Sabe aqueles dias em que acordamos e tudo começa dando errado? Pois é. Esse era o meu dia. Desde que abri meus olhos tudo foi um verdadeiro desastre.
Começando com o meu atraso, que me tirou do sério por sempre tentar me manter pontual, vinte e cinco minutos atrasada para ser mais exata! O trânsito estava um inferno, e como se já não estivesse bom, entrei na rua errada, tive que fazer o retorno dois quilômetros a frente.
Estaciono na segunda vaga enfrente ao prédio azul, puxo o quebra sol e me olho no espelho, os olhos castanho escuro com a pupila dilatada se destacam no contorno do lápis preto, os cílios curtos com rímel, as bochechas e o colo rosado por estar nervosa era visível na pele extremamente branca.
– Céus, eu preciso de um pouco de sol.
Confiro o Delineado simples para ver se não borrou, foi feito na pressa antes de sair de casa, não era meu melhor trabalho, mas ficou aceitável.
Aprecio meu cabelo solto, o vermelho brilhando com o reflexo do sol, ajeito a parte de cima do meu vestido, era uma segunda pele de mangas longas, em um tom de vermelho cereja, confiro o pingente com a letra A do meu colar o arrumando. Fecho novamente o quebra sol e puxo minha mochila preta que estava no banco do carona, abro a porta do meu carro saindo para fora do mesmo. Mas quando ia bater a porta, percebo que a chave ainda estava no contato.
– Por Oxalá, oque raios eu tenho hoje?
Talvez fosse o nervosismo de estar trocando de psicólogo, infelizmente o meu antigo estava se casando e mudando de cidade
"Muito obrigada Dr.Thiago, você que casa e eu que lido com as consequências"
Solto um longo suspiro pensando no assunto e me inclino novamente para dentro do onix sedan 2023 preto, pego a chave e fecho a porta travando o carro.
Passo a mão na saia preta de meu vestido consideravelmente curto, oque deixava evidente a minha falta de bronzeado, começo a caminhar em direção a porta de vidro escuro a minha frente. Eu detestava a ideia de praticamente começar do zero com outro psicólogo, mesmo que o Dr.Thiago tenha feito as recomendações e claro mandado um resumo do meu caso ao seu colega de faculdade, mas mesmo assim isso não me tranquilizava!
Passo com o Dr. T desde meus quinze anos, além dele ser meu psicólogo eu era a sua conselheira amorosa, poxa! Eu o vi chorar por inúmeras mulheres e o aconselhei. Era cômico, Ia vê-lo para me tratar e era ele quem era tratado por mim, até o mesmo conhecer Maitê, Santa Maitê que o levou para dois estados de distância!
Bufo irritada, passando pela porta entro na recepção com uma decoração divertida, com sofás azuis e três mesas de centro que eram cubos coloridos e um tapete roxo com desenhos amarelos.
Caminho até a recepcionista ruiva com um penteado vibe "De repente 30" cheio de elastiquinhos e presilhinhas, a maquiagem colorida, e um conjuntinho social rosa neon com uma camisa amarela e uma gravata marrom, meia até a canela, amarela com ovelhas. Preciso falar que gostei? Pois bem, leio o nome "Layla" na plaquinha da lapela do Blazer.
– Boa tarde! Me chamo Amélie Rodríguez, tenho uma consulta às 17:30 Com o Dr. Freitas. Desculpe, sei que pediram para chegar até ás 17:00, mas eu realmente não consegui. - A ruiva sorri para mim mostrando suas covinhas rodeadas de sardas.
– Tran.. ops quer dizer, tudo bem! - Ela me dá uma piscadela. - Pedimos para chegar com trinta minutos de antecedência por ser sua primeira consulta, caso houvesse algo a ser repassado com a documentação, não se preocupe! Estarei adicionando a sua chegada na agenda da Doutora J! - Ela disse digitando no teclado do computador.
– Desculpe, DoutorA? Achei que era um homem... - ela me olhou equivocada.
– É, na verdade tanto faz... Eu não sou a melhor pessoa para explicar isso, sabe?
– Ah.. não tem problema, só não tinha percebido antes. Desculpe, hoje é um dia daqueles que parece não ter fim sabe? - disse pondo meus punhos um sobre o outro no balcão de madeira.
– Você parece exausta mesmo, tudo bem. Prontinho, só esperar um pouco, você é a última paciente do dia, quer um café, água ou suco enquanto espera?
– Não, obrigada! Sorri em retribuição e fui me sentar no sofá azul de dois lugares.
Peguei meu celular e vi que tinha inúmeras mensagens no grupo das minhas primas, fala sério, oque a de bom nesses coreanos? Mel estava na Coreia a uma semana, e já tinha convencido a Lala entrar em um avião e ir atrás dela, enfim me sentindo abandonada, vagabundas dorameiras, não considero mais minhas primas.
Vejo as mensagens no grupo do trabalho e reviro os olhos, sem tempo para falsidades, bloqueio o ecrã do celular e bato meus dedos no mesmo fazendo meus anéis fazerem barulho pelo contato com a capinha.
Quanto tempo demoraria? Eu só queria retornar para casa, me jogar no sofá e comer a pizza que sobrou de ontem cara... sério eu não deveria ter vindo. Bato minhas botinhas uma contra a outra em um ato repetitivo fazendo um barulhinho irritante, suspiro pensando e olho o lugar novamente, até meus olhos baterem na Layla, que me olhava com um olhar de "qual o seu problema em ficar quieta?" Paro imediatamente de bater os pés e os dedos.
– Perdão..- Digo baixinho e volto a desbloquear o celular, respondendo as minhas não primas.
Embora minha vontade fosse bater nelas. Fico mechendo no celular um pouco e organizo a minha agenda para semana que vem.
– Ei Amélie... Amélie! ops, Senhorita Rodríguez A Dra J irá te atender agora! - Olho para Layla que guardava algo em uma bolsa toda cheia de ovelhinhas coloridas, estou suspeitando que ela goste de ovelhas. Me levanto pegando minha bolsa com a mão direita a levando ao ombro enquanto seguro o celular com a esquerda.
– Segundo andar, a última porta a direita, não a como errar.- Ela sorri outra vez.
– Certo, obrigada!- Aceno para ela e vou em direção ao elevador, já dentro do mesmo, aperto o botão do segundo andar e as portas metálicas se fecham
Me encosto de costas para o espelho e puxo uma Halls de melancia do bolso, fui viciada nessas coisas e nem me pergunte o porquê! Abro a embalagem deixando a bala quadradinha na ponta da língua, degustando o sabor adocicado. Fecho os olhos e respiro fundo, ouço o "Plim" do elevador e suas portas se abrem
– E lá vamos nós! - Penso saindo da caixa metálica.
A minha esquerda tem uma sala parecida com a do térreo, e um corredor mais a frente, as paredes eram brancas com detalhes coloridos, esse lugar tem cor de mais pro meu gosto... enfim, caminho até o final do corredor e avisto uma porta dupla de madeira, bato duas vezes e ouço um sonoro "entre". Assim faço, abro a porta e olho a sala de tons marrons e cinza, diferente do ambiente fora dela, havia uma mesa grande de vídro no centro da sala com um laptop branco, ao lado esquerdo dois sofás pretos, em cima de um tapete de pelinhos branco, com uma mesa de centro redonda e uma caixa de lenços de papel sobre a mesma, além de um baleiro de vidro quadrado.
A esquerda uma estante de madeira, cheia de livros, que cobria a parede inteira, além de quadros espalhados pelas outras. Perto da janela uma mulher de altura média, talvez mais um pouco por conta dos saltos altos de cor preta, meia calça da mesma cor, a saia social que parava a uns seis dedos acima do joelho também era preta, um cinto preto com a fivela prata e para fechar com chave de ouro uma camisa social branca, de mangas longas os primeiros botões prateados abertos, os brincos pequenos e um colar de cruz, com stras pretos, no colo de pele pálida destacava, os olhos castanhos escuro eram marcados por um lápis preto e um delineado bem feito, nada tão pesado para horário, os lábios com um forte batom preto e dois piercings de argolinha, os cabelos totalmente pretos, lisos e curtos com certeza era o gran finale. Ela era uma mulher(?) muito bonita de fato, um pouco familiar, mas eu não queria estar aqui, por que eu vim mesmo? Desviei o olhar evitando que ela me visse revirar os olhos.
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Our Memories
RomanceQuando seu psicólogo se casa e tem que ir embora da cidade, outro vem o substituir. Mal sabia Amélie, que sua nova psicóloga seria uma pessoa de seu passado...