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Matt largou o celular sob o colo bufando, um pouco descepionado. Não queria ir ao mini golfe, preferia ficar no quarto e assistir algum filme que Celine havia indicado.

- E aí, não vai se arrumar? - Chris deu duas batidas no batente da porta do quarto, chamando sua atenção.

- Não tô afim, mas vão lá e se divirtam. - Respondeu sem muito interesse, estirado na cama como uma estrela do mar.

- Matthew, você não vai sair com a gente só porque sua namorada não vai? - O irmão arqueou a sobrancelha indignado.

- Ela não é minha namorada! - Disse alto e sem paciência, esfregando as mãos no rosto. - Eu não estou com vontade de sair, só isso, beleza?

Chris rolou os olhos com violência, respondendo um "tanto faz" com muita chateação. De fato, não era apenas por Celine que Matt não tinha vontade alguma de sair naquele momento, mas também porque sentia que havia algo errado no ar, um pressentimento que não conseguia explicar, mas o angustiava.

Nos dias que antecederam, eles conversaram muito pouco, ele parou de receber fotos dos bolinhos que ela assava na confeitaria ou de Jen dormindo, ela parou de ligar para contar sobre algum episódio novo de Criminal Minds que a deixou chocada - mesmo que assistindo pela vigésima vez - e Matthew não conseguia manter os assuntos por muito tempo sem que ela arrumasse alguma desculpa para se ausentar.

"Fodi com tudo."

Era o pensamento que cercava sua cabeça, sem parar, a quase duas semanas. Isso acontecer logo depois de terem aquela conversa no carro, achava que talvez ela só tivesse achado ele uma pessoa entediante ou desinteressante no fim das contas, que aquela amizade não levaria a muita coisa e então decidiu se afastar. Ou então se assustou com a enxurrada de comentários em fotos e páginas de fãs. Ou, sei lá, o achou esquisito com aquele papo sentimental.

Dentre todas as possibilidades, a ausência de qualquer resposta o matava o tempo todo.

Com uma semana neste estado, ele decidiu fazer algo sobre, precisava que ela falasse o que estava acontecendo, e se fosse o caso, apenas dissesse que não queria mais contato.

Matt saiu de casa sem dar grandes explicações a ninguém, Mary Lou não tentou perguntar, ele claramente não estava de bom humor. Dirigiu por alguns minutos até chegar a Field's Bakery, ficou mais um tempo dentro do veículo, tentando controlar sua respiração que parecia traí-lo de segundo em segundo. Também não entendia porque tanta angústia em uma possível amizade com fim mal resolvido, não era a primeira vez que acontecia e nem seria a última, mas com ela era diferente.

Ela não podia fazê-lo sentir tão diferente de forma positiva e então sumir de sua vida. Não fazia sentido, não era algo justo.

Abriu a porta do carro sem pensar mais e foi em direção a entrada, a sineta da porta como sempre anunciou a chegada e ele já estava pronto para fazer todas as perguntas do mundo para ela, mas apenas Lilian e Marcus conversavam tranquilamente encostados no balcão.

Sua feição murchou em um tom neutro, aproximando-se como uma criança medrosa. Lilian sorriu pequeno para ele, mas seus olhos pareciam dizer algo como "Droga, não era pra isso acontecer."

- Olá rapaz, como posso te ajudar dessa vez? - O homem perguntou com a carranca que parecia cada vez mais amigável no que era possível.

- Olá Senhor Field. - Engoliu à seco, sentindo-se ridículo. - Eu queria um cupcake na verdade.

- Sei, qual o sabor? - Marcus não tirou os olhos dele, esperando uma resposta.

Matthew ficou mudo por um minuto, sua cabeça estava uma zona de guerra e não sabia o porquê.

- Garoto, chega aqui. - O pai quebrou o silêncio, descendo da banqueta onde estava sentado e o chamando com os dedos.

Ele contornou o balcão, indo até uma parede próxima as vitrines. Matt o seguiu sem dizer nada, nervoso. Senhor Field parou em frente a parede com alguns quadros que, para ser realista, o rapaz nunca havia percebido em todas as vezes que foi até ali.

Havia uma moldura maior, ao centro, com o casal abraçado usando aqueles clássicos aventais rosa e vermelho, enquanto Celine, talvez com sete ou oito anos, estava no meio deles, sorrindo. O cabelo preso em duas tranças laterais, óculos enormes no rosto e um sorriso infantil, usava um blusão de tricô com o desenho de uma cereja.

- Eu sei que veio procurando a Cece, sinto decepcionar, sei que não sou tão bonito quanto ela. - O homem disse, arrancando uma risadinha de Matthew. - Mas ela teve a quem puxar com certeza.

Marcus observou de longe a esposa, sorridente enquanto atendia um casal de idosos que havia acabado de chegar no local. Os cabelos ondulados e armados, como os da filha, presos em um coque trançado e com uma bandana vermelha.

- Se posso te tranquilizar, Matthew, é dizendo que na medida do possível, minha filha está bem. - Ele o encarou, era a primeira vez que o chamava pelo nome, mas não tinha um tom nada autoritário. - Eu conheço a Celine tem dezenove anos, ela odeia pedir ajuda e principalmente, explicar as coisas que está sentindo, nessas horas, só precisa de um momento particular.

Os ombros do moreno caíram, agora sentia-se um pouco mal porque talvez sua preocupação tivesse a pressionado mais ainda.

- Cece é durona, mas meiga também e você é um cara legal, então se acalme e vá comer um bolinho antes que tenha uma crise de nervos. - Ordenou, fazendo um sorriso vazar dos lábios dele outra vez.

O humor também tinha de quem herdar.

- Desculpe atrapalhar o trabalho, eu estava preocupado. - Disse sem jeito. - Na verdade, ainda estou um pouco, mas obrigado de qualquer forma.

- Não precisa pedir desculpas, mas precisa comprar um bolinho. - O mais velho lhe deu um tapa um pouco forte no ombro, mesmo que sem intenção.

- Compro até dois. - Riu, tentando esconder a dor.

Durante dois ou três dias, Matthew até conseguiu ficar tranquilo, mas então a falta começou a abater-lo outra vez. Nick e Chris zoavam ele na mesma medida que tentavam consola-lo, dizendo que nada daquilo era extremamente alarmante ou coisa do tipo, que ela devia estar passando por uma fase difícil e não queria falar sobre.

Até com Chloe falou, e ouviu o exato mesmo discurso: Celine não era fã de conversar sobre seus sentimentos, estava bem, mas precisava de tempo. Aquilo já o deixava farto, era sempre tudo tão vago, talvez porque as coisas de fato fossem simples, mas apenas não pareciam para ele.

- Tem certeza que não vai vir? - Nick se aproximou, o olhando um pouco preocupado.

Matt encarou as horas marcadas no celular e então suspirou.

- Tenho, podem ir. - Respondeu, como se na esperança de que aquilo adiantasse algo.

pretty days | matt sturnioloOnde histórias criam vida. Descubra agora