Dalila
— Lila me perdoa, mas você vai em uma festa comigo!
— Não vou não!
— Por favor, eu faço o que você quiser! Só me ajuda, eu te imploro. — eu sabia que se continuasse discordando ficaremos horas aqui, então como eu já estava exausta por conta do dia de trabalho, suspirei profundamente.
— Quando e onde? — reviro os olhos desistindo de tentar sair dessa furada.
— Amanhã às vinte horas venha até minha casa e vamos juntas.
— Tudo bem, mas você tá me devendo.
— Obrigada!! — ela faz aquele seu gritinho irritante, mas que eu amo — te amo pra sempre!!
Demoro um pouco para dormir, pensando na furada que Sarah deve ter me metido. Acordo no horário de sempre, então vou de casa em direção ao metrô para ir trabalhar.
O tempo estava um pouco nublado, mas não parecia que iria chover. Confesso gostar bastante quando o dia está assim. Vou caminhando devagar pois não estava atrasada, pra variar, espero um tempo até eu poder embarcar quando recebo uma mensagem anônima.
— Faze um completa?
Não respondo, apenas ignoro. Eu, infelizmente, sabia exatamente de quem era a mensagem, não precisava nem conferir o número. Quando saio do metrô percebo estar um pouco atrasada.
"merda achei que não ia me atrasar, será que me atrasarei todos os dias?"
Saio correndo, mas é um pouco difícil com esses saltos, então os tiro e sigo meu caminho. Um pouco perdida, porque eu nunca vim pra cá de metrô, ainda mais sozinha. Para piorar começa a chover, a chuva não era muito forte, uma chuva de primavera. Péssima ideia tentar vir pro outro lado da cidade sozinha.
Chego na casa de Allan sem fôlego nenhum, entro, por impulso, sem bater. Um erro. Lá está Allan, no segundo andar, na beirada do primeiro degrau, da escada, de cima para baixo. Ele tira os olhos dos papéis, me olha com uma cara fechada de desaprovação.
— Me... desculpa — faço uma reverência.
— Por que está molhada e... — ele olha da minha cabeça aos meus pés — de pés descalços?
— Eu... eu.. — respiro fundo tomando fôlego para tentar falar alguma coisa — me atrasei e vim correndo, mas não conseguia correr com esses sapatos, e pra ajudar começou a chover. — falo um pouco irritada.
Allan dá um leve sorriso de canto, perceptível apenas prestando muita atenção. Após esse breve evento catastrófico, nós vamos trabalhar. Olho a agenda de Allan, hoje ele só precisa trabalhar na empresa, então saímos da casa dele e vamos para lá. Fiquei um pouco chateada, estragou mais meu dia, bem que ele podia ter me avisado que iríamos para a empresa, assim eu não precisava ter passado por todo esse perrengue de vir até a sua casa.
Passamos várias horas na sala de Allan. Em silêncio, ele prefere assim, papéis após papéis para assinar, carimbar, colocar fora ou em ordem. Ele ia lendo e assinando enquanto eu ficava organizando os papéis necessários e mais importantes para aquele momento, para facilitar o seu trabalho.
Eu saí para almoçar, pois Allan me obrigou mesmo eu falando que estava sem fome, então procurei uma lanchonete ali perto. Havia vários restaurantes mas os que tinham uma aparência fina eu passava longe. Após caminhar um pouco encontro um local que parecia caber em meu orçamento, faço meu pedido. Pego um livro de minha bolsa, que deixo ali caso eu esteja em algum lugar e não tenho nada para fazer, fico lendo por alguns minutos.
— Com licença, há alguém sentado aqui?
Alguém pergunta e eu olho na direção da voz. Jackson. Faço que não com a cabeça, mesmo ele já ia se sentando, sem eu lhe dar permissão para isso. Guardo meu livro em minha bolsa.
"Como esses Ribeiro 's podem ser tão esnobes?"
— Eu estava passando aqui na frente, procurando um local para almoçar, e quando avistei essa bela moça que está à minha frente decidi vir conhecer este lugar.
Dou um sorriso sem graça, ele coloca os cotovelos sob a mesa e apoia a cabeça em suas mãos.
— É bom este lugar?
— Não sei, minha primeira vez aqui.
— Hum, posso te levar para outro lugar um pouco... melhor? — ele olha para a lanchonete.
— Tudo bem, está bom aqui, logo eu preciso voltar, seu irmão está esperando.
Meu pedido chega, e Jackson pede alguma coisa para o garçom, não sei o que é, não prestei atenção. Começo a comer, mas me sinto desconfortável pois Jackson ficava me encarando. Então decido perguntar.
— Você precisa de alguma coisa? — olho para ele o questionando.
— Não, apenas não sei o que conversar com você, por isso estou pensando no que falar. — ele ri sem graça — confesso que nunca tinha ficado sem assunto com uma garota antes.
Fiquei um pouco impressionada, mas não saber o que falar, não acredito nele, um cara como ele não fica sem papo.
— Como está seu dia? — pergunto, e ele me encara um pouco confuso.
— Meu dia? — ele sorri um pouco, eu concordo com a cabeça. — bom, eu estou um pouco entediado preso naquela sala que mais parece um cubículo.
— O que te deixa entediado?
— Papéis, papéis e papéis. — ele revira os olhos.
— E o que o deixaria feliz no momento? — ele sorri.
— Estar em uma festa, por exemplo, com alguma gata, ou várias?
Não consigo conter a risada, como pode ser tão confiante em si mesmo, me arrependo pois ele me olha com uma cara aborrecida.
— Mil desculpas — fico séria. — você é totalmente diferente do seu irmão, achei que vocês eram parecidos, mas é só a aparência mesmo.
— É claro que não — ele faz uma voz de chocado colocando a mão no peito. — eu sou mil vezes mais atraente do que meu irmão, mais gostoso também e...
— Tudo bem, eu não quero detalhes. — balanço minhas mãos em sua frente, rindo.
O garçom traz uma marmita e coloca a frente de Jackson. Ficamos em silêncio, nos olhando, e eu percebo a burrice que eu fiz, ele não é meu amigo e nem somos íntimos, ele é meu chefe, tecnicamente irmão do meu chefe, mas continua sendo a mesma coisa.
— Me desculpa, nós não temos essa intimidade toda para eu ficar falando da sua vida assim, senhor. — Jackson tira aquele sorriso sacana imediatamente de seu rosto, e seus olhos perdem totalmente o brilho.
— Por favor, nada de senhor, Jackson já está ótimo, não sou como meu irmão tão chato assim. Agora somos amigos senhorita.
Ele sorri e pega sua comida saindo do estabelecimento. Eu termino meu almoço e volto para a empresa, chego na sala de Allan e ele está sendo engolido por pilhas de papéis, eu começo a remover um pouco de sua mesa e coloco uma marmita em sua frente, vejo que suas feições são de alívio por eu ter lhe salvado de todos aqueles papéis. Ele para o que estava fazendo, olha para a comida e depois para mim.
— Você precisa comer.
Ele recua um pouco, e eu faço cara feia pra ele, o mesmo pega a comida e começa a comê-lá.
— Obrigado.
O resto do nosso dia passa sem muita diferença, papéis e mais papéis.
♡♡♡
Pedi permissão para Allan se eu poderia sair um pouco mais cedo do que o normal e ele deixou, e fez questão de me levar para casa, mesmo eu falando que eu poderia ir de metrô. Ele falou que era pelo almoço, por eu ter me preocupado com ele, e ele não se importava de me levar para casa, aceitei, mas fiquei um pouco desconfortável com isso. Não discuti muito, não valia a pena. Ele é teimoso.
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Entre o Caos e o Inferno
RomanceDalila é uma jovem à procura de emprego, que por conhecidencia, do destino, acaba encontrando um homem que está a procura de uma secretária particular. Com esse fato Dalila e Allan acabam se aproximando, mas cada um tem um segredo que não podem cont...