Na segunda-feira, fui fazer meu turno usual no trabalho. Para pagar as contas, eu trabalhava como garçonete em uma lanchonete próxima ao campus de uma faculdade comunitária.
Eu era uma recém-contratada e desde então estive trabalhando naquele lugar fazia quase uma semana e meia. Meu antigo emprego era, também, servir mesas, mas depois que o estabelecimento fechou as portas, tive que procurar outro empregador.
Pode parecer que estou sendo vitimista, mas não tive muitas oportunidades na vida. Falo especificamente de educação pós-secundária, que é uma coisa cara no país. Enquanto centenas de jovens eram sustentados pelos pais ou se endividavam para obter um bacharelado, eu me preocupava em manter um teto sob a minha cabeça e a de Madison. Ingressar em uma faculdade fazia parte de sonhos impossíveis.
Ao contrário de mim, Liam, você fazia faculdade. Naquele ano você estava concluindo o programa de créditos obrigatórios e logo iniciaria a graduação.
Aquela segunda era para ter sido mais um dia ordinário e pacato na minha vida sem graça. Entretanto, mais uma vez o universo conspirou contra o equilíbrio do mundo nos colocando no mesmo ambiente.
Algo ou alguém te fez aparecer no meu caminho pela segunda vez.
Eu estava num canto do balcão abastecendo os porta-guardanapos. Não via quem entrava ou saía da lanchonete. Em algum momento, você chegou com seus amigos e todos se sentaram a uma mesa, aguardando serem atendidos.
Emily, uma colega de trabalho, de repente chegou perto de mim equilibrando uma bandeja com pratos de comida.
— Devlin, eu acabei me enrolando. Pode cobrir a mesa nove para mim?
Ela nem sequer me esperou responder e deu o fora, o que me causou uma ligeira irritação.
Peguei o bloco, a caneta, e fui até a mesa.
— Já sabem o que vão pedir? — perguntei para o trio de rapazes.
Ao ouvir minha voz, você tirou os olhos do cardápio para me olhar.
Te reconheci no mesmo minuto, meus olhos se arregalando levemente. Pela sua expressão de surpresa, você também pareceu ter se lembrado de mim.
Esse mundo era mesmo pequeno.
Não tive um tempo adequado para digerir o choque que foi rever você, pois seus amigos começaram a fazer os pedidos. Anotei cada um deles.
Na sua vez, você apontou para uma coisa simples no cardápio.
— Quero isto aqui — você disse calmamente.
Conseguia sentir seu olhar cravado em mim enquanto eu anotava na comanda o que você queria. Eu também sentia os olhares descarados e curiosos dos seus amigos.
Eu não era estúpida, tinha plena ciência dos meus dotes físicos. Mas também não tinha do que me gabar. Sim, possuía meus atrativos, mesmo assim... eu era realista. Sabia que tinha uma beleza comum. Nada extraordinário.
Agora que pensei nisso, como será que você me descreveria?
Meus cabelos eram na tonalidade castanho-médio e curtos, batendo um pouco acima dos ombros. Eu os usava partidos para o lado, e o corte tinha as pontas alongadas na frente. Quanto aos meus olhos, eram verdes, uma herança genética maldita.
Por experiência própria, sabia que minha aparência despertava o interesse de determinados tipos de homens.
Mas não de qualquer homem.
Um dos meus braços era coberto por tatuagens. A parte superior da cartilagem da minha orelha direita era perfurada duplamente por um piercing transversal. O acessório prateado devia estar reluzindo naquele instante, pois eu havia colocado meu cabelo para trás da orelha.
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Para o príncipe quebrado
Romansa"Você não tinha medo de monstros e foi capaz de amar o pior deles: eu." Nos contos de fadas, o príncipe sempre se apaixona pela princesa. Mas e se ele tivesse se apaixonado pela bruxa? Bem-vindos(as) à chocante, trágica e perturbadora história de...