Desejo

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– Amélie... Correto?- Sua voz era suave e tranquila.

– Sim, está certo...- Acenei a cabeça sem olha-la fechando a porta atrás de mim.

– Ótimo, podemos começar?- Ela falou vindo me estender a mão com as unhas muito bem feitas em preto. Apenas concordei e retribui o gesto.

Ela me guiou até o sofá e eu me sentei depois dela, a mesma pegou um tablet e deslizou o dedo pela tela, eu cruzei minhas pernas e ajeitei minha postura, ficando totalmente ereta, e com as mãos espalmadas na coxa. Era preciso dizer mais oque com a minha falta de conforto naquele ambiente, ela pareceu notar e me olhou por cima da tela com seus olhos escuros e chamativos.

– Porque tão nervosa? Já foi a psicólogos antes.

– Talvez porque nos últimos cinco anos foi com a mesma pessoa, ou.. bem talvez seja só isso..- disse olhando para qualquer lado menos para ela.

– Ou? - Ela largou o tablet na mesa de centro e colocou o cotovelo direito em cima do "braço" do sofá, com os dedos entrelaçados com os da mão esquerda, as pernas cruzadas, mostravam um pouco da cinta liga rendada quase imperceptível aos olhos dos outros, mas não para mim! Eu gostava de observar e ela já havia percebido isso!

– Ou talvez seja porque nunca me tratei com uma mulher! Não me leve a mal ok? Me sinto mais a vontade com o sexo oposto...- Finalmente a olhei seria.

– Interessante, posso perguntar o por quê?

– Você já está!- Ela inclinou a sombrancelha para mim, e como um estalo aquela cena me pareceu muito familiar, mas não consigo entender o porquê.

– É uma questão sexual então!- Ela estalou a língua e sorriu.

– Como?- cruzei meus braços e me encostei no sofá.

– É normal que mulheres héteros se abram mas com o sexo opos..- cortei sua fala.

– acredite, eu não sou uma mulher hetero! E isso não é uma questão sexual, e sim porque, mulheres principalmente, já tomam muito o meu tempo. Tanto em trabalho, como família e romanticamente falando. Talvez eu conversar com um homem, de vez em quando, me faça bem, é oque eu penso!

– Certo, peço desculpas então!- Ela soltou o ar e também se encostou no sofá a minha frente.- Então me diga, com o que você trabalha?

– Sou sommelier e estou me especializando em neurocirurgia - a vejo sorrir de lado e cara, porque isso me é tão familiar?

– Entendo, vai mexer com a cabeça das pessoas então, me fale de sua namorada, os arquivos que o Dr. Thiago me passou diz que você tem problema em se relacionar romanticamente com outras pessoas.

– Eu não tenho namorada..- Brinco com o pingente de A do meu colar. - E para adiantar a sua próxima pergunta, tenho certos problemas em confiar nas pessoas

– Entendo e desde quando isso ocorre?- eu podia sentir seu olhar queimando em mim.

– Desde os meus dezessete anos... A pessoa que eu era apaixonada foi uma... - suspirei - não foi muito amável comigo, uma verdadeira babaca. Desculpe, não tenho outra definição para essa pessoa - Ela riu nasalado, e eu a olhei.

– Claro que você ainda veria assim..- a ouvi dizer em um sussurro quase inaudível.- Mas olha só, eu pedi desculpas por não ficar - E então ela me olhou com um sorriso ladino que eu reconheceria até no inferno, Jules Freitas, sete anos depois!

A olhei incrédula, não poderia acreditar. Que cretina! Foi involuntário eu comecei a rir, rir de gargalhar, me vi segurar a barriga pelo incomodo da risada, a vi levantar com o ato de tentar me acalmar, e em um salto eu pulei do sofá.

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