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Assim que cheguei ao aeroporto de São Paulo consegui logo avistar a minha tia-avó Neusa. Uma mulher de 65 anos bem conservada. A sua pele morena brilhava com a luz do sol da manhã, dando mais destaque às suas sardas. Sou sortuda de ter puxado os genes da minha mãe nisso. Os seus olhos eram de um tom mais verde que os meus e, enquanto os dela eram de um tom mais acastanhados, os meus eram mais azulados. O seu cabelo era castanho-escuro, todos de sua família o eram, menos eu. Acho que puxei o meu cabelo loiro ao meu progenitor, com exceção das madeixas descoloradas da minha franja, meu cabelo era loiro. Os traços da minha tia pareciam ter sido esculpidos às mãos dos deuses, detalhe por detalhe. Seu corpo estava em forma e ela tinha uns 10cm a mais que eu. Realmente parecia uns bons 20 anos mais nova. Já me chegaram a perguntar se eu era filha dela numa das outras vezes que vim morar para cá. Não os culpo, somos parecidas.Ela trazia consigo as minhas malas e acenava-me sorridentemente. Fui a correr até ela, sendo recebida fortemente pelos seus braços num abraço caloroso e apertado.
–Coral... Senti tanto a sua falta meu amor!
Ouvir o seu sotaque paulista sempre foi como música para os meus ouvidos. Sentia-me acolhida aqui. Mas sentia falta da minha mãe... ainda me sentia culpada de a deixar para trás assim.
– Também senti a tua falta tia - respondi-lhe dando o melhor sorriso que conseguia naquele momento, porém a minha voz cansada e triste denunciava que estava abalada com a situação toda.
– Oh minha querida... Deve estar exausta. Vamos, vou levá-la para casa.
Depois de cerca de meia hora finalmente chegámos à casa que eu tanto conhecia. Minha tia mora num condomínio fechado e privado, numa zona movimentada da cidade. É uma vivenda grande, realmente dinheiro para a minha família nunca foi um problema.
Assim que entrámos vi que algo estava diferente. Já se passaram alguns meses desde que aqui estive, é verdade, mas algo estava mesmo diferente. Não estou a falar de mobília e decoração da casa, mas sim de energia. Sempre fui uma pessoa sensitiva a esse tipo de coisas, conseguia detetar pessoas más através disso e perceber a presença de pessoas desconhecidas ao redor. E neste momento consigo dizer que há alguém novo nesta casa.
– Tia...
– Sim. - Interrompeu-me, já sabendo o que eu ia perguntar. Ela sabia que eu tinha essa sensibilidade. - Meu namorado, Admar, passará a morar aqui com a gente. Se lembra dele?
– Eu lembro-me, fico feliz por vocês!
Um sorriso apropriou-se dos lábios da minha tia quando a mesma me agradeceu. Ela parecia feliz com aquele homem, merecia depois de tudo.
Não passou mais de poucos segundos quando Admar apareceu vindo dos corredores da casa. Era um homem de pele negra, possuindo algumas rugas na face devido aos seus já feitos 70 anos. O seu cabelo era crespo e curto, preto como o céu da meia-noite, porém com algumas madeixas grisalhas e uma barba da mesma cor bem aparada. O que lhe mais denunciava a idade era, definitivamente, a típica barriga de cerveja que todos os tios têm.
A minha tia foi até ele e lhe deu um beijo.
– Oi meu bem, estavamos falando de você agora mesmo!
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É aqui que me sinto em casa!
RomanceCoral é uma estudante bigénero, proveniente da Folgosa do Salvador: uma pequena aldeia de Portugal. Ao completar 18 anos a jovem toma uma decisão que com certeza mudará o seu destino. Após terminar os seus estudos no ensino secundário decide sair da...