Prólogo

443 33 62
                                    

Tudo começa e termina com a luz.

Estamos a tantos milênios atrás que não seria possível contar sem se perder.

Em uma noite estrelada e fria no deserto, um menino nasceu. Seus olhos se abriram para o mundo revelando um tom estranho de iris, um amarelo vivo, como a areia do deserto que os cercava.

Do mesmo modo que o singelo choro de um recém nascido atravessou o deserto rapidamente, ele foi cortado.

O garotinho não se lembra, mas algo aconteceu naquela noite, algo mudou o destino do deserto para sempre.

A luz dos raios solares acertava o rosto de uma criança, que corria pelas esquinas das casas, pulava por entre as ruas e desviava de comerciantes. Moedas de ouro em meio a pedaços de pão quase escapavam de seus braços magrelos, a comida e moedas roubadas estavam contra o peito, que subia e descia em adrenalina.

Desde o momento que se lembra de ter consciência, o ratuno do Egito roubava e lutava para sobreviver.

Um garoto órfão e de olhos estranhos nunca receberia o conforto de um lar, o amor de uma família.

Ele nunca seria amado em toda a sua mísera vida.

– Volte aqui seu moleque! Se eu lhe alcançar, Rá nenhum vai conseguir salvar sua pele! - Gritava o homem que corria atrás do garoto.

Com seis anos, ele já havia roubado mais pessoas do que desejado um simples oi.

Aos oito, ele já havia apanhado mais vezes dos velozes comerciantes que conseguiam o alcançar do que ganhado um abraço caloroso.

Quando chegou aos 10, ele tinha mais cicatrizes do que um bêbado de tabernas que nunca pagava pela bebida.

Com 12 anos, o garoto por fim encontrou um lugar para descansar seus ossos e guardar seus poucos pertences.

Em seu décimo quarto aniversário, olhando para a areia quente em sua frente, ele se lembrou dos poucos minutos que sentiu a sensação de braços lhe passando conforto, não dor. Se lembrou do nome que lhe foi dado por alguém que nunca se lembraria do rosto, mas sabia que era sua mãe.

Agora, Raviel, com 16 anos, já era procurado por todas as vilas da região, conhecido como o ladrão dos olhos de sol, se encontrava novamente, sem um teto sobre sua cabeça.

Porém foi aos 18 anos que, em uma decisão arriscada, Ravi entrou em uma pirâmide.

Na pura e inocente esperança de achar ouro o suficiente para ao menos conseguir uma casa, e parar de ter a vida que levava.

Vozes baixinhas sussuravam quase que em sua mente, chamavam por seu nome, guiavam o caminho. O levavam cada vez mais fundo para sua perdição.

Nem mesmo a mente do ladrão mais inteligente conseguiria prever o que aconteceu assim que Raviel encontrou o colar.

Tudo ficou em silêncio. Apenas seu coração frenético e barulhento preenchia a sala, seus dedos formigavam para colocar aquela jóia em seu pescoço.

Aquele colar era a coisa mais linda e tentadora que já teve o prazer de apreciar, e ele a queria.

Seus dedos, pulsos e bolsos já estavam cheios de ouro, aquele colar não faria muita diferença, ele poderia apenas dar meia volta e gastar aquele ouro, mas o colar o chamava, a voz em sua cabeça o ordenava para ao menos tocá-lo. E foi o que ele fez.

Ravi deixou sua mão ser levada sozinha em direção a joia, deixou seus dígitos tocarem no ouro, deixou seu corpo se arrepiar com a sensação de morte preenchendo todo o seu interior.

Ties of the future and past - ToshielOnde histórias criam vida. Descubra agora