1 - FRED

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Lá estávamos nós doze, parados diante de uma parede de arabescos dourados em um fundo branco, pensando em como raios iríamos sair daquele labirinto sem fim. Theodine já lançava uma de suas patadas ocasionais em Noah e o clima começava a se tornar ainda mais caótico, apesar de eu ter percebido que o cara tinha um temperamento muito mais calmo do que a garota de cabelos amendoados.

Certo, essa não foi uma boa maneira de começar. Mas, acordar amarrado e amordaçado numa maca cirúrgica e um quarto estéril, sem nenhuma força para conversar com um holograma azulado dizendo que você precisaria sobreviver junto de outras pessoas, também não é uma boa maneira de descobrir que você está vivo.

Cada um de nós teve contato com uma de três formas holográficas assim que acordou: uma garota, um homem e uma mulher. Quem conversou comigo foi a terceira, Fayola. Uma figura alta e esbelta de pele escura e olhos claros, e era apenas isso que eu conseguia distinguir na imagem semi-transparente dentro penumbra do quarto. Recebemos uma mochila, roupas novas e não lembramos de mais nada antes daquele momento, apenas nossos primeiros nomes. Éramos órfãos? Talvez. Nascidos em algum tempo que não recordamos, com famílias que poderiam ou não ter nos abandonado.

Eu fui o último a sair do quarto, encontrando onze pessoas espalhadas por um corredor tão branco e tão claro que me deixou momentaneamente cego. Nesse processo, derrubei Pasha, que estava recostado à porta, provavelmente sem pensar que alguém poderia o colocar naquela situação a qualquer momento. O garoto era alto e ruivo, com olhos castanhos-escuros. Usava um corte militar e a mesma combinação de roupas que o resto de nós: calças cargo e camiseta em cores verde-escuro, preto e cinza. Foi simpático e riu de si mesmo depois de levantar. Rapidamente me dei bem com ele e com Noah, a segunda melhor interação da hora.

Ele era o oposto de Pasha em aparência. Cabelos escuros e olhos azuis perfurantes, de estatura mediana. Apesar de mais sério, ele era prestativo e tinha um temperamento de liderança. E , é claro, a estrelinha Theodine. De todos nós, ela e Leonard eram os que tinham os gênios mais explosivos e ignorantes. Apesar de menor do que a maioria das outras garotas, ela exibia um semblante fechado e de poucos amigos. A primeira coisa que ela disse quando saí do quarto foi:

– A princesa já terminou seu skincare?

Acredite em mim, todo o deboche que você puder imaginar não é nada comparado ao que ela conseguiu expressar em uma única pergunta. Ela é irritante e prepotente, mas também é genial.

Niiyama era uma garota asiática que não havia falado uma palavra até o momento. Noah disse que ela foi a quinta integrante a se juntar ao grupo e tem permanecido silenciosa desde então. Porém, diante da situação em que nos encontrávamos, presos no fim de um interminável corredor branco (que mais parecia um labirinto), a primeira a encontrar uma pista de como poderíamos sair dali foi ela.

Gesticulando para pedir pézinho a Leonard, ela subiu e ficou de pé em seus ombros. Obviamente, ela escolheu subir em cima do cara mais alto do lugar porque queria alcançar o teto.

– Cuidado com os olhos! – Reclamou o garoto,  enquanto segurava os pés de Niiyama.

Ela tateou a superfície até encontrar um ponto específico e parar subitamente. Deu alguns soquinhos e ouvimos com atenção. Todo o teto parecia ser oco, provavelmente para tubos ligados a algum sistema de ventilação. Mas, naquele lugar onde ela havia parado, o som era de algo maciço. Niiyama se equilibrou melhor e empurrou com o máximo de força, revelando uma espécie de botão acima de sua cabeça. A estrutura se moveu um pouco, destacando levemente a circunferência que adentrava o teto. De repente, Theodine começou a tatear a parede de arabescos, como se estivesse procurando por algo semelhante ao que estava acima de nós. Quando chegou à extremidade inferior da parede, no canto direito, ela parou e sorriu.

– Qual a chance de um padrão de arabescos possuir uma única circunferência perfeita?

Me aproximei e observei junto dela. O lugar onde estávamos devia ter cerca de cinco de largura por quatro de altura, e era praticamente impossível algo como aquilo não ser proposital. Outros de nós estavam tentando entender o raciocínio quando eu anunciei.

– No três, empurre o mais forte que puder, Niiyama.

Me ajeitei para ajudar Theodine com a parede e contei. Conforme os grunhidos de força se intensificaram, a figura na parede era empurrada para fora. Quando atingiu uma distância confortável da superfície, começamos a puxá-la até escutarmos um estalo. Nos afastamos quando tudo começou a tremer e Niiyama caiu de cima de Leonard.
Fracos e assustados pelo que viria a seguir, assistimos enquanto a parede se movia e os arabescos se redesenharam como um caleidoscópio. Subindo e levantando poeira, os sons de uma multidão alvoroçada e enormes tambores tocando à distância começavam a aumentar gradativamente. Não sabia se havia ar em nossos pulmões ao vermos a cidade de Nova Iorque deteriorada e cercada como uma grande arena.

– Bem-vindos ao Coliseu!

CITIZENS - Cidadãos do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora