Maxine não devia estar prestes a entrar em um bar a mais de setecentas milhas de casa na véspera do Natal, grávida e solitária, no entanto, era exatamente isso que estava fazendo.
Sua mãe e o pai provavelmente a acolheriam para a ceia se pedisse com jeitinho. Ainda estavam pagando a mensalidade da faculdade e nem gritaram tanto quando ela finalmente contou que estava prestes a ter um filho. No entanto, Max não suportava aquele olhar, a forma como Jaqueline e Adam pareciam estar tão feridos, tão decepcionados, quando, na verdade, era a própria Maxine a maior vítima da história.
Ela era. Estava cansada de fingir que não.
A garota estava verdadeiramente interessada na disciplina do seu último ano de UMich. Durante os semestres estudando engenharia mecânica, ela nunca se sentiu tão feliz quanto naquele mês com robótica. Parte da animação vinha dos sorrisos encantadores de Bryan Gilbert, o professor mais novo que já teve em sua vida. Trinta e sete anos.
"Só quinze anos de diferença", Max calculou um dia enquanto tomavam café no Starbucks fora do campus. Bryan sorriu de lado, os olhos azuis faiscando para a garota com o que na época ela não enxergava como predatório. "Quando você nasceu, eu já transava, Maxine". Aquilo fez a garota ruborizar. Sexo não devia ser assunto entre aluna e professor. Cafés onde ninguém poderia vê-los também não.
Naquele dia, as palavras não saíram da cabeça dela, pareceu um convite sexy. Ali, caminhando pelas ruas vazias e cobertas de neve em Nova Iorque, soou nojento. Bryan gostava de pontuar o quanto Maxine era mais nova, inocente e corruptível. No começo, Max entrou no clima, sentindo-se protegida pelo cuidado e a influência do homem que achava que ela era madura, inteligente e superior para sua idade.
Até ela engravidar.
Ela sabia que a senhora Gilbert, a esposa sorridente de Bryan, não estava no apartamento porque aquele era o horário em que se encontravam para transar na mesma cama que Julienne dormia com o companheiro de dez anos de relacionamento.
Max estava nervosa, sabia das implicações de ter um bebê, mas, no fundo, seu coração estava cheio da esperança de que Bryan iria finalmente cumprir sua promessa de largar a esposa com quem vivia um casamento fracassado.
Não foi o que aconteceu.
Maxine nem sabia exatamente como as coisas escalonaram para receber um soco do cara que ela mais tinha amado na vida. Em um segundo, ela estava dando um sorriso confiante e falando sobre o resultado do exame e, no outro, estava sendo empurrada porta afora sentindo seu rosto latejar.
Ele disse que se ela voltasse ou alguém soubesse de quem o bebê bastardo era, Max nunca teria uma oportunidade na engenharia mecânica. Bryan jurou que estragaria a vida dela para sempre se Julienne soubesse.
O frio do inverno de Nova Iorque não era nada comparado à forma como ela se sentia congelada por dentro. Max se encolheu dentro do casaco de maternidade que tinha comprado em um brechó quando viu o letreiro brilhante do provavelmente único bar aberto em toda cidade na véspera do natal.
Ela não se permitiu o luxo de comprar roupas específicas para grávida porque tinha que poupar dinheiro para o enxoval do bebê, mas naquela noite se daria um presente. Sentaria em um lugar desconhecido — sem beber, porque não podia — e fingiria ser outra pessoa.
Uma pessoa que não estivesse esperando uma criança que não sabia como cuidar, que não estivesse triste e desamparada. Foi por isso que ela recusou o convite dos Miller para ceia com Gus e a família de Kira, e comprou uma passagem com o cashback da compra do berço. Porque ela queria um recomeço, mesmo que por apenas algumas horas.
Max abriu a porta e um sininho meio enferrujado soou sobre sua cabeça. Enfiou as mãos de volta no bolso, apesar de a temperatura dentro do ambiente revestido por madeira ser bem mais acolhedora do que o lado de fora.
O lugar era parecido com o que ela imaginaria ser um bar no subúrbio de Nova Iorque naquela área perto do Airbnb que havia alugado. Madeira escura, garrafas de licores, um balcão robusto, iluminação meio amarelada, uma TV ligada em um jogo de hóquei em volume baixo.
O que ela não imaginava ver ali era o homem mais bonito de toda sua vida, parado de braços cruzados, olhando para a partida na televisão. O barman estava de lado, seu rosto era anguloso, os cabelos escuros e pretos como a camisa de mangas curtas que usava mesmo no inverno rigoroso.
Com certeza mais velho do que ela, e da última vez que Max tentou um age gap aquilo não deu certo. Acabou grávida, com um olho roxo e reprovada na disciplina que mais amou na vida simplesmente por sadismo do genitor do seu bebê. Ela estaria puérpera quando precisaria de novo enfrentar o homem que fingiu amá-la.
Não era por isso que Max estava ali. Não. Nada de romance. Nunca. Queria ter a oportunidade de fingir e só isso.
— Boa noite. — A voz rouca soou, trazendo um arrepio para a pele coberta de Max. — Posso te ajudar? — Se virou para ela, os braços cruzados ao redor do peito, uma pequena ruga entre os olhos.
Seu tom não era o mais acolhedor de todos, e Maxine não tinha imaginado aquela parte do fingimento. Na sua cabeça, ela entraria num espaço cheio e passaria despercebida, observando novaiorquinos curtirem a noite, se permitindo misturar com o pessoal. Só que ela era provavelmente a única pessoa em todo estado que estava fora de casa, longe da família naquele momento.
Ela e o dono do bar.
— Quero... — Max não tinha planejado aquilo também. Estava grávida e não podia beber, mas seria estranho se não pedisse nada. — Uma coca. — O vinco entre os olhos do barman se aprofundou.
— Uma coca-cola? — perguntou devagar. — Com rum? — ofereceu, e Maxine suspirou, abrindo o casaco e mostrando a barriga já muito saliente.
— Só uma coca — garantiu quando o homem percebeu que o volume que carregava era uma criança.
Foi meio tranquilizador para ela quando o cara se virou sem questionar e com nenhum julgamento no rosto, pegando um copo de vidro e uma lata. Max tomou a decisão de se sentar ao balcão, próxima dele, porque seria estranho parar numa mesa distante quando só estavam os dois lá dentro.
— Quantos anos você tem? — o homem questionou de repente, e Maxine revirou os olhos.
— Tem que ter mais de vinte e um para beber uma coca? — Não conseguiu deixar de fazer aquela coisa que Bryan odiava, um pouquinho de ironia risonha escapar do seu tom.
— Para entrar em um bar — corrigiu o barman com a sombra de seu próprio sorriso.
Diferente do cara que a tinha engravidado, aquele completo desconhecido estava sorrindo para ela e sua esperteza.
— Tenho vinte e três — garantiu, e o moreno deixou o copo no balcão em frente dela, a coca-cola borbulhando no vidro com o gelo boiando entre o líquido e uma pequena rodela de limão na borda.
O gesto gentil confundiu seus hormônios. Poderia só ter dado a lata para ela, mas escolheu dedicação quando ela estava faminta por cuidado.
— Maxine — disse por impulso, e a ruga bonitinha voltou para o semblante do homem. — Meu nome é Maxine — completou para fazer mais sentido, os olhos ardendo um pouquinho.
O homem a olhou por um segundo em silêncio, ainda sem julgamento algum, e Max se sentiu esquentar de dentro para fora sob o escrutínio naqueles olhos que agora podia ver que eram de um azul-escuro envolvente.
— Connor Reyes — respondeu por fim.