— Consigo pensar em pelo menos mais uma pessoa responsável por isso — a voz rouca chamou, e Max piscou, tentando se afastar da linha de pensamentos tóxicos. Por um segundo ela imaginou que o dono do bar estivesse se colocando ao lado dela pelos seus problemas.
E aquilo era perigoso.
Eles não se conheciam, estavam se vendo pela primeira vez na vida, e Maxine não era fácil, sabia daquilo porque tinha ouvido aquelas palavras desde pequena. Não traria seus problemas para um desconhecido.
— É o meu bebê. De mais ninguém — falou firme, não se importando se aquilo ofenderia o homem bonito.
A ideia de ter Bryan ao redor da criança a deixava nervosa porque ela sabia que por trás da fachada tranquila, boêmia e inteligente, havia alguém que podia ser violento se desejasse, e seu bebê não passaria por aquilo. Nunca.
Para a surpresa de Max, Connor juntou as mãos sobre o balcão e as fitou sorrindo. Um sorriso pequeno, contido e meio de lado, mas ainda assim orgulhoso.
— Isso é bonito — elogiou, e Maxine fez uma careta, dando mais um gole em sua coca-cola. — É mesmo. Você tem fibra, quer proteger seu filho e isso é maior do que qualquer coisa.
— Você está enganado — ela retrucou com um suspiro. — Isso não é maior do que não saber cuidar dele... sequer tenho um nome. Não consegui pensar em nada.
Ela tentou. Depois que o olho desinchou, Gus voltou para Kira e a barriga já não cabia em suas roupas, contou para os pais e tentou ser uma mãe tradicional. Juntou todas as suas economias e comprou tudo que um site chamado mãedeprimeiraviagem.com julgava indispensável para os primeiros meses. Viu fotos no pinterest de ensaios maternos e até tentou reproduzir alguns com a ajuda da namorada do seu melhor amigo, mas nada ficou legal.
Maxine tentou ao máximo ser uma mãe normal e não conseguiu.
— Não pode ser tão difícil assim — Connor interveio com as sobrancelhas franzidas.
Ela riu, queria ver o homem forte e fechado tentar.
— Alguma dica? — Apoiou os cotovelos no balcão e sustentou o queixo com as mãos, interessada nas sugestões do dono do bar.
— Que tal... — A ruga em seu cenho se tornou mais proeminente, e ela quase podia ouvir as engrenagens girando em sua cabeça. — Merda... é difícil mesmo — admitiu depois de alguns segundos em silêncio.
— Nada parece... suficiente. — Max deu sua justificativa para a dificuldade que sentia. — Ele nem nasceu e já passou por tanta coisa. — Acariciou a barriga por um momento, sentindo os movimentos que já estava acostumada.
— Precisa ser forte. — Max não sabia se ele estava falando do nome para a criança ou para o bebê em si.
— Talvez eu olhe para ele e simplesmente saiba. — Deu de ombros. — Você é homem e acho que não vai entender essa sensação — ironizou um pouquinho, sabendo que, pelo pouco que conhecia dele, Connor não aceitaria aquela constatação tão facilmente.
— Qual? — perguntou, e ela riu.
Ele podia ser um verdadeiro desconhecido, mas tão... fácil de ler.
— A primeira vez que ouvi no ultrassom o coraçãozinho, eu soube que alguma coisa tinha mudado. Espero sentir isso de novo, mas mais forte olhando para ele. Quero ver o rostinho e saber que todos os meus medos eram infundados. — Não admitiria em voz alta, mas Max tinha medo que o bebê se parecesse com Bryan, uma criança que ela amaria tanto, mas seria um lembrete da dor.
— Eu posso entender isso — Connor contrariou, e Max riu.
— Já pariu uma criança? — perguntou, esquecendo o que o mundo fazia com garotas que tinham respostas rápidas.
— Não — ele admitiu com uma risada curta, nada condenadora. — Mas já senti isso... alguém entrar pela porta e de repente... algo muda. — Sua voz se tornou reverente e ele olhou para Max de forma profunda.
Mesmo sob o casaco pesado, a pele da garota se arrepiou e não tinha nada a ver com o frio.
Ela tinha passado por ele minutos atrás... era disso que ele estava falando? Não podia ser.
— Deve ser difícil — respondeu, tentando soar normal, mas falhando quando sua voz tremeu.
— Não. — Balançou a cabeça sem se importar. — É bom. — Deu de ombros. — Pelo menos para mim. Me pergunto se... — Sua voz morreu, e Maxine se inclinou em sua direção, atraída.
— O quê? — questionou, seus lábios se separando pelo sussurro.
— Foi assim para ela também. — Max sentiu algo se partir dentro de si. Ela. Alguém fora dali, uma mulher madura, experiente, que não estivesse grávida e cheia de problemas que nem sabia como lidar.
Não Maxine. Sentiu as bochechas corarem apenas pela mera ideia.
— Pergunte para ela — sussurrou, se inclinando de volta para trás, ferida por algo que nem sabia que deveria doer. Estava prestes a parir, num estado diferente do seu e nem tinha roupinhas o suficiente para o bebê. Ou um nome para o pobrezinho.
Tantas questões. Connor Reyes não devia ser uma delas.
Mas o pensamento dele devia ser diferente do seu porque o homem quebrou a distância entre eles, pairando a poucos centímetros dela.
— Como foi para você, Maxine? — perguntou, o leve sotaque aparecendo pela forma como ele dizia o nome dela, com ternura.
O coração da garota bateu forte no peito, fazendo com que seu corpo inteiro acordasse da dormência dolorosa em que se mantinha desde o dia em que saiu da casa de Bryan. Sugou o ar saturado pelo cheiro masculino de Connor e se deleitou com a forma como parecia natural.
— Do mesmo jeito — admitiu e viu o homem engolir em seco, os orbes escuros passando dos seus olhos para os lábios, como se quisesse tanto beijar Maxine e mesmo assim estivesse esperando por ela.
Era a primeira vez que alguém parava antes de tocá-la, procurando por permissão. E ela deu a ele tudo que podia dar.
Max tocou a lateral do rosto dele, sentindo o calor e a barba por fazer, vendo as pupilas se dilatarem e o sorriso nascer ali, contente. Seus lábios se tocaram por um breve momento antes de se aprofundar, as línguas se conhecendo, famintas, mas ainda assim gentis, como se conhecessem mutuamente todas as feridas que ambos guardavam e quisessem a cura que um tinha para o outro.
No meio daquele transe, Max nem percebeu quando algo de fato mudou.
Até ser impossível não notar.
— Você está segurando um copo? — perguntou, ofegante, se afastando o suficiente apenas para poder fazer a pergunta. Em outra situação, jamais o teria soltado, Max beijaria aquele homem pelo resto dos seus dias.
— Não... — Connor disse confuso, e Maxine congelou.
— Você não acabou de derramar coca-cola nos meus pés? — O homem franziu o cenho para a pergunta esquisita.
— Max, eu não... — O dono do bar começou a dizer, mas a dor que irrompeu no baixo ventre de Maxine a fez agarrar os ombros dele e gemer em desespero:
— Então... — Engoliu em seco, olhando para baixo e vendo seu all star branco mais escuro pela umidade. — Acho que a bolsa estourou.