Os gatos da Sra. Costa- parte final.

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Acordo.

Sinto meu corpo sendo arremessado contra a cama, estou completamente coberto por um lençol branco. Me levanto, estou no meu apartamento, Senhora Costa não está ali, nem ela, nem o gatos. Vou em direção ao banheiro, tomo um banho, fico ali por um tempo, o vapor da água logo preenche o box, começo a ouvir miados, baixos mas misturados com rosnados. Fico paralisado. Fonfom!

O maldito gato estava ali em algum lugar. Saio correndo do chuveiro me enrolando na toalha, assim que adentro meu quarto sinto o cheiro do que parece ser bolo de cenoura, senhora Costa está de pé colocando a mesa. Fico em silencio, me visto rapidamente.

Assim que adentro a cozinha, posso sentir o cheiro ainda mais forte do café, sorrio.

- Hugo! - ela segura meu rosto nas mãos e beija minhas bochechas.- Venha! Sente-se.

- O que é isso, Elena?

- Ora, um café da manhã!- pude perceber pelo relógio da cozinha que já era dia.- Está com fome?

- Faminto!- resmungo e me sento.

Comemos em silêncio, pude perceber que Elena não estava com nenhum de seus gatos ali, o que era estranho.

- Escute, Hugo.- ela limpou a boca no guardanapo de pano- Eu queria agradece-lo...

- Pelo quê?

- Pelos cartazes que fez.- quase engasgo- Fonfom foi trazido à mim por uma jovenzinha adorável, ela tinha uns seis anos e...

- Ele voltou?!- a interrompo.

- Sim! Ele voltou, estava coberto de sangue, mas não pude achar nenhuma ferida. Mesmo assim levei ele ao veterinário, está tudo bem.

- Ah, sim. Ele ainda fará a cirurgia?

- Não, estava realmente tudo bem. Ele está curado.- fico boquiaberto, não deixo de demonstrar que estou surpreso, o pequeno demônio voltou em plena saúde para me matar.

- Onde ele está?- dou um gole grande no café, que está bem amargo.

Elena se vira sem me responder, sigo a com os olhos e vejo o gato parado ali, ele não estava ali antes. Uma tontura súbita me toma, talvez susto por ver o gato, mas logo sinto meu corpo sendo puxado para o chão, ainda estou consciente, mas não consigo mover nenhum um músculo.

Elena abre um sorriso e anda em minha direção, eu apenas tenho um olhar apavorado em meus olhos.

- Bom, Hugo, Fonfom não pôde deixar de me contar as atrocidades que foram acometidas à mim, e então não pude deixar de agradece-lo por voltar.- ela acariciou o gato que estava em seus braços. 

A velha pegou me pelos ombro e com pouca dificuldade levou-me à minha cama.

- Não... faça... isso...- tentei impedi-la

- Oh, Hugo... Não! Eu não farei nada.

Ela saiu do quarto fechando a porta. O gato começou a rosnar alto, junto com miados, que machucavam meus ouvidos, podia sentir meus ouvidos sangrando, não conseguia nem olhar pro maldito. Num pulo grande ele parou encima de minha barriga. Seus miados estavam mais altos e fortes, pude sentir seu bafo podre a centímetros de meu rosto.

Num instante quase sem perceber eu me movi, o empurrei da cama, ouvindo seu impacto no chão, me encolhi. Um silêncio tomou o quarto, mas logo foi interrompido por um som estranho, parecia ossos se quebrando, junto a um som de pele rasgando, me estiquei para olhar o gato, que agora tinha tomado uma forma humanoide diferente da antiga, ele tinha ombros largos, e ósseos, ele se mantinha em quatro patas no chão, com sua espinha completamente saltada para fora, não possuía pêlos, estava completamente nu, suas perna devidamente alongadas, proporcionais ao corpo alongado, seus dedos pareciam longos gravetos disformes que saiam de seus pulsos. Ele se levantou, era enorme, me encolhi ainda mais.

Ele possuía um sorriso enorme, esticado até suas orelha, num rosto quase inexpressivo, mostrava seus dentes pontudos em minha direção, estava parado ali, seus olhos estavam fechados, ou eu não podia enxerga-los, todo seu corpo era branco, como uma folha de papel, e seus olhos também, quase como um desenho para colorir, um desenho perturbador.

Um arrepio tomou me a espinha, eu não conseguia me mover, sabia que o maldito só estava esperando que eu me movesse para arrancar minha cabeça como fiz com Marshmellow. A figura andou até mim, fazendo eu me encolher e cobrir o rosto, seus dedos longos esticaram-se até meu rosto, ele segurou em sua direção, um liquido negro jorrou em mim, eu sentia meu rosto derreter junto com meus ossos e meu cérebro, eu não conseguia sentir mais nada, mas ainda via a figura, meu rosto parecia estar disforme.

Quando a figura transformou-se de volta no gato acinzentado, eu estava caído ali na cama, quando o gato voltou a mim, começou fuçar em meu umbigo, eu apenas ouvia o barulho de seu nariz procurando algo, ele adentrou meu estomago, eu não sentia nada, e começou a comer, podia ver as tripas do meu intestino caindo para fora da cama, eu queria gritar, mas minha língua havia derretido junto com o resto de carne do meu rosto, a porta se abriu e Elena chamou o gato com um assobio fraco. Eu continuei ali, definhando, eu sabia que morreria logo, mas demorou uma eternidade.


A porta abriu, tudo era um flash confuso, eu estava coberto, quando Elena entrou no quarto acompanhada de paramédicos.

- O que aconteceu?- um deles pergunta enquanto o outro caminha até mim.

- Eu o encontrei assim... eu não sei, eu não sei.- Elena parece apavorada e chora.

- Ele já teve outras convulsões?

- Sim. Ele tomava essa medicação.- ela entrega um frasco à ele.

- Mas está cheio!- ele exclama surpreso.

- Eu acho que ele não estava tomando.

- Hugo! Hugo! Você pode nos ouvir?- um luz forte adentra minhas retinas, mas não consigo mover meus olhos na outra direção.

Elena está parada ali, choramingando. Eu olho para ela enquanto vejo Fonfom em seus braços, o gato olha diretamente pra mim, meu corpo inteiro chacoalha e sinto meu peito se apertando.

- Ele está tendo um parada!

Meu corpo ainda chacoalha, não consigo ouvir mais nada. Sinto algo frio em meu peito, tentando me puxar pra cima. Tudo escurece, e para. Posso ouvir a voz dela, ela resmungar.

- Ele estava tendo alucinações, eu achei melhor tira-lo da clinica e traze-lo para cá, mas ele só piorou, ele achava que os gatos queriam mata-lo, é minha culpa! É minha culpa!

- Senhora Costa, acalma-se, nos cuidaremos de seu filho.

- Não, Hugo, Hugo! Volte para a mamãe, Hugo! Venha para a minha voz!- logo em seguida ouço o miado de Fonfom, que é quase como um palavrão me mandando para o inferno. Tudo se silencia.

- Hugo Ferreira Costa, hora da morte?

- Oito e meia da manhã.



\\Este é o fim do conto, espero que tenham gostado.\\

Delírios de uma mente quase sãOnde histórias criam vida. Descubra agora