𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟏

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       Quase seis anos haviam se passado desde o dia em que os Dursley acordaram e encontraram o sobrinho no batente da porta, mas a rua dos Alfeneiros não mudara praticamente nada. O sol nascia para os mesmos jardins cuidados e iluminava o número quatro de bronze à porta de entrada dos Dursley; e penetrava sorrateiro a sala de estar, que continuava quase igual ao que fora na noite em que o Sr. Dursley ouvira a funesta notícia sobre as corujas. Somente as fotografias sobre o console da lareira mostravam o tempo que já passara. Seis anos antes havia uma porção de fotografias de uma coisa que parecia uma grande bola de brincar na praia, usando diferentes chapéus coloridos - mas Duda Dursley não era mais bebê; e agora as fotografias mostravam um menino grande e loiro no triciclo, no carrossel de uma feira, brincando com o computador do pai, recebendo um beijo e um abraço da mãe. A sala não continha nenhuma indicação de que havia outro menino na casa.

      No entanto, o pequeno Harry Potter continuava lá, no momento adormecido, mas não por muito tempo.

      Sua tia Petúnia acordará e foi sua voz aguda e gasguita que produziu o primeiro ruído do dia.

— Acorde! Levante-se! Agora! Ande! — o punho da mulher acertou a porta em cheio — Ande logo!

      Harry acordou assustado. A tia bateu à outra vez, e de novo, e de novo.

— Acorde sua criança preguiçosa! — gritou. Harry ouvi-a caminhar em direção à cozinha e em seguida uma frigideira bater no fogão. Virou-se de costas e tentou se lembrar do sonho em que estava. Era um sonho gostoso. Lembrava vagamente de uma motocicleta voadora.

      Não pode pensar muito mais, a tia acabará de voltar a porta.

— Você já se levantou? — perguntou.

— Quase — respondeu Harry.

— Bem, ande depressa, quero que você tome conta do bacon. E não se atreva à deixá-lo queimar! Quero tudo perfeito no aniversário de Duda.

      Harry gemeu, levou a mão ao medalhão em seu peito e fez uma leve careta.

— Que foi que você disse? — perguntou a tia com rispidez.

— Nada, nada...

      O aniversário de Duda - como podia ter esquecido? Deveria começar a se preparar pra ser acordado à noite por mais uma tentativa falha do primo de roubar seu medalhão. Talvez este ano Duda seja inteligente e não tente levar um choque ao encostar na joia que nunca sai do pescoço de Harry.

      Harry levantou-se devagar e começou a procurar as meias. Encontrou-as debaixo da cama e depois de retirar uma aranha de um pé, calçou-as. Harry estava acostumado com aranhas, porque o armário sob a escada vivia cheio delas e era ali que ele dormia.

      Já vestido saiu para o corredor que levava à cozinha. A mesa quase desaparecera de tantos que eram os presentes de aniversário de Duda. Pelo que via, Duda ganhara o novo boneco que queria, para não falar na segunda televisão e na bicicleta de rodinhas. Para o quê, exatamente, Duda queria uma bicicleta era um mistério para Harry, porque Duda era muito gordo e detestava fazer exercícios - a não ser, é claro, que envolvessem bater em alguém. O saco de pancadas preferido de Duda era Harry, mas nem sempre Duda conseguia pegá-lo.

      Talvez fosse porque vivia num armário escuro, ou porque seus tios muitas vezes o deixavam sem comida, mas Harry sempre fora pequeno e muito magro, até para sua idade. Parecia ainda menor e mais magro do que realmente era porque só lhe davam para vestir as roupas velhas de Duda e Duda era quatro vezes maior do que ele. Harry tinha um rosto magro, joelhos ossudos, cabelos castanhos escuros e olhos verdes que sua tia dizia lembra os de sua mãe, porém mais apagados, como se estivessem cobertos por uma névoa. Usava óculos redondos, remendados com fita adesiva, por causa das muitas vezes que Duda o socara no nariz.

𝐀  𝐍𝐄𝐖 𝐁𝐄𝐆𝐈𝐍𝐍𝐈𝐍𝐆 - 𝐇𝐚𝐫𝐫𝐲 𝐏𝐨𝐭𝐞𝐫 𝐈Onde histórias criam vida. Descubra agora