A corrida

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Há algumas semanas fizemos o aniversário de Alêzinho. Foi algo simples: festa na piscina, guloseimas, brincadeiras e muita diversão, mas tudo muito bonito e com muito amor, ele amou, eu amei, a família amou e os amiguinhos também. Após, o aniversário dele, resolvemos enfim contar sobre nossas novas mudanças.

— E meu amigos, mamãe?

— Você pode vê-los sempre que quiser. Ou pode convidá-los para ir em São Paulo brincar com você, tenho certeza de que vai amar sua escola nova, com novos amigos, professores e também a Duda vai estudar com você, na mesma escola.

— Então quer dizer que podemos ir todos os dias na sorveteria do tio Edu? Caramba, isso é muito legal. 

Dou apenas um sorriso. Meus olhos estavam quase fechando de sono, eu estava deitada com ele em sua cama, na tentativa que ele dormisse o mais rápido possível. Acaricio seus cabelos loirinhos e sua bochecha que estava geladinha pelo ar-condicionado. 

— E meu pai?

— Seu pai... - ajeito seu ursinho nos seu braço  e o cubro até o pescoço - o quê tem ele?

— Digo, ele não vai se importar se fomos ficar um tempinho com o titio? 

— Acredito que não, seu pai hoje tem outras preocupações - tento amenizar minha fala, para não causar tanto impacto  - e, estamos fazendo isso pelo trabalho da mamãe, estou tendo muitos trabalhos em São Paulo, e vai ficar mais fácil a gente viver lá por um tempo.

— Então tudo bem. Mas eu não sei se gosto da ideia de sair dessa casa grande e com piscina, mamãe. Aqui estão minhas maiores e melhores memórias de infância. 

Sinto meu coração apertar. Ele era um garoto tão compreensível, e forte ao mesmo tempo. Não deixava de demostrar seus sentimentos mais puros e ele estava certo. Ali, foi o lugar onde ele nasceu, deus os primeiros passos, nasceu seu primeiro dentinho, lugar onde o vi crescer, correr, brincar, nadar sozinho, andar de bicicleta sem rodinha, ralar pela primeira vez seu joelho, dentre tantos outros acontecimentos importantes em nossas vidas. 

Era injusto, que eu estivesse na melhor fase da minha vida, depois de tantos anos trabalhados duramente: ter que me afastar do lugar onde vi meu filho nascer e crescer por causa da pessoa que me jurou amor por tantos anos e no fim me jogou na lama. 

Quando sinto uma lágrima sair pelo canto dos meus olhos, olho para cima, respiro fundo, e beijo sua testa, ele já havia dormido, no curto espaço em que milhares de pensamentos atravessaram minha cabeça. Amanhã, seria um dia cheio, logo pela manhã seu avô paterno viria lhe pegar para mais um fim de semana. E eu iria acompanhar meu namorado em uma corrida. 

Vou até meu quarto, tomo um banho, coloco meu melhor pijama e ligo para Eduardo.

— Preparado?

— Um pouco, hoje fiz alguns treinos e estou aproveitando agora para descansar. E você está preparada?

— Pra quê?

—  Amanhã você vai correr comigo!

— Nunca, eu tenho um filho para criar. - Solta uma gargalhada - desculpa amor, mas você sabe que tenho medo dessas aventuras.

— Ah, para né? Nem parece a mulher que subia em um guindaste há anos atrás para gravar o hoje em dia. Você é corajosa amor, e além do mais, vai ser só uma voltinha comigo. Esse seria meu melhor troféu, ter você ao meu lado em meu melhor hobby. 

Era inevitável negar isso, ele tinha razão, eu era corajosa, adorava aventuras, e talvez fosse o fato dos últimos acontecimentos em minha vida que aumentou o medo  de me aventurar demais e acabar deixando meu filho sozinho no mundo. Penso um pouco e decido aceitar, afinal, eu confiava cem por cento no cuidado dele por mim.

Infinito RecomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora