O que você vê?

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Era estranho adentrar meu apartamento e observar uma calmaria anormal, as luzes recém acesas, claras incandescentes, parecia que se olhasse muito tempo sentiria queimar como o sol, mas, mesmo assim, me acalmava. Me preparei para o banho, deixando a banheira encher e a completando com sais de banho, relaxante, quando ouvi o barulho conhecido de uma ligação Skype, era Sidney. Entrei na banheira e atendi a ligação, apoiando meu notebook na mesa improvisada ali mesmo.

— Olá, Sid. - Digo em tom normal, ele não olhava para a tela, parecia organizar alguns papéis. — O que? Você atrapalha meu banho pra nem olhar pra mim? - Digo fingindo irritação.

— Espere... Olha. - Ele ainda está absorto, organizando seus papéis, mas eu sei que ele vai me mostrar alguma coisa sobre estudo da mente.

Sid não estava em nenhuma faculdade, ou se quer pretendia entrar em uma, ele era autodidata, segundo ele mesmo, mas era estranho como ele sempre falava sobre seus estudos como se fosse um universitário de uma das melhores faculdades do estado. Ele gostava de me mostrar diagnósticos, vinha com inúmeras pesquisas feitas no Google, que o levaram a noite toda para concluir, falava como um psiquiatra renomado que atendia no melhor consultório, eu apenas o ignorava. Ele já tinha me dito que eu poderia ser esquizofrênico, ansioso que sofria de ataques de pânico, que eu sofria de paralisia do sono, Transtorno pós-traumático, me disse que eu sofria de traumas de infância que me faziam imaginar coisas, que eu dissociava e alucinava, mas Sidney nunca me dizia como fazer parar.

— Eu trouxe mais um projeto, e acho que é perfeito pra você, Alex. - Não pude evitar o riso debochado e o revirar de olhos. - Não, olha... - Ele me mostrou manchas num papel sulfite recém impresso.

— O que é isso? - Ele parecia maravilhado com seu novo "tratamento".

— Bom... São manchas. - Ele riu. - Mas eu quero que olhe para elas, imagine, e tente me dizer. - Ele fez uma pausa dramática. - O que você vê?

Ele me apontou uma mancha, obviamente uma borboleta, eu neguei com a cabeça e o olhei.

— Uma mancha numa folha de sulfite recém imprimida.

— Alex... - Ele negou com a cabeça, seu tom irritado me fez tirar o sorriso debochado do rosto. - Ao menos uma vez, uma vez! Me ajuda a te ajudar... - Concordei com a cabeça deixando a feição séria. - Escute...

Um som leve de um tique metálico começou.

— Escute, observe, absorva... E me diga, o que você vê? - Respirei fundo e olhei para a tela por longos segundos.

— Uma... Uma borboleta, preta, coberta por algo espesso, gosmento, ela não consegue bater suas asas, está presa, a está folha de papel. - Ele pareceu satisfeito, anotou em seu bloquinho algo, e passou para a próxima. - Pingos de chuva e um guarda-chuva...

As respostas eram genéricas, mas olhei para elas por tanto tempo, que de alguma forma, faziam sentido na minha cabeça.

— Isso vai levar quanto tempo, Sid? Já to sentindo meus dedos enrugarem...

— Mais alguns, poucos minutos. Olha esse. - Arregalei meus olhos, as imagens abstratas me lembraram de algo que eu não queria ver.

— Próximo. - Digo sem hesitar.

— Não, Alex. Você precisa responder...

— Sid... Não vejo nada. Próximo. - Ele negou. - Sid... - Respirei, o som do tique não se ouvia mais, mas na minha cabeça ele ainda estava ali. - Eu vejo... Um rosto. - Sid hesitou e olho para a enorme mancha preta na folha.

— Um rosto? Onde? - Ele parecia confuso, a mancha não tinha formato de rosto algum.

— Entre a mancha... Ele está dentro da mancha... Eu o vejo se esconder entre ela, ele está camuflado entre ela, você não vê, porque ele não quer que veja.

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⏰ Última atualização: Mar 09 ⏰

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Delírios de uma mente quase sãOnde histórias criam vida. Descubra agora