Acendendo a Chama

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Alex olhou de volta para a praia e percebeu uma menina curiosa com uma câmera apontada para ele. Um sorriso surgiu em seu rosto e, vendo agora que tinha alguém o observando, decidiu mostrar mais algumas de suas manobras. Começou a remar até as ondas que vinham e se debruçava contra a prancha todas as vezes que a água batia. Rodopiou e girou, pegou mais algumas outras ondas até que notou o noite chegar. Não queria ficar mais do que devia ali e sabia que a água na parte da noite ficava ainda mais agitada. Havia experienciado isso em seu próprio acidente.

Alex sorriu feliz com sua pequena apresentação para a menina que estava o fotografando, olhou mais uma vez para a praia e ela agora se encontrava com a câmera abaixada e o olhar em direção à máquina.

Em pequenas remadas, Alex voltou até a costa. Pegou a prancha em sua mão e enquanto caminhava balançou a cabeça tirando o excesso de água que se encontrava em seu cabelo. Sentiu seus pés chegarem a areia e a água aos poucos ficando para trás. Gostava da sensação que a areia causava em seus pés. Lembrou que não havia trago nenhuma toalha e se frustrou. Encaixou a prancha na areia e se agachou tirando a fita que fazia parte de sua perna fazendo assim ele ficar totalmente livre de sua própria prancha.

Ao se levantar olhou ao redor e notou que a menina que antes verificava sua câmera agora estava andando para longe, continuando seu caminho. Ele não queria ser aquela pessoa estranha que chegava perto das pessoas perguntando as coisas, o momento que teve para conversar com ela havia passado e não existia mais nenhum clima ali. Ele nem mesmo sabia se ela tinha tirado fotos dele, poderia ser de qualquer um. Ele sorriu pelos pensamentos bobos que estava tendo e tomou coragem, não deixaria que tudo aquilo ficasse apenas em seu pensamento.

Ele olhou mais uma vez para a menina que já se encontrava em uma distância maior e sem pensar muito pegou sua prancha colocou embaixo de seu braço e correu até ela. Percebeu que não era o melhor corredor e perdeu o fôlego antes mesmo de chegar perto dela. Sua última chance estava escapando até que decidiu chamá-la.

- Ei, você.- ele chamou e a menina olhou para os lados antes de virar totalmente seu corpo e olhá-lo. Alex estava ofegante, fez um sinal para que ela esperasse, o que fez Emília rir da situação. Ele notou seu riso e riu também. Aproveitou o momento para recuperar as forças, pousou a prancha novamente na areia e olhou para ela - Eu vi você tirando algumas fotos, você é fotógrafa né? - ele perguntou de forma educada e Emília notou que ele realmente queria saber um pouco sobre ela, não havia percebido que ele tinha reparado nela também, seus olhos estavam fixos em suas apresentações e só agora pôde notar o quanto ele era bonito. De longe parecia até mesmo outra pessoa. Em sua mente, surfistas sempre seriam loiros e com peles bronzeadas e o menino que se encontrava em sua frente não era nada assim. Seus cabelos eram pretos e estavam caídos em seu rosto. Seu corpo era forte e mesmo sendo um surfista sua pele não era tão bronzeada. Ele tinha uma pequena cicatriz no joelho esquerdo e ela notou que mesmo sendo pequena parecia lhe causar um grande desconforto. Ela percebeu que ele olhava fixamente para ela esperando pela sua resposta. Emília ficou com vergonha e esperava que ele não tivesse percebido que ela analisava o seu corpo.

Ela olhou para a câmera que estava em suas mãos e de volta para ele.

- Sim, eu sou. - ela respondeu e esperou por um momento para que ele falasse mais alguma coisa, mas quando ele não disse nada ela decidiu lhe pedir desculpas, sabia que ele estava ali pelas fotos que havia tirado dele. - Eu quero te pedir desculpas, eu devia ter te perguntado antes se podia tirar fotos suas, mas como você estava na água eu não queria perder uma oportunidade como essa - Alex levantou as sobrancelhas e notou que ela parecia nervosa e não era esse o efeito que queria causar nela. Passou as mãos pelos cabelos molhados e fez um novo penteado.

- Opa, sem problemas, não precisa perguntar não, você é fotógrafa, tirar fotos espontâneas é com você mesmo. Eu vim aqui mesmo para perguntar sobre isso e saber também como elas ficaram. - ele esticou o pescoço para ver se conseguia ver a tela da câmera, mas sem sucesso.

Emília viu o que ele fez e se aproximou dele para lhe mostrar as fotos, ele ficou bastante impressionado com todas elas e pediu para que ela o mandasse as fotos.

- Posso te passar o meu número para você me mandar as fotos? - Alex perguntou.

- Pode sim. - Emília tirou seu celular da bolsa e perguntou ao Alex qual era o seu número e assim que ele disse ela digitou e o adicionou em seus contatos e lhe mandou um oi.

- Como eu não estou com meu celular aqui agora, acho melhor esperar eu chegar em casa para eu te mandar um oi e você ter certeza de que sou eu antes de mandar as fotos.

- Tudo bem.

- Por sinal - ele riu de nervoso, estava pingando de água salgada, passou as mãos pelos cabelos molhados novamente e respirou fundo - Eu esqueci de dizer o meu nome - ele coçou a cabeça - Eu me chamo Alex, muito prazer.

- Emília, o prazer é todo meu. - ela sorriu.

Os dois começaram a caminhar juntos pela praia e surgiu uma conexão incrível entre os dois, como se as ondas do oceano estivessem conspirando para uni-los. As conversas foram se tornando animadas e Alex gostou da personalidade de Emília, ela tinha um jeito único e ao mesmo tempo natural de ser, não era como as outras pessoas, como artista ela tinha um jeito único de pensar e via as coisas de uma forma completamente diferente das outras pessoas. Alex entendeu seu jeito pois também via o mundo de outra forma, por conta das ondas ele sentia tudo que muitas pessoas não conseguiam sentir e foi assim que perceberam que tinham muito mais em comum do que imaginavam.

A conversa continuou por alguns quilômetros, conversas animadas que ecoavam pela praia e traziam alegria, até que eles começaram a compartilhar histórias de verões passados e sonhos futuros. Alex revelou a Emília a difícil jornada que estava enfrentando após o acidente que teve, e como a praia e o surf eram sua terapia. Ficar longe do local por um tempo fez com que Alex obtivesse um pouco de depressão e não conseguisse conversar e nem socializar com sua própria família, isso foi diminuindo aos poucos quando ele começou a fazer fisioterapia e sarou completamente quando seu machucado também cicatrizou. Ele voltou para a praia e para a sua maior paixão que era a água.

Emília, por sua vez, compartilhou suas paixões por música e inspirações de pessoas que fizeram com que ela se apaixonasse pelo mundo da fotografia que capturava a beleza efêmera da vida. Até que tocaram em assuntos mais familiares e descobriram que tinha a mesma nacionalidade por parte de seus pais. Ambos eram filhos de brasileiros, mas nasceram nos Estados Unidos. A alegria irradiou no coração de Emília quando Alex disse ser também brasileiro. Por mais que fosse rodeada por seus familiares brasileiros, conhecer outra pessoa que também entendia sobre sua origem e os seus costumes era incrível.

- Você também é brasileiro? - ela perguntou animada.

- Sou sim.

- Então você fala português fluentemente? - ela perguntou em português.

- Eu falo sim, o que você gostaria de falar? - ele respondeu em português e os dois começaram a rir - Eu sou filho de pai Italiano e mãe brasileira, aprendi um pouco dos dois, às vezes era confuso porque minha mãe só falava português e meu pai só italiano, mas eu fui pegando o jeito. O problema mesmo foi na escola que aí eu tive que aprender o inglês também. Imagina uma criança com tanta informação assim na cabeça. - ele riu.

- Eu imagino que tenha sido confuso, comigo foi quase a mesma coisa, só um pouco mais fácil já que ambos os meus pais são brasileiros então eles sempre conversavam em português comigo, e o inglês eu aprendi na escola também.

- Fico até com inveja assim, você aprendeu bem menos idiomas do que eu. - ele disse.

- Mas até que é bom você saber vários idiomas, isso te ajuda demais lá fora.

- Isso é verdade.

À medida que as estrelas pontilhavam o céu, eles perceberam que aquele encontro era mais do que uma simples casualidade de férias. Alex obteve coragem e perguntou a Emília se ela gostaria de sair com ele no dia seguinte, ela aceitou sem pensar duas vezes e uma faísca de romance iluminou aquela noite, e ambos sentiram que estavam prestes a embarcar em uma jornada única. Se despediram com o encontro já marcado e ambos foram para lados opostos sentindo uma enorme alegria no coração. 

Ondas do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora