26.

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O elevador do prédio parecia estar em uma interminável viagem ao terceiro andar, Matthew tamborilava os dedos das mãos na lateral do corpo, aproveitou para dar uma olhada no espelho e garantir que seu cabelo parecia o mais apresentável possível.

As portas da caixa de metal abriram em uma pausa dramática, o coração do garoto disparou, tentou caminhar o mais devagar possível em direção a entrada, não queria parecer desesperado apesar de estar muito.

Tocou a campainha do apartamento e umedeceu os lábios pela vigésima vez por conta do nervosismo. Alguns passos chegavam cada vez mais perto até que a porta foi aberta.

- Oi. - Celine sorriu pequeno do outro lado, os fios castanhos claros presos em um coque desordenado e sem a menor pretensão de parecer algo bonito.

As olheiras eram fundas, difícil dizer se por falta de sono ou por algum recorrente choro. Estava de pés descalços e usava um moletom rosa claro. Antes dele responder algo, ela se aproximou e tocou com o indicador o queixo do rapaz.

- Deu tempo até da barba crescer. - Ela riu.

- Oi. - Ele disse quase em um suspiro de alívio. - É, eu ainda tô pensando se vou tirar.

- Combinou bem. - Comentou, abrindo caminho para que entrasse.

- Obrigado. - A resposta foi tímida, aquele frio no estômago pareceu ressurgir de supetão.

A casa estava organizada como da última vez, com aquele ar aconchegante e receptivo. Um miado estridente chamou a atenção de Matthew, que logo se agachou para acariciar Jen, esta rodava por entre as pernas dele e lhe dava leves cabeçadas quando seu carinho era interrompido.

- Mais alguém sentiu sua falta. - Celine riu, com os braços cruzados.

O rosto do rapaz ficou vermelho. Ela havia sentido falta dele. Tipo, de verdade.

- Pode vir comigo, eu garanto que ela vai te seguir. - Avisou, esperando que ele se levantasse para continuar pelo corredor.

Todas as portas dos cômodos estavam fechadas com exceção do quarto de Celine, que tinha uma pequena fresta aberta. No batente, marcações de anos e alturas que seguiam cada vez maiores, parando por volta dos quinze anos. Ele riu, sentiu que estava entrando no quarto de algum personagem de filme da Pixar.

- Eu nem vou dizer pra você não reparar na bagunça, porque é impossível. - A garota avisou sem jeito, seguindo para dentro do quarto.

Parecia que toda a organização perfeita da casa estava compensada em um completo caos bem ali. Ao lado da cama bagunçada e cheia de almofadas, havia um colchão no chão, que também parecia ter sido usado recentemente. Roupas se espalhavam bem como papéis e copos de chá. Um amontoado de novelos estava socado em um pequeno cesto, atravessados por agulhas de crochê, o guarda-roupa parecia ter passado por uma zona de guerra.

Ele não julgou, mas ficou com certeza surpreso, porque conversando com Celine, nunca imaginou que ela conseguisse ter um quarto tão bagunçado. Ela foi até uma das janelas e abriu as cortinas, observando a chuva que caía sem dó na escuridão da noite. Sentia o estômago roncar, não lembrava a quantas horas estava apenas em casa existindo e sem comer mais nada.

Jen pulou sob as roupas e subiu na escrivaninha, deitando-se perto de um monte de livros. A garota fez sinal com a cabeça, chamando Matt enquanto se sentava em meio aos edredons desarrumados. Ele travou, não entendia por quê, mas ficou inseguro.

pretty days | matt sturnioloOnde histórias criam vida. Descubra agora