óculos. Eu apenas sorrio. Agradecendo.
-- Não estou afim. Você sabe que o Romeu vai estar lá. -- Pego meu notebook e o coloco no modo tablet. Então o entrego ao Jack. -- Tive essas ideias para o trabalho. O que acha?
Fico esperando ele analisar todas as fotos juntas, mas pelo seu rosto, sei que ele não entendeu o que quero fazer.
-- É confuso. -- Acaba por dizer. Eu respiro fundo.
-- A arte é confusa.
-- É só um trabalho de argila, não precisam ir tão longe. -- Rose comenta, olhando por cima do sofá o tablet.
-- Eu não consigo ver a Julie fazer um trabalho como qualquer coisa. -- Sarah me defende. Nem olha no tablet. Ela confia em mim. Só me faz sentir pior pela forma como a tratei.
-- Jack? -- Chamo. Ele me olha, com os olhos que sempre parecem sorrir. -- Confia no meu trabalho?
-- Confio. -- Responde, sem pensar.
Abro um sorriso como resposta.
-- Merda! -- Rose joga uma almofada nele, que se desequilibra e cai no sofá. -- Deixem isso pra depois.
-- Vai se arrumar, Julie.
-- Eu não vou. Não quero ver ele. -- Repito.
-- Podemos ficar na pista. Você não vai ver ele. -- Jack oferece.
-- E hoje é aniversário daquele loirinho que namora. Duvido que ele vá estar lá. -- Rose informa.
Verdade.
Dominic faz aniversário hoje. Deve ir pra algum lugar que a namorada rica vai levar todos os amigos.
Depois que me convenceram, eu subi e vesti uma calça preta apertada e uma regata vermelha.
  Será que vou ver ele hoje?
Será que ele vai ter morrido e finalmente o que temos vai acabar?

  Quando atravessamos a entrado do club, e eu não vi a moto do Romeu, uma parte minha ficou em paz. Uma pena que eu me importe mais com a parte que começou a doer. Não olho na direção do meu ex-traficante, e ele também finge que não me vê. Melhor assim.
Vou até o bar com Rose, pegar alguns drinks, a verdade é que sem nenhuma droga, isso aqui fica muito chato. Muito chato!
Mas a graça deveria estar em curtir com meus amigos, por isso eu finjo que nada me incomoda e bebo meu drink, enquanto mexo meu corpo enquanto a música estronda a minha volta.
Rose com sua cascata de fios rosa claro está dançando com Sarah. As duas balançam a bunda em sincronia, oque me faz dar uma leve risada.
Enquanto estou me divertindo com elas, Jack se aproxima. Noto que uma loira há uns dez metros de nós, não tira os olhos dele.
-- Você namora? -- Pergunto, olhando dele para a loira. Jack, me encara, confuso, e depois nega veementemente. Me fazendo tombar a cabeça.
-- E porque não está beijando umas quinze bocas por minuto? -- Jack faz uma careta como se eu tivesse oferecido Sushi (a coisa mais nojenta que consigo pensar) e não uma porção de loiras peitudas muito interessadas nele.
Quando ele não me responde eu semicerro os olhos.
-- Você é gay? -- Pergunto, mas Jack parece até ter ficado ofendido por não parecer hétero. Acabo dando risada, mesmo sem querer.
De repente meu celular começou a vibrar, eu leio as mensagens de Romeu e tento ignorar, mas quanto mais eu danço com Sarah, e Jack, mais ele vibra no meu bolso. Eu respiro fundo, e decido o responder. Com um enorme xingamento.
Não preciso olhar para cima para saber que ele deve estar bebendo e encarando cada movimento meu.
Mas isso me deixa apreensiva.
Porque ele não está com os amigos dele? Porque ele não fica longe?
-- Você não parece bem. -- Jack grita no meu ouvido. Eu forjo um sorriso de canto.
-- Acho que vou pra casa. -- Decido. Chamo Rose, e Sarah para me despedir. Antes que o Romeu desmorone. Antes que eu acabe com ele de novo.
Me despeço delas, deixando minha bebida em qualquer lugar.
Quando estou prestes a me despedir de Jack, ele diz;
-- Eu te levo em casa. -- Eu faço menção de negar, mas ele já está me levando porta a fora. Quando saímos da boate, a brisa da noite nos alcança. Sinto a pressão em meu peito desmanchar.
Fecho meus olhos, e sinto meu corpo baixando a temperatura. É delicioso.
Mas logo volto a mim, com o som da risada do Jack. Ele está segurando o celular e o apontando em minha direção. Faço um coração, para a foto, e sorrio de leve.
-- Você deveria modelar! Uau! -- Me elogia, me fazendo dar risada. Jack ajeita os óculos e começamos a andar em direção ao ponto onde o motorista da Sarah nos espera.
O cumprimento e entro no carro, Jack me acompanha.
-- Quem era o cara te olhando do camarote? -- Jack pergunta. A pergunta de milhões. Com certeza, Jack não presta muito atenção em nada na escola. Eu, desconheço, alguém que não seja apaixonado ou odeie Romeu. Do sexto ano do fundamental, ao terceiro ano do ensino médio, todos murmuram o nome dele. O nome que mais odeio na vida. Fecho meus olhos, ao balançar do carro, finjo não ouvir sua pergunta.
Acho que depois de explicar para o meu avô, nunca mais tive que explicar quem é o Romeu. O que eu e ele somos. Na época, ainda tínhamos limites bem precisos do que éramos. Mas hoje... Romeu cura cada um dos meus machucados, depois os refaz. Eu acabo com cada pedaço da alma dele, e deixo que ele mesmo a conserte e me entregue novamente. Então cuido do seu corpo, e destruo tudo dentro dele.
Eu odeio Romeu, odeio tudo nele, odeio como ele faz meu corpo arder, doer, tremer e querer se desfazer. Quero que ele morra! Mas... Mas ficar sem vê-lo me deixa louca, adoecida.
Como explico isso para alguém? Que não consigo sair da teia de aranha que nos colocaram?
Realmente, devaneio o suficiente para não ouvir nada que Jack falou depois da pergunta, mas quando volto a mim, lá está ele, com aqueles óculos enormes, me encarando.
-- Vocês namoraram? -- Jack pergunta. Meus olhos se prendem ao espelho do retrovisor e encontro o olhar de pena do Davison. Motorista da Sarah, quase meu, tanto que eu dou pra ele um salário à parte, o coitado trabalha o dobro por minha causa. Então é mais que comum, ele precisar me ajudar a enfiar o corpo enorme do Romeu neste carro. Chorar com nossas brigas nesse mesmo banco em que estou sentada. E me carregar para casa da Sarah, quando Romeu liga e diz que eu estou mais chapada que uma usuária da Cracolândia.
E aí, Davi? Sabe explicar o que sou do Romeu?
-- Não quero falar sobre isso.
-- Podemos conversar outra hora. -- Jack da de ombros.
O carro estaciona, e eu pulo para fora, antes de me inclinar na janela.
-- Nunca. -- Seus olhos azuis estão confusos. -- Jack, nunca me pergunte nada sobre ele. Não converse comigo sobre ele. Não me aconselhe sobre o Romeu.
-- Parece que foram alguma coisa.
-- Obrigada por me acompanhar. Olha a proposta do trabalho, até mais. -- Ignoro o comentário de Jack, e vou até a janela, me despedindo do motorista. Sua feição seria já está de volta. Ótimo, odeio que sintam pena de mim.
-- Leva ele para onde ele quiser ir! -- Peço, e pisco o olho esquerdo.
Me viro para frente do meu hotel.
Você me perguntaria Romeu? Me perguntaria o que Jack foi meu? Teria paciência para ouvir meu não?
Claro que não.
Você é uma bomba relógio, fazendo tic tac na minha cabeça. E eu estou queimando por você.

ROMEU E JULIETA - RACERS 2Onde histórias criam vida. Descubra agora