CHARLIE POV:
— Charlie, tá bom o pudim? Sei que é seu favorito...
É isso que escuto antes de acordar. Meus olhos ainda pesados de sono, resistindo a se abrir completamente. Lágrimas escorrem, uma rotina já conhecida. Olho ao redor, a bagunça familiar domina o quarto - roupas espalhadas pelo chão, posters pendurados precariamente nas paredes e uma coleção de canecas ocupando qualquer superfície disponível.
Sinto a necessidade de um café, algo para despertar minha mente embriagada pela sonolência. O celular repousa na cômoda, as notificações indicam três chamadas perdidas. Lucky... Suspiro, não é o momento para lidar com isso agora.
Levanto da cama e me arrasto até o banheiro, minha camiseta do Radiohead reflete no espelho, destacando as olheiras que se tornaram minhas companheiras constantes. Não faço ideia de que horas foi quando finalmente desmaiei na noite anterior - mas quem se importa, afinal? Meu cabelo ruivo, outrora tão meticulosamente penteado, agora é uma confusão de fios rebeldes e frizz por toda parte. Desde quando a vida se tornou tão complicada assim?
Encaro o chuveiro, mas desisto quase imediatamente da ideia de tomar um banho. Hoje não estou com disposição para isso. Ouço uma batida na porta, provavelmente minha mãe vindo verificar se estou bem, apesar de eu ter dito a ela que estou tudo sob controle.
Abro a porta e me surpreendo ao encontrar Lucky parado ali.
— Lucky? Oi...? — minha voz sai incerta, não esperava vê-lo tão cedo e, definitivamente, não esperava vê-lo com tanta raiva.
—Não venha com essa desculpa, Charlie. Te liguei cinco vezes hoje e você não atendeu! Desde quando começou a me ignorar? — Lucky dispara, seu olhar furioso percorrendo o apartamento bagunçado.
—Charlotte Lisa Evans! Que tipo de chiqueiro é esse em que você está vivendo?! Eu arrumei esta casa semana passada! — Sua voz eleva-se em indignação enquanto seus olhos me encaram com fúria. Eu sei que não deveria sentir medo de alguém que é dez centímetros mais baixo que eu, mas quando Lucky fica bravo... Bem, até eu sinto um arrepio na espinha.
—Semana passada parece uma eternidade atrás... — murmuro, desviando o olhar, sentindo-me envergonhada pela desordem que deixei se acumular ao meu redor.
Ele resmunga algo em espanhol antes de se dirigir à cozinha. Após alguns minutos, ele retorna com um copo de água em mãos.
— Você precisa beber mais água. Você está parecendo pálida demais. Já comeu alguma coisa hoje? — Sua expressão é de preocupação enquanto me oferece o copo. Enquanto bebo a água, recordo dos tempos em que Lucky e eu éramos crianças. Sempre fomos muito próximos, nossas mães eram amigas íntimas, então nos víamos frequentemente. Os traços coreanos de Lucky ressaltam em seu rosto. Ele costumava ser mais alto que eu, mas parece que nos últimos tempos ele encolheu um pouco, ou talvez eu tenha crescido, quem sabe.
— Acabei de acordar — respondo, colocando o copo vazio na mesa da cozinha.
—Que tal irmos tomar um café? Você está passando tempo demais trancada dentro de casa, e já faz um ano que... — Ele para, seus olhos fixos nos meus.
—Você precisa sair. Vamos, vá tomar um banho. — Ele me olha com um sorrisinho enquanto me empurra em direção ao banheiro.
—Vamos lá, é só um banho. Não vai te fazer mal, Charlie! — Ele tenta me encorajar, empurrando-me em direção à porta do banheiro, enquanto eu resisto.
—Argh... Banho não!!! — Resmungo.
—Vamos, Charlie! Estou cansado desses seus resmungos. Olhe como sua vida virou de cabeça para baixo! — Ele insiste, seu tom de voz demonstrando frustração.
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Acordes Rivais
Romance- Quanta coisa pode mudar em apenas um ano? Após uma grande perda, Charlie não sente mais aquela energia que ela sentia antes. Sua vida antes agitada, com shows de rock e ensaios, agora era apenas um vácuo de solidão e tristeza. A banda antes form...