A mulher- parte três.

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Papai chegou do trabalho, assim que a porta da garagem se fechou eu sai correndo de meu quarto descendo as escadas em segundos, encontrei papai na cozinha, ele abraçava mamãe, ele me olhou e percebeu em meu olhar, algo não estava certo. Papai largou sua pasta no sofá e fomos até o porão, era escuro e frio lá, papai trancou a porta e  descemos mais alguns degraus.

- O que foi, Augusto?- eu suspirei.

- Papai, o que acontece se você fala com ela?- o rosto dele se contorceu rapidamente.

- O que? Augusto... você não...

- Não! Não, eu não falei com ela, pai...

- Então... Rosie?!- Os olhos dele arregalaram, ele parecia ter visto um fantasma- Rosie!

Naquele momento enquanto papai gritava, a maçaneta da porta começou a tremer, algo forçava a porta para abrir, mas papai a tinha trancado, ambos olhávamos para a porta, desejando que não abrisse, mas pudemos ver longos dedos atravessarem a fechadura que caiu no chão, a porta se abriu e a mulher estava para ali no topo da escada, papai apertou minha mão e olhando para baixo me guiou para fora do porão, ficamos ali por alguns segundos, sem dizer nenhuma palavra, enquanto a mulher continuava ao nosso redor, com uma respiração forte e alta, incômoda.

- Lave as mãos para o jantar, Gus, depois conversamos...- fiz o que ele mandou.

O jantar foi silencioso e rápido, papai olhava para mim por cima dos cílios e olhava para Rosie logo em seguida, a mulher notou, me encarava o jantar inteiro. Após acabar, não fiquei na sala vendo TV ou jogando, como sempre fiz, hoje, eu resolvi dormir. Já passava das duas da manhã, foi quando acordei com uma sensação estranha de que estava sendo observado, e estava, me sentei rapidamente ao ver alguém ao pé da minha cama, não era papai, mas uma figura pequena e com cabelos longos, Rosie, acendi meu abajur que tinha uma luz fraca, logo, seu cabelo se iluminou, seu cabelo cobria o rosto e eu podia ver seus lábios, ela chorava, as lágrimas escorriam pelas suas bochechas encontrando-se em seus pequenos lábios rosados.

- Rosie?- ela levantou a cabeça, seu cabelo ainda cobria parte de seu rosto.- Rosie está tudo bem?

- Gus... Ela me contou... ela me contou...- em meio à soluços Rosie tentava me dizer mais alguma coisa.

- Rosie, por favor, me diga o que aconteceu...- tentei tocar seu rosto, mas ela se esquivou.

- Ele matou o filho dela, Gus... O homem mau, agora ela toma conta das crianças que merecem, ela não vai nos fazer mal, Gus, você só precisa dizer à ela que quer ir... Eu quero que você vá comigo...

- Rosie, eu não... Rosie, eu falei com o papai, eu não sei o que essa mulher vai fazer com você, mas eu quero que pare de falar com ela.

- Não!

- Rosie?!- Rosie levantou os olhos, vermelhos por causa do choro, sua expressão agora era de raiva.

- Você vai comigo, Augusto! Você vai comigo!- Rosie saltou em mim, segurava meu rosto com força de frente para o dela.- Diga a ela, diga a ela que você vai comigo! VOCÊ VAI COMIGO, GUS!- A voz de Rosie assumiu um tom forte e áspero.

- Rosie! Me solta, Rosie!- eu a empurrei, a derrubando da cama, mas ao olhar em volta, não a encontrei.

Aquele episódio havia me assutado, mas o que mais me assustava era imaginar que Rosie queria ir com ela, eu sabia que por Rosie ser menor, ela era mais manipulável, mas ela nunca foi boba, acho que ela é mais inteligente que eu. Agora, ela tendo me atacado, apenas mostrava a força que as palavras daquela mulher tinham, e uma vez que você falasse com ela, era um caminho sem volta, ela havia convencido Rosie de que a levaria para algum lugar, e queria que Rosie me convencesse a ir também. Era isso? A mulher levava as crianças? E o que ela fazia com os pais? A mesma coisa que, segundo Rosie, fizeram com ela, deixava os pais sem seus filhos como o "homem mau" havia feito com ela?

As perguntas ecoaram até de manhã em minha cabeça, aquele dia eu não dormi, as palavras de Rosie sobre "as crianças que merecem", apenas me fez pensar em quantas crianças ela levou embora. Eu precisava confrontar papai sobre aquela mulher, e eu sabia que tinha que ser na ida à escola.

Delírios de uma mente quase sãOnde histórias criam vida. Descubra agora