𝐂𝐀𝐏 𝟐𝟐

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Sentando em uma cadeira de contenção, em uma sala escura sem localização específica no Japão, Kageno acabara de terminar mais uma cessão de exclusão de memórias antigas.

Há duas semanas que memórias do seu passado haviam voltado a atormentá-lo, e deixá-las se fixarem em sua mente, como já tinha feito uma vez, atrapalharia, e muito, o seu julgamento em cumprir com seu propósito.

O seu peito subia e descia rápido. Apesar de ser um procedimento do qual ele mesmo sempre optava por fazer, se acostumar com a dor de ter neurônios e memórias fritas era impossível.

Garaki se aproximou retirando, da cabeça de Kageno, a parte do aparelho responsável por apagar as memórias.

— O processo terminou. --- avisou o doutor.

— Qual foi a eficácia? --- indagou o loiro.

— Teste você mesmo. --- Garaki começou a guardar o aparelho. Era caro demais para ser deixado jogado.

Ainda sentado na cadeira, Kageno forçou sua mente para trazer alguma memória de sua esposa e filhos, mas não veio nada. Ele sabia quem eram e quais seus rostos, mas nenhuma lembrança do passado junto a eles estava presente em sua memória.

A exclusão tinha funcionado.

— Você vai precisar ficar algumas semanas sem encostar nessa máquina de novo. --- disse Garaki, atraindo a atenção do outro. — Se continuar nesse ritmo, os neurônios que você quer manter não vai aguentar por muito tempo.

— Eu sei qual o meu limite, doutor. --- afirmou Kageno de forma um pouco ríspida.

Os usos com aquela máquina estavam frequentes. Antigamente, Kageno a usava uma vez a cada dois meses, porém, de três meses para cá, os intervalos entre as sessões tinham ficado muito mais curtos.

O velho, não tão velho, olhou o homem se levantar e vestir apenas um cardigan preto por cima do tronco nu. Kyudai já sabia que Kageno não iria parar, mas não ousaria insistir mais nesse assunto. Se Kageno quisesse fritar o próprio cérebro, o problema era dele.

O loiro caminhou até próximo ao suporte de vida. Um corpo curvilíneo e delicado estava mergulhado em um líquido roxo. Tubos saiam de sua boca e fios estavam conectados em sua cabeça. Kageno fitou aquela mulher por uns instantes.

— Como ela está? --- indagou, tocando o vidro frio.

— Ainda não está pronta, se é o que deseja saber. --- alegou o doutor, checando o televisor daquele suporte. Os sinais cerebrais ainda eram fracos.

— E quando vai estar?

— Quando o corpo decidir que já chegou a hora. --- Garaki apagou a luz que iluminava o tanque de suporte.

— E o que eu faço nesse tempo? Você me deu previsão de que em um mês ela estaria pronta e nada ainda. --- alegou o loiro ligeiramente irritado.

— Cada indivíduo tem seu tempo, Kageno. --- Garaki disse. — Enquanto isso, certifique-se de que a garota esteja superado seus limites e me traga ela assim que possível.

— E se ela não estiver pronta? Ou eu não conseguir pegá-la?

— Então, todo o meu trabalho e seu sacrifício vão ter sido em vão. --- Antes de sair, o doutor parou ao lado do homem. — Não temos opções, Kageno. Ela tem que estar aqui antes da conclusão do renascimento.

𝐇𝐀𝐒𝐊𝐈𝐄𝐍 | bnha |Onde histórias criam vida. Descubra agora