Well done, love

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Alex estava exausto, como esteve no dia anterior, e no anterior, e provavelmente estaria no dia seguinte. Seus olhos, cansados mal enxergavam mais, seu cérebro, mal funcionava, as letras dos livros, apenas letras, nenhuma palavra fazia sentido. Eram seis da manhã, ele não dormira à noite, o nascer do sol alaranjado invadindo seu escritório através das persianas, a porta entreaberta, ele ouviu uma batida, e em seguida ela abriu-se, lentamente.

— Alex? — Disse uma voz especialmente britânica e rouca, quase como um sussurro elegantíssimo invadindo seus ouvidos, juntamente ao cheiro magnífico de café fresco, misturado com perfume cítrico e refrescante, que invadiu o ambiente quando Henry entrara.

Alex erguera o olhar, as olheiras profundas e escuras, o olhar caído e sem vida. Henry suspirou, demonstrando uma expressão compadecida, todos os músculos de seu rosto se contraindo em pena, e se aproximou, posicionando a xícara diante do mais alto na mesa, em meio a todos os livros e anotações para as provas. O louro colocou-se atrás de Alex, e tocou seus ombros tensos, na intenção de aliviar, ao menos um pouco, o peso das noites não dormidas. O moreno mexia a cabeça, esticando o pescoço de um lado para o outro, suspirando, conforme sentia os dedos de Henry desfazerem alguns nós dos trapézios ansiosos.

Quando se conheceram, Alex e Henry não se deram bem. Henry mal falava com ele, era como se Alex fosse nada além de um estranho que rachava o aluguel do apartamento, o que, de certa forma, era verdade, porém, ele nem sequer tentava conversar com ele, e vê-lo como ser humano. Meses depois, eles viraram amigos, por causa de uma bebedeira não intencional na sacada. Henry havia acabado de terminar um relacionamento com um outro professor, e estava arrasado, tão bêbado que mal sabia onde estava. Então Alex servira de ombro amigo, e companhia alcoólica, e dessa forma, descobrira que Henry tinha, na verdade, ansiedade social, e não tentava socializar por medo de rejeição. Após um ano vivendo juntos, eles viraram melhores amigos, confidentes e inseparáveis. Alex ainda não acreditava quando pensava nisso, mas Henry era seu melhor amigo do mundo todo, o único capaz de colocar juízo em sua cabeça, o único capaz de acalmá-lo. Ele tinha uma voz adocicada, grave e levemente rouca, era um deleite para os ouvidos, os olhos mais gentis possível, fazia as melhores massagens e o melhor café, além do chá delicioso, tão britânico. Alex se perguntava de onde aquele anjo saiu, como a personificação da Inglaterra, reencarnação da princesa Diana, foi parar morando consigo em um apartamento em Nova York, dando aula para crianças de até seis anos de idade, tratando-o como uma criança de até seis anos de idade.

— É quarta-feira, não é? Você não tem aula hoje. Faz dias que não te vejo dormir, Alexander, quando foi a última vez que saiu dessa cadeira? Precisa descansar!

Caralho, ele era muito atencioso mesmo.

Alex não respondeu, apenas assentiu. Henry não sabia o que aquilo significava, exatamente, porém, não tentava entender, ele sabia que o moreno estava exaurido, e tinha certeza de que ele sequer estava ouvindo. Mas não importava. Pobre Alex.

— Sabe, Alexander, você é idêntico aos meus alunos, as vezes — ele riu, e depositou um beijo suave no meio dos cachos de Alex, que pegara a xícara de café em mãos, e tomara o primeiro gole — crianças de seis anos de idade dificilmente ouvem, exatamente como você.

— Obrigado, Fox — ele sussurrou, fitando a mesa, todos os papéis espalhados. — Eu tenho tantas provas nas próximas duas semanas. E eu simplesmente não consigo aprender. Que inferno, eu sou péssimo! — resmungou, jogando a cabeça para trás. — Essa desgraça de ansiedade de merda, puta que pariu, Henry, eu vou ficar maluco!

— Olha a língua, Alexander! — Exclamou, soando como o verdadeiro professor de jardim de infância que ele era. — E você não é péssimo! Não diga isso! Escuta, Diaz, eu preciso ir para a escola mais cedo hoje, as crianças vão se apresentar para o dia dos pais, e eu tenho que ensaiá-los — ele respirou fundo, fazendo uma pausa para pensar, e então dando a volta na mesa, para ficar frente a frente com Alex, que encarou seus olhos claros e gentis. Henry sofria de insônia, mas mesmo assim, durante aquela semana maldita na vida de Alex, ele conseguiu fazê-lo parecer descansado, comparado consigo mesmo, a pele lisinha, corada, saudável, os lábios voluptuosos avermelhados, ele parecia de porcelana, era óbvio que aquele britânico maldito trabalhava com crianças, era a coisa mais delicada do mundo. — Você vai aproveitar que não tem aula hoje e vai dormir até eu chegar do trabalho. E então nós estudaremos juntos, até um horário aceitável, e após isso, você vai ter oito horas de sono para ir para a faculdade amanhã. Combinado?

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