Amável e protetor

475 22 11
                                    

10 de Novembro, 2023

Eu estava disposta. Acordei, coloquei uma roupa, fiz minha higiene pessoal, sem muita criatividade arrumei meu cabelo em um perfeito coque, desci e encontrei meu filho na cozinha comendo.

— Bom dia mamãe!

— Bom dia meu amor - lhe dou um beijo rápido na cabeça e me sento - já arrumou seu material escolar?

— Já. A Maria me ajudou, eu não estava conseguindo achar meu caderno de artes.

— Estava em cima da mesa da área filho, eu já te disse pra tomar cuidado com seu material, sim?

— Eu sei mamãe, é que as vezes eu me esqueço.

— Tudo bem, meu amor! - Bagunço seu cabelo e aperto suas bochechas.

— A senhora vai sair agora?

Engulo em seco meu café, não queria dizer que eu estava indo na delegacia denunciar seu próprio pai, afinal, eu queria deixá-lo o mais fora disso possível. Ele era um ótimo menino, um filho maravilhoso e atencioso, e definitivamente não merecia passar por isso que estava passando. Por mais que ele não me falasse de seus sentimentos em relação ao que estávamos passando eu sentia em seu olhar triste que ele não estava bem e isso me machucava. Na infância eu também presenciei diversas brigas e discussões de meu pais, meu pai era um homem extremamente autoritário, soberbo e agressivo. 

Claro, isso me gerou diversos traumas e gatilhos. Um dia jurei para mim mesma que jamais iria deixar um homem me tocar e ou deixar que meu filho presenciasse algo do tipo e isso me doía profundamente... eu falhei. Me pego olhando-o fixamente enquanto percebo minha visão borrando por causas das lágrimas que ameaçavam cair. Pisco os olhos e finalmente o respondo.

— Vou resolver umas coisas antes de ir pro trabalho. - omito

Depois de tantas perguntas, agradeço que o transporte escolar dele tenha chegado. Desde pequeno eu tenho o costume de levá-lo à escola, mas ultimamente tenho deixado esse papel nas mãos de um transporte escolar. Tudo me estava dando medo, até uma simples caminhada matinal pela rua do meu condomínio.

O relógio já marcava 8:30 da manhã. Estava chovendo, coloco um casaco por cima da minha blusa, um óculos preto para evitar ser fotografada e vou sentido a delegacia.

Eu estava com o coração cheio de esperanças de que depois de toda essa tempestade viesse  finalmente a minha tão sonhada calmaria e felicidade. Eduardo estava viajando, mas nunca deixava de se comunicar comigo por mensagem, sua última mensagem havia sido me desejando boa sorte e me perguntando o motivo de eu trocar de número. 

— Finalmente - suspiro ao entrar em meu carro. 

Tudo havia saído bem na delegacia, tive um apoio de umas delegadas mulheres que me apoiaram, sair de lá com minha medida protetiva em mãos. Olho no espelho do retrovisor, tudo bem, ligo o carro e vou direto para os estúdios do hoje em dia. 

— Então era isso que você queria?

Me assusto ao entrar em casa e vê meu ex-marido me encarando, em suas mãos estavam um celular mostrando o que parecia ser um print de alguma notícia. Confesso que forcei um pouco meus olhos para tentar ler o título, mas desistir. Afinal, o que isso me importava?

— O que você quer aqui? Essa casa não te pertence, eu não te pertenço, nada - grito um pouco - nunca mais te pertence, então se não se importa - me afasta e caminho até a porta abrindo-a - pode ir. 

Vejo como ele se aborrece e caminha até mim furioso. Me sinto acuada, uma onda de medo invade meu corpo, mas essa não era a Ana Hickamann que eu conhecia, então permaneço ali. 

— Você - ele põe a mão sobre me braço esquerdo - vai me ouvir - o aperta com força.

Sinto como seus dedos fortes pressionava e dilatava cada vaso sanguíneo presente em meus braços. 

— Você está me machucando!! - Trinco os dentes tentando evitar o choro que se acercava, posiciono meu braço direito para frente e tento empurrar ele. Em vão, sua força era absurda. 

— Larga ela - suspiro ao escutar uma voz potente e grossa surgir atrás de mim - era o Edu. 

Ele vinha carregado uma mala pequena de mão e uma mochila nas costas. 

Alexandre se afasta. E eu logo me sento passando os dedos sobre meu braço machucado. 

— Seu idiota, qual seu problema? - Vejo como Eduardo o pega firmemente pela gola e o encara - vaza daqui ou chamo a polícia. Você pensa que ela está sozinha? Não está.

— Ah claro, agora a princesa tem o cozinheiro como escudeiro fiel? 

Eduardo o encarava, seu semblante era sério, odiava injustiças. Resolvo me levantar e ficar do lado dele, queria evitar mais agressões, não queria que ele se machucasse, não valia a pena. Nisso, o previsível acontece: Alexandre começa jogar em nossa cara que estávamos tendo um caso, o que não é certo, sobre isso eu prefiro não opinar ainda, era algo que não estava resolvido em minha mente. 

Mas eu sabia claramente que Eduarda estava tentando, estava usando suas tácticas, eu sabia que ele me amava, o que era recíproco. Eu o amava intensamente e sempre o amei, mesmo que em segredo. 

— Ele já foi - Eduardo me abraça - fica tranquila! E desculpa por chegar sem avisar, eu queria te fazer uma surpresa, mas jamais imaginaria que seria assim.

— Você  chegou no momento certo - o abraço por cima dos ombros e me sinto totalmente acolhida ao sentir como ele beija minha cabeça e aperta de minha cintura. 

— Você já tem sua medida?

— Já sim.

— Maravilha. Amanhã então a polícia já deve notificar ele. 

— Espero que sim.

No dia seguinte...

Era um sábado de sol. A luz do mesmo passava por entre as linhas de minha cortina e me despertara da melhor maneira: com um pé intrometido passando por cima de minha cintura. Ainda com os olhos fechados, faço uma leve massagem e sinto como ele sorria com as cócegas que eu o fazia.

— Bom dia mamãe. 

— Bom dia amor. 

— O tio Edu chegou hoje bem cedo, está na cozinha com a vovó fazendo o nosso café da manhã, eu pedi panquecas e ele disse que ia colocar calda de chocolate. - Ele passa a língua por entre os lábios e sorrir sapeca.

Me levanto, coloco um roupão, minhas pantufas, escovo os dentes e desço. 

— Olha só, que surpresa - Sorriu e o abraço - bom dia senhor!

— Bom dia princesa! Hoje a cozinha é minha e da sua mãe, então campeão - ele pisca um olho para Alezinho - você já sabe o que fazer...

— Sim capitão. 

Ele pega minha mão e me guia para fora de casa.

— Vamos mamãe, vamos ver como está o sol, a paisagem, o vento e tudo mais...

— O que vocês estão aprontando?

— Nada - ele rir 

Aproveito que já estava fora de casa, e olho minha caixa de correio, mesmo sabendo que ultimamente eram apenas cobranças e mais cobranças sem contexto. Entre os milhares de envelopes, me aparece um chamativo na cor cinza. Pensei que talvez fosse carta de fã.

"Posso tirar de você aquilo que você considera mais precioso na sua vida. Então pense em suas escolhas, ou ele, ou o seu filho. Estou te vendo, estou te olhando, não importa onde, mas lá estarei eu. Ah, não veja isso como ameaça, e sim como aviso."



Infinito RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora