Capítulo Vinte

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Se não estivesse com a perna engessada, agora provavelmente estaria andando em círculos em uma típica e um tanto quanto clichê maneira de tentar aliviar a impaciência. Como essa opção estava inviável no momento, tive que me contentar em bater a mão repetidamente contra a coxa enquanto olhava o tic-tac do relógio de cabeceira de Mark. Não entendia a demora de Lorelai. Eu havia dito para Mark encontrá-la e mandá-la para casa – dele - com urgência. Precisava de em um lugar privado para conversar e o elevador do dormitório dele funcionava.
Tive que me segurar para não pular para ficar em pé quando ouvi o barulho da maçaneta girando. Também contive o sermão sobre se atrasar para uma emergência quando vi que ela carregava cinto sacolas de compra verdes com um emblema redondo no meio que imediatamente reconheci como sendo da loja Mints.
- Que diabos é isso?
Lorelai manteve a cabeça baixa, concentrada em passar todas as sacolas pela porta enquanto falava:
- Você que me explique. – colocou algumas sacolas no chão – Eu cheguei em casa e tinha isso aqui me esperando na porta no nosso apartamento. Tem um cartão com o seu nome em uma delas. – soltou as outras sacolas que faltavam – São todas suas. E todas lotadas de roupas.
Blake mexeu os braços um pouco para aliviar o peso que as sacolas deveriam ter causado.
- Quando Mark me mandou uma mensagem dizendo que você queria me ver aqui, resolvi trazer essas porcarias. – chutou uma das sacolas e ignorou meu murmúrio de protesto por seu gesto – O que obviamente foi uma péssima ideia. Elas estão muito pesadas. Depois você pede para Carter levar isso para um dos cinquenta carros dele.
Senti um puxão desconfortável em meu peito.
- Harry não tem cinquenta carros. – murmurei – E não foi ele quem me trouxe ou quem vai vir me buscar.
Aquilo fez Lorelai levantar a cabeça e me encarar com um olhar desconfiado. Também foi só então que realmente prestei atenção nela. Seus cabelos que antes eram completamente pretos, agora estavam mais claros em um tom acastanhado e com alguns fios amarelados. Suas roupas pretas também deram lugar a um vestido branco om detalhes vermelhos até os joelhos com um colete jeans sem manga sobre ele. Botas marrons sem salto e de cano baixo completavam o visual.
Ah! Uma nova fase então. Já estava demorando para que ela deixasse a fase punk. Infelizmente, ao que parecia, seu humor ainda não tinha mudado para o modo hippie.
- Por quê?
- Por que você aderiu ao estilo hippie de novo?
- Não seja ridícula. Isso – passou a mão pelo vestido - não é hippie, é boho chic. Eu nunca repito um visual. E não fuja da minha pergunta. Por que Nick não te trouxe hoje? E quem te trouxe então?
- Zayn.
- O esquisito?
- Hey! Ele não é esquisito. Ele é só... na dele. Quieto.
- Quando eu os conheci, ele era "quieto" e "na dele" – fez o sinal de aspas os dedos indicador e médio – agora ele é só esquisito mesmo.
Ela tinha razão. Malik estava me deixando mais preocupada a cada dia, mas infelizmente tinha outros problemas mais imediatos me corroendo agora.
- Zayn não faz perguntas. Por isso ele me trouxe. – voltei a sentar na cama.
De repente toda aquela carga emocional que estava se acumulando nos últimos dias caiu sobre mim.
- E por que você está evitando perguntas? – caminhou até sentar-se ao meu lado – Que foi que aconteceu?
Soltei um suspiro pesado, pensando em uma maneira de resumir tudo.
- Foi o Carter, não foi? O que ele fez? – levantou-se outra vez – Eu vou ensinar-lhe uma coisa ou outra... ele vai ver só. – já estava a meio caminho da saída quando consegui me levantar e me interpor entre ela e a porta.
- Lorelai, não. Sério. Ele não fez nada errado. – falei, odiando o quão baixo minha voz soava.
Blake, em silêncio, me olhou longamente por alguns segundos antes de soltar um suspiro e sentar na cama, gesticulando para que eu ocupasse o lugar ao seu lado. Depois que voltei a me sentar, não nos encaramos. Eu estava olhando para o espaço vazio na minha frente, encarando um ponto qualquer enquanto meus pensamentos viajavam a uma velocidade rápida demais para ser confortável. Lorelai estava em uma posição parecida, mas sei que ela apenas esperava por alguma manifestação minha.
Fiquei grata por ela não me pressionar.
Não sei quanto tempo ficamos ali envoltas naquele silêncio. Para ser bem sincera, eu não queria falar. Nunca quis falar, não sobre esse tipo de coisa. Não sobre meus problemas. Contudo, minha resolução de não me envolver demais com alguém já tinha ido para o espaço assim que Harry e eu começamos... o que tínhamos.
Soltei um suspiro.
- Ele me pediu em namoro. – engasguei nas palavras.
- Pediu você em namoro? Mas vocês já não estavam namorando?
Continuei mantendo minha vista no nada.
- Não. Nós não estávamos namorando.
- Sério? Por que não parecia que vocês não estavam namorando. Podia jurar que era o contrário, na verdade.
- Eu realmente não preciso das suas ironias agora, Blake.
- Ok, ok. Você está certa. Desculpe.
Mais alguns segundos quietos.
- Mas se ele pediu para oficializar tudo, por que você está assim?
- Eu... eu...
Eu não conseguia explicar. As palavras não saiam. Não o motivo, mas ao menos conseguia explicar as objetividades da situação.
- Summ. – colocou a mão sobre meu ombro, apertando-o de maneira reconfortante – Summ, o que aconteceu?
- Eu não respondi. – murmurei, olhando, agora, para minhas mãos.
- Como assim você não respondeu? Você deixou Carter falando sozinho? – deu uma risadinha, provavelmente pensando que aquela alternativa era tão ridícula que merecia uma risada.
Respondi com uma estremecida. Não tinha orgulho de ter feito aquilo.
- Ai meu Deus! Você o deixou falando sozinho! – o tom dela passou para abismado, o que não fez nada para que eu me sentisse melhor.
- Eu congelei, ok? Eu congelei! Não esperava por aquilo. Entrei em pânico e passei a evitá-lo desde então.
- O que você quer dizer com "desde então"?
- Faz dois dias. – murmurei, sentindo uma pontado no meu peito ao pensar que fazia tanto tempo que não o via.
- Dois dias? – engasgou – Você deixou isso cozinhar durante dois dias?
- Não foi minha opção! Eu tentei falar com ele, mas Harry não quis ouvir.
- Falar sobre esse fiasco?
- Não! – exclamei, horrorizada – Não sei... – esfreguei a mão sobre a testa.
- É claro que ele não iria querer falar sobre qualquer coisa, Summ! Óbvio que ele não iria querer falar sobre o tempo ou sobre a faculdade.
- a incredulidade era tanta que por vezes sua voz falhava.
Aquelas palavras fizeram com que eu me virasse para ela, franzindo o cenho.
- Como você sabe que eu tentei falar sobre outro assunto?
- Porque eu conheço minha melhor amiga. E você está errada, Summ.
- Mas pelo menos eu tentei! Eu o procurei para tentar consertar as coisas e ele me ignorou.
- E com razão! O cara te pediu em namoro. Tem noção de quanta coragem precisa para isso? E o que você fez? Não respondeu, evitou-o e depois fingiu que nada tinha acontecido. Carter tem todo o direito de estar chateado, de estar machucado.
Olhei para baixo, sentindo-me ainda mais culpada do que antes.
- Não quero que ele fique chateado, mas você sabe que nunca gostei de rótulos. Estava tudo tão perfeito, tão certo e agora ele quer estragar tudo. – o bolo na minha garganta fazia com que as palavras saíssem cortadas.
- "Estragar tudo"? – repetiu, surpresa outra vez – Summ, olha aqui. Olha para mim. – colocou a mão sobre as minhas.
Soltei um suspiro antes de fazer o que ela pedia.
- Summ, amiga, como assim estragar tudo? – agora seu tom era gentil, como se estivesse falando com um gatinho assustado – Ele te pediu em namoro. Quer tornar tudo mais firme entre vocês, tudo oficial, certo. Como isso pode ser errado?
Olhei para o teto, estava tão triste, tão drenada que não tinha nem vontade de chorar.
- É... complicado, Lorelai.
- Eu sei que é. – apertou minha mão de maneira reconfortante – Fale comigo, me conta. Para que eu entenda.
Não.
Eu não falava sobre isso. Com ninguém. Nem mesmo com ela.
Sacudi a cabeça.
- Ok, tudo bem. Não precisa me contar. Não para mim, mas você precisa falar com ele. Carter merece uma explicação.
Ela tinha razão. Meu peito só pesava um pouco mais a cada segundo.
Deitei minha cabeça no seu ombro e o silêncio caiu sobe nós outra vez. Agora, contudo, sentia-me um pouquinho melhor do que quando tinha chegado. Era por isso que amizade era importante.
Não sei quanto tempo ficamos paradas, quietas e olhando para o vazio. Ou quantos minutos se passaram enquanto Lorelai falava alguma coisas genéricas e avulsas para tentar me distrair. Só dei-me conta da passagem do tempo quando Zayn me ligou para perguntar se eu estava pronta para ir para casa.
Minha melhor amiga ainda perguntou se queria ficar ali, disse que poderíamos dormir na casa de Mark e expulsá-lo para nossa casa. "Uma noite das garotas, sem problemas", ela disse, mas neguei depois de agradecer. Podia até ter me tornado uma covarde, contudo, não era uma fugitiva. Não tinha chegado a um ponto tão baixo. Pelo menos não ainda. Blake, então, carregou as sacolas – que insistiu que eu deveria dar um jeito porque elas ocupavam espaço e tinham o meu nome - pelo elevador e até o carro esportivo de Malik. Despedi-me de minha amiga apenas com um sorriso fraco antes de me acomodar no banco de couro.
Pensei de maneira não relevante que, entre todos os carros incríveis dos meninos, estava ficando mal-acostumada em relação a automóveis.
Zayn e eu não trocamos nenhuma palavra durante o percurso inteiro, os dois absortos em seus próprios problemas. Parte de mim – a parte que se preocupava com os amigos – queria perguntar o que havia de errado com isso, mas seria hipocrisia demais, pois não queria ouvir a mesma pergunta de volta.
Só quando estávamos no elevador é que o clima ficou esquisito demais, então finalmente paramos de evitar o olhar um do outro e Malik resolveu quebrar a quietude:
- Comprou bastante coisa, hein. – murmurou, olhando para as diversas sacolas da Mints em suas mãos, sacolas que ele insistira em carregar todas.
- Na verdade, eu não comprei nada. – falei tão baixo quanto ele – Para ser bem sincera, não sei o que é isso tudo. Lorelai disse que apareceu lá em casa. Mencionou também que tem um bilhete. – olhei por cima das sacolas.
- Acho que é esse aqui. – ele se abaixou um pouco e fez um malabarismo para enfiar a mão esquerda em uma das sacolas e puxar um pedaço de papel timbrado com a logomarca da loja.
Zayn nem mesmo tentou ler o que estava escrito, imediatamente me estendo o objeto.
- Hmm... – murmurei enquanto passava os olhos pelas letras ali e senti meus olhos se arregalarem.
- Bom, - tossi para limpar a surpresa da garganta - aqui está dizendo "Querida, senhorita Campbell, ficamos muito satisfeitos em saber que a senhorita aprecia nossa marca, por favor, aceite algumas peças de nossa nova coleção ainda não lançada. Sentir-nos-íamos muito honrados se você as aceitasse. Com admiração, atenciosamente, Addie Mints". – quase não consegui terminar de ler as duas últimas palavras já que meu queixo deveria estar em algum lugar perto do chão.
Levantei a cabeça e encontrei Malik com um raro sorriso.
- Addie Mints? – aquilo saiu em um meio-termo entre um sussurro e um grito – A Addie Mints? Addie Mints me mandou uma carta escrita à mão! – franzi o cenho e abaixei a vista para o papel outra vez – Por que Addie Mints me mandou uma carta e roupas?
- Vou arriscar e dizer que você deve ter mencionado em algum lugar que usava roupas dessa marca.
- Como você- Sim! – sacudi a cabeça, concentrando-me no mais importante - Perguntaram-me sobre isso no twitter e eu respondi.
- Então está explicado! Isso. – levantou as sacolas – É o que eles fazem. Você agora é uma de nós, alta exposição midiática e tudo mais. Assim eles dão presentes para ganhar a propaganda que não podem comprar.
Pisquei devagar, tentando absorver tudo.
- Mas eu não sou famosa. Eu não consigo influenciar ninguém ao ponto de grandes marcas me darem presentes. Muito menos tantos presentes. – gesticulei para as diversas sacolas – E também não sei se quero ganhar essas coisas. Não quero dever favores a ninguém. Vou devolver tudo.
- Não precisa devolver, sério. É você quem está fazendo um favor para elas. Se gostar, fique com as roupas. Se não gostar, doe. – deu de ombros – É isso que fazemos.
- Mas... – murmurei bobamente, mas a porta do elevador se abriu, anunciando nosso andar.
- Não fique se preocupando com isso, Summ. A vida tem problemas bem maiores para nos estressarmos.
E, com aquelas palavras sábias, Malik caminhou até abrir a porta da minha casa e gesticular para que eu entrasse primeiro. Ele perguntou se queria que deixasse tudo no meu quarto, mas neguei. Então, com um sorrisinho fraco, meu amigo se despediu e foi embora.
Soltei um suspiro, encarando a madeira da porta pela qual ele havia acabado de passar. Precisava de um pouco d'água, minha garganta estava seca. A caminhada para a cozinha foi interrompida, contudo, por Harry saindo do corredor que dava para os quartos. Foi como um daqueles momentos de filmes. Nós paramos no meio do caminho e ficamos alguns segundos em silêncio, nos encarando.
A diferença era que apostava que nos filmes os personagens não se sentiam tão... mal. Tinha certeza de que o estômago da mocinha não revirava de maneira tão horrorosa e que os olhos do mocinho não ficavam tão vazios.
Pois era assim que estávamos agora. Queria me encolher pelo jeito como Harry me encarava, como se eu fosse uma desconhecida. Styles sempre me olhava com carinho, mesmo quando discutíamos. Agora, contudo, não havia nem sombra daquele sentimento ali. Aliás, era como se não houvesse sentimento nenhum. Nada.
Vazio.
- Harry... – sussurrei.
- Sim? – sua voz também não continha aquele tom gostoso que adorava.
- Harry, eu-
Eu não fazia nem ideia do que dizer.
Engoli em seco.
- Podemos conversar?
Sua expressão não se alterou.
- Conversar? Você quer conversar agora? Mas não queria conversar há dois dias. Engraçado. – coçou o queixo, fingindo friamente refletir sobre aquela questão
Obviamente ele sentia que a situação era tudo, menos engraçada. Descobri que não gostava quando Styles estava sendo sarcástico. Não combinava com ele.
- Harry, eu, por fa-
Alguma coisa passou rápido por seus olhos, mas não consegui identificar antes que o vazio voltasse.
- Olha, eu realmente não tenho tempo agora. – olhou para o relógio em seu pulso – Quem sabe depois.
Antes que pudesse responder, já estava sozinha outra vez naquele cômodo. O revirar horroroso em meu estômago e o peso no meu peito aumentaram e de repente não queria nada além de me deitar no meu quarto e fingir que esses últimos dias não haviam existido. Caminhei lentamente até meu quarto e já estava prestes a mergulhar na cama quando a porta do meu dormitório bateu com força.
Por um segundo pensei que era Harry e uma pitada de esperança surgiu em meu peito, pitada essa que sumiu imediatamente quando encontrei Kristine Green de braços cruzados e, mesmo a alguns metros de distância, pude reconhecer a fúria em seu rosto.
- Kristine, eu não estou a fim de-
- Senta aí. – cuspiu.
A surpresa ao ouvir aquelas palavras raivosas foi tão grande que superou o entorpecimento que estava sentindo. Arregalei os olhos.
- Como é qu-
- Mandei sentar! – falou entre os dentes e marchou alguns passos em minha direção.
Ainda em choque, acabei por sentar na cama. Estava aturdida demais para fazer qualquer outra coisa.
- Ótimo. Agora nós duas vamos ser bem honestas e bem rápido.
Antes que eu pudesse perguntar o que droga estava acontecendo, ela começou a despejar:
- O que merda você estava pensando, hein? Harry te pediu em namoro e você não respondeu? Saiu para o seu quarto como se ele tivesse perguntando se você queria uma xícara de chá? Sem responder nada! – cuspiu a última palavra como se estivesse queimando em sua boca.
Kristine não estava gritando, mas tinha tanto veneno nas suas palavras que eu preferia que ela estivesse berrando aos quatro ventos. Gritos não me intimidavam, o jeito que ela estava falando, contudo, fazia com que arrepios horríveis descessem pelas minhas costas.
E na mistura daqueles sentimentos ruins, senti-me invadida por ela saber daquilo.
- Ele te contou isso?
- Ele me cont- CLARO QUE ELE ME CONTOU! – bateu o pé no chão.
Green estava com tanta raiva que aquele sentimento ruim estava chegando a mim em ondas.
Parou por um segundo e levantou os olhos para o teto e respirou fundo, provavelmente tentando se controlar antes de me olhar de novo, com tanta raiva quanto antes:
– É claro que Harry me contou, Campbell. Ele me conta tudo. Sempre. Mas talvez você queira saber como ele me contou. – abaixou-se um pouco, as mãos na cintura – Styles me ligou às duas da manhã. Duas. Da. Manhã. E ele levou três minutos para conseguir falar alguma coisa. Eu já estava trocando de roupa para pegar o carro para vir para cá. Você tem noção de como eu me senti ao ficar esperando meu irmão me contar o que estava acontecendo? Melhor, você tem noção de como ele se sentiu? – trincou os dentes.
- E-e-u
- Pois eu te explico. Te explico como é tem um bolo na garganta tão horrível, tão desesperador que você não consegue nem falar. – ela gesticulava tanto que pensei que ela estava se controlando para não me atacar fisicamente - Te explico como é se sentir tão impotente que nem mesmo sua voz você consegue controlar. Era isso que você queria saber? Hein?
Não precisava que ela me explicasse aquele sentimento, pois era exatamente pelo o que estava passando agora.
- E sabe o que aconteceu quando ele finalmente conseguiu falar? Eu não reconheci a voz dele. Eu não consegui reconhecer a voz do meu melhor amigo de tão quebrada que estava! Se eu me senti um lixo só de imaginar o que ele estava passando, me diga, doutora Campbell, como é que Harry estava se sentindo? Como ele ESTÁ se sentindo!
Agora havia lágrimas no canto dos olhos dela.
- Olha, Campbell, eu não sei o porquê de você ter feito o que fez e, para ser bem sincera, isso não me interessa. – passou as costas das mãos pelos olhos com força – Mas você vai consertar, entendeu? – apontou para o chão – Você vai consertar! Sabe por quê? – perguntou retoricamente, mas, mesmo assim, parou de falar por uns segundos.
A única coisa que consegui fazer foi sacudir a cabeça.
Green soltou uma risada seca.
- Sabe, uma vez, quando Harry e eu tínhamos catorze anos, eu tive meu primeiro namorado. Depois de um tempo ele me traiu, quebrou meu coração. – olhou para o lado, a expressão longe, provavelmente recordando os fatos que narrava – Styles quebrou a mão ao socá-lo.
Não estava entendo a ligação entre a anedota e a situação.
Voltou a olhar para mim
- Meu melhor amigo nunca se firmou com ninguém, nunca gostou de ninguém ao ponto de querer namorá-la. Não até você. – estreitou os olhos - Sempre me orgulhei de saber julgar o caráter de alguém e, por isso, quando ele pediu minha opinião, aprovei você. Não é possível que eu tenha errado tanto com alguém.
Gaguejei qualquer coisa que nem mesmo eu entendi e logo Green levantou a mão para que eu me calasse outra vez.
- Você não precisa explicar nada para mim. Aliás, eu nem quero ouvir. Mas você vai explicar para Harry. – abaixou-se até que seu olhar ficasse no mesmo nível que os meus – Entendeu? – sibilou, ríspida.
Não pude fazer nada além de balançar a cabeça. Sentia-me estúpida por estar me curvando às palavras dela, mas o fazia porque tinha ciência de que ela estava falando a verdade. Sabia que ela estava certa e eu, errada.
Kristine voltou a se endireitar e girou os calcanhares e caminhou até a saída do quarto.
Já com a mão na maçaneta, virou-se outra vez para mim:
- Eu sempre desejei nunca ter que retribuir o favor que Harry me fez ao quebrar o nariz do imbecil do meu ex. Mas isso não vai me impedir de fazê-lo se for preciso. Não me obrigue a usar essa retribuição em você.
E, com um último olhar gelado, Green saiu do meu quarto, batendo a porta.
De maneira automática levantei e passei a chave na fechadura antes de deixar que meus joelhos cedessem e eu caísse sentada outra vez sobre a cama. Apoiei os cotovelos sobre as coxas e enfiei as mãos nos cabelos, sentindo que minha cabeça pesava toneladas e toneladas.
A respiração era difícil e saia aos trancos. O mundo parecia girar um pouco mais ao meu redor enquanto eu me sentia uma das piores pessoas nele.
Lorelai, Harry e Kristine tinham razão. Todos estavam certos, exceto eu.
Não devia ter deixado Styles sem resposta e não deveria tê-lo ignorado por dois dias, ter me escondido em meu quarto como uma covarde quando ele tentou falar comigo.
Não conseguia nem mesmo me reconhecer. Nunca fugi dos meus problemas, nunca fiquei assim por outra pessoa. Nunca senti aquele peso tão ruim que parecia que iria me esmagar a qualquer momento. E não era peso na consciência, não. Aquilo eu poderia aguentar. O que machucava era aquela aflição terrível que parecia escancarar meu peito.
A dor era tanto minha por ter percebido agora o quão imbecil fora quanto um reflexo da dor que Harry deveria estar sentido. Não queria ter machucado Harry, nunca quis. Não sabia, contudo, o quanto machucá-lo me machucaria também.
Ofeguei, olhando para os lados.
Eu estava me sentindo claustrofóbica, como se tudo estivesse fechando em cima de mim. Paredes físicas e metafóricas. Minha mão se agarrou com força sobre o tecido da camisa que cobria meu peito, puxando-o para longe. Até aquela camiseta larga estava me sufocando.
Precisava fazer alguma coisa antes que entrasse em colapso total. Por um segundo pensei em procurar Harry e tentar conversar, mas mesmo meu cérebro embaçado no momento conseguiu perceber que aquela não era uma boa ideia.
Precisa, todavia, falar com alguém.
Não.
Não alguém. Só havia uma pessoa com quem falar, a única pessoa que me entenderia.
Minhas mãos tremiam visivelmente quando meus dedos deslizaram pela tela do iPhone.
Levei o aparelho à orelha e rezei para todas as entidades possíveis para que o destinatário da chamada me atendesse. Quando finalmente houve uma resposta, só consegui sussurrar duas palavras antes de, pela primeira vez em mais de dez anos, cair em um choro compulsivo:
- Tia Claire.

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N/a: Hey gente, queria agradecer os votos e comentários. Esse é o penúltimo capítulo. Agora só falta o último capítulo e o epílogo. Vamos lembrar de votar em todos os capítulo para deixar a autora muito feliz e para ganharmos as outtakes (cenas da história que não apareceram aqui por motivos de logística) hehehe. Prometo que vale a pena ;) E a foto de hoje foi da Kristine - Atitude - Green. 

LOVE YOU ALL <3

LEMBRANDO QUE ESSA É A PRIMEIRA PARTE DE UMA TRILOGIA. A SEGUNDA PARTE SERÁ POSTADA AQUI LOGO APÓS O EPÍLOGO. NÃO É A CONTINUAÇÃO DA HISTÓRIA DA SUMMER COM O HARRY, MAS SIM A HISTÓRIA DO ZAYN DAQUI, OU SEJA, OS PERSONAGENS DAQUI APARECERAM LÁ ;) espero ver vocês lá em Meio Amargo também.

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