O desejo

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Trabalhos, advogados, programa, fotos, academia, médico e hospital. Resumidamente assim estavam minhas últimas semanas depois de acompanhar a primeira corrida do meu namorado, estávamos nos encontrando pouco tempo, os bate-papo antes demorados, agora eram conversas rápidas pelo celular. 

Meu filho estava internado, ficara assim depois de pegar uma forte gripe e consequentemente uma pequena pneumonia após as trocas de clima constante entre Itu e São Paulo. O que me forçou ter mais contato com seu pai, visto que, ele sempre lhe fazia visitas ao hospital, ou trocávamos os turnos. Mas graças a Deus, naquela manhã ele estava recebendo alta hospitalar.

— Mamãe. - ele chama minha atenção enquanto eu guardava suas roupas na pequena mochila dos dinossauros - hoje mesmo, - ei mamãe, presta atenção - ele puxa meu braço - sabe o que eu quero jantar?

— Suponho que muita comida japonesa, acertei?

— Sim! vamos no restaurante de Sorocaba? 

— Vamos!

— Chama a Mariazinha e tio Edu, faz tempo que não os vejo. E eles nem vieram aqui me visitar, Maria me prometeu quando eu liguei para ela que viria aqui para gente brincar juntinhos.

— Ela veio amor, mas acontece que no dia que ela veio, você tinha tomado uns remédios para se sentir melhor e acabou dormindo. Não lembra? - aponto para um bolsa cheia de brinquedos - e ela te deixou alguns brinquedos. 

— Ah, verdade.

— E no dia seguinte, ela viajou para Miami. Foi comemorar o aniversário com algumas amiguinhas no Estados Unidos. Mas hoje, ela é todinha sua. Vou ligar para eles, tá bem?

Alguns dias se passaram. E eu não comentava com ninguém, mas algo estava me incomodando, talvez por questão de estética ou desconforto: Minha barriga estava um tanto grandinha. Já não queria usar biquínis, pois me incomodavam, e isso estava me afetando em todos os sentidos, principalmente nos meus momentos de amor com Edu. Para ele? claro, zero problemas. Em seus olhos era uma deusa, linda, sem nenhum defeito. Mas para mim, não. Me sentia gorda, inchada e acima do peso, subir em uma balança entrou para minha rotina. E claro, alguns comentários sobre uma suposta gravidez me faziam com que eu ficasse nervosa. Afinal, eu estava gorda? Sei que são traumas e gatilhos deixados pelo meu último relacionamento, mas, sabia também que aos poucos eu ia me curar. 

A possibilidade de gravidez eu mesma já havia descartado desde o primeiro exame de sangue que fiz quando eu sonhei com uma menininha. Deu negativo. Era impossível. E eu não ia permitir que esse sonho frustrado me fizesse mal. Ano passado eu já havia começado um tratamento para engravidar novamente. Minha médica me disse que era impossível  uma gravidez natural por agora, justamente por isso não criei e não irei criar expectativas.

Já tive essa conversa com ele. Ele disse que tudo é no  tempo certo, me confortou, me abraçou, e por fim me beijou. Eu sabia que isso também era seu sonho, já havíamos comentado sobre futuro, família e claro: casamento. 

— Olha, o que eu trouxe! - uma ramo de flores - espero que goste.

— Que lindas, amor! - o beijo - obrigada. Não precisava se preocupar, está tudo bem!

—  Eu sei que sim, minha vida! Mas só queria lembrar o quanto você é especial para mim!

Cheiro as rosas, estavam lindas, cheirosas e delicadas. Eu amava receber flores, e amava como ele me cuidava perfeitamente, era muito detalhista. Sinto como ele me abraça, e afunda a cara em meu pescoço. Ele tinha razão, eu não estava bem:

Ontem pela manhã tive uma consulta ginecológica, me tornei oficialmente uma tentante. Não foi uma consulta de exames, mas, apenas para receitar alguns medicamentos. No meu silêncio irei fazer meu tratamento para engravidar, sei que não iria ser da forma natural como eu tanto sonho. Mas eu queria muito, naquele momento, engravidar. 

— Ei - ele seca meu rosto. - você acabou de dizer que estava tudo bem! - afaga minha cabeça sob seus ombros incrivelmente cheirosos - quer me contar?

— Não é nada! Apenas me sinto sensível. - o beijo - mas - seco meus olhos - vamos falar sobre você. Tudo certo para corrida de Portugal?

—  Não, eu quero falar sobre você,  Aninha!   

Ele me puxa até o sofá, afasta o ramo de flores e me faz sentar em seu colo. 

—  Tudo bem. 

Respiro.

Olho para a almofada do lado, a levanto, e pego alguns medicamentos que estavam amontoados e escondidos por embaixo dela. Os pego em minha mão e estendo até ele, me sentia envergonhada por esconder algo tão banal dele. Vejo como seu rosto muda, sem semblante antes sério, muda. 

—  Amor. - ele sussurra - já conversamos sobre isso Aninha! - sua mão dispara até minha bochecha úmida - tudo no seu...

— Tempo! - completo. - sim, eu sei. Mas, eu quero isso mais que tudo! Esse é o meu momento, se não for agora, não será nunca. Meu corpo está mudando, meus órgãos, meus óvulos, meu útero e muitas outras coisas.

— Ei, esse não é o seu momento, todos os momentos são seus. Para mim você está linda, e eu te amo como um louco, como nunca amei ninguém. E, não vai ser um bebê ou a falta de um que vai mudar meus sentimentos. Não quero que seus traumas do passado te façam pensar que "o tempo está acabando para você" como durante anos pregaram para você. 

 — Promete que isso ficará somente entre nós?

— Sim! - ele me abraça e me beija.








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