Prólogo

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Rio de Janeiro, dois anos e meio atrás

Apesar de cansativo, foi um dia normal de trabalho. Pelo menos foi assim que me senti na maior parte do dia. Gravamos cenas externas na praia logo na parte da manhã, consegui cochilar por uns quinze minutos na volta para o estúdio, contudo não o suficiente para recarregar as energias. Mas nada que fugisse muito da rotina da qual eu estava acostumada.

Pelo menos era o que eu achava.

Com o fim das gravações, no final da tarde, eu só queria o conforto do meu pequeno apartamento e o carinho da minha família, que estavam na cidade para passar uns dias comigo. O destino me reserva algo completamente diferente, algo que eu não estava esperando encontrar.

— Oi meninas! — Lucas apareceu na porta do camarim feminino. — Estamos indo dar uma volta de barco e o Leo mandou chamar vocês.

Leonardo, ou Leo para os íntimos, interpretava meu par romântico, mas ao contrário do que os fãs faziam parecer, nós não éramos tão próximos. Apenas éramos colegas de trabalho que às vezes tinham alguns momentos divertidos.

— Não vou conseguir ir. — Já avisei enquanto pegava minha bolsa. — Minha família está na cidade, lembra?

— Tudo bem, fica para a próxima, ok? — Concordei e resolvi ir esperar o carro de aplicativo antes mesmo de ver quem aceitou ir para o tal passeio.

O motorista já tinha aceitado a corrida quando vi Leonardo saindo do estúdio e vindo em minha direção. Fiquei um pouco sem reação, algo assim nunca tinha acontecido, e meu único reflexo foi continuar olhando para o celular.

— Você precisa viver mais, sabia? — Tomou o celular da minha mão e vi o exato movimento dele cancelando minha corrida.

— Como é? — Arqueei a sobrancelha e cruzei o braço enquanto esperava por uma resposta.

— Isso mesmo que você ouviu. Nós — Apontou para nós dois — vamos dar uma volta de barco para ver o pôr do sol e eu garanto que você vai estar em casa bonitinha para jantar com a sua família.

— Leonardo, eu estou cansada e louca por algum momento de descanso. Não irei em passeio de barco nenhum. Pelo menos não hoje. — Ele continuou me encarando e comecei a ficar nervosa. O rapaz de cabelo castanho escuro nunca tinha me olhado desse jeito. — E além do mais, a gente grava amanhã cedo.

— Eu sei disso! — Começou a voltar para dentro dos estúdios e foi quando me dei conta de que ele ainda estava com o meu celular.

Sabe quando consegui recuperar meu celular? Exatamente. Dentro do barco e com uma garrafa de cerveja na mão. O sol já começava a se pôr e tive que tirar uma foto. E por sorte uma de minhas colegas de elenco também aceitou vir, assim não me senti tão sozinha.

Leonardo estava na outra ponta do barco, mas eu vi o momento em que ele se aproximou e se sentou ao lado de Júlia. Que rapidamente arrumou uma desculpa para sair do meio e nos deixar sozinhos.

— Eu vivo muito bem, sabia? — Argumentei, ele me olhou confuso e ao perceber do que eu estava falando começou a rir. — Qual a graça?

Continuou rindo. E com os últimos raios de sol batendo em seu cabelo, deixava um tom meio avermelhado. Assim como sua boca. Tentei desviar meus pensamentos, mas foi impossível. Seu sorriso era ainda contagiante fora do ambiente de gravação. E eu tinha me aproximado?

— Sei que você sabe viver. — Me trouxe de volta para realidade. — Vejo seus stories. Só acho estranho estarmos gravando juntos a uns dois meses e simplesmente não saber quase nada de você.

O sol ainda chamava sua atenção, porém eu só conseguia reparar em cada um de seus detalhes. Suas tatuagens eram perfeitas, tão bonitas que sem muita consciência acabei tocando em seu braço. Como se o toque fosse me fazer interpretar o que cada desenho significava. Se assustou e rapidamente tirei a mão.

— Desculpa! — Também se aproximou um pouco e nossas pernas se tocaram.

Eu já tinha namorado antes, ficado com vários caras, mas pela primeira vez estava sentindo algo diferente. Apesar de não acreditar muito nisso, interpretei que fossem as famosas borboletas no estômago. Era uma sensação estranha. E quando ele me deu permissão para continuar passando as mãos por seu braço repleto de tatuagens e às vezes me explicar o significado de cada uma.

Se apaixonar era assim?

Quer dizer, eu tinha amado meu ex-namorado. Verdadeiramente tinha, mas isso era um sentimento novo.

— O seu olho fica ainda mais bonito no sol, sabia? — Sorri sem graça ao ouvir o elogio. — Estou falando a verdade.

Nossos olhares se encontraram e naquele exato momento me descobri perdidamente apaixonada por ele. Deus, ele era lindo e tinha uma imensidão em seus olhos que fez querer saber cada um de seus segredos.

O dia em que se descobre apaixonada por alguém pode ser considerado um dos melhores de nossas vidas.

Naquela mesma noite, enquanto fazíamos amor em sua cama, e ele me contava cada detalhe de suas tatuagens, eu não lembrava nem porque não queria ir para o passeio de barco. Mas sabia que o destino tinha planejado que fosse assim. Precisava me apaixonar por Leonardo daquela maneira.

Claro que eu ainda não sabia que toda a minha vida seria mudada.

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