quase

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 Anderson se mexeu um pouquinho na cama, acordando e, de olhos fechados, sorriu sonolento ao sentir o calor de Daniel.

Devagar, abriu os olhos, focando na cena que tanto sentia falta; focando nos cabelos bagunçados sobre seu peito, no abraço na cintura que recebia desde a madrugada, na respiração calma de Daniel em cima de si, no rosto dele colado ao seu peitoral, nas suas pernas juntas e praticamente entrelaçadas e cobertas pelo cobertor quentinho. "Eu poderia facilmente me acostumar a dormir e acordar assim todos os dias..." pensou, dando um cheirinho nos cabelos cheirosos do melhor amigo e, no automático, começou a fazer um leve carinho, apenas enrolando uma mecha ou outra entre os dedos.

.

Anderson continuou com o cafuné por alguns minutos até que, no silêncio do quarto, a voz de Daniel se fez presente.

─ Eu poderia facilmente acordar assim todos os dias... – a voz soou abafada, pois Daniel tinha o rosto praticamente afundado no peitoral de Anderson, que não conseguiu conter um sorriso feliz com o que ouviu, ignorando – ou ao menos tentando ignorar – a rouquidão na voz dele e o arrepio que o percorreu. – Que horas são, Andy? – continuava na mesma posição.

Anderson se esticou como pôde, conseguindo chegar até o celular de Daniel. Desbloqueou, fazendo uma careta com a luz invadindo seus olhos, observando o horário na tela.

─ 06:37h. – respondeu, devolvendo o aparelho para o lugar. Daniel fez um som inaudível, provavelmente reclamando. – Hm? – questionou ainda estando com Daniel em seus braços.

─ Só temos mais 8 minutos antes do alarme tocar... – reclamou, esfregando o rosto contra o peitoral do amigo, quase como um gatinho pedindo carinho. – Sério, que sono. – levantou a cabeça devagar, apoiando o queixo no peito de Anderson, o olhando, deixando seus rostos a centímetros de distância. – Bom dia, Andy. – sorriu com sono. – Dormiu bem? – continuou sorrindo. Ambos os olhares levemente cansados e inchados estavam conectados e Anderson só torcia para que Daniel estivesse tão sonolento ao ponto de não sentir seu coração acelerado, errando algumas batidas.

─ D-dormi sim, e você? – se arrependeu de ter gaguejado, não querendo demonstrar como essas pequenas coisas o deixavam nervoso; como Daniel o deixava desconcertado com tão pouco. – Quer dizer, você, hm... conseguiu descansar depois que a chuva passou? Você tá melhor? – questionou afim de mudar de assunto, torcendo para que Daniel não tivesse prestado tanta atenção nas suas falas e no coração que, vez ou outra, errava uma batida. Além de quê, estava realmente preocupado com ele.

Ambos continuavam nas mesmas posições. Anderson deitado com as costas no colchão macio e Daniel em cima dele, com o queixo apoiado no seu peito.

─ Tô sim, bem melhor na verdade. – respondeu sincero, porém no segundo seguinte, sorriu sem jeito. – Mas me desculpa mesmo por ontem. – pediu com a voz sussurrada, constrangido. Anderson fez uma pergunta silenciosa. – Me desculpa por tudo e... – pausou, olhou para a posição que os dois estavam e sorriu sem jeito outra vez. – ... principalmente, me desculpe por ter pedido pra você dormir aqui. Sei que isso provavelmente vai arrumar problemas pra você... problemas agora ou mais pra frente... – desviou os olhos por um segundo, ato que não passou despercebido por Anderson. – ... então me desculpe por atrapalhar você, por favor. – a maneira como Daniel falava demonstrava o quão frágil ele estava, fazendo Anderson se culpar completamente por tudo.

Precisava fazer alguma coisa logo. Mas o quê?!

─ Ei, Dani... – chamou suavemente, no mesmo tom sussurrado e baixinho que Daniel usava, este que tinha a atenção focada em Anderson. – Por favor, entenda que você nunca, absolutamente nunca, me atrapalharia. Você é meu melhor amigo e eu sou o seu. Você é meu porto seguro e eu sempre serei o seu, lembra? – involuntariamente, passou ambos os braços ao redor de Daniel, mais especificamente na cintura, por cima da camiseta velhinha que usava, percebendo os olhos do melhor amigo ficando úmidos. – Ei, não chora... – pediu, fazendo Daniel fungar e esconder o rosto no seu peitoral.

─ Não tô chorando! – exclamou de forma abafada, fazendo Anderson soltar um riso, sentindo Daniel rir também. – Sério, Andy, você não existe. – voltou a olhá-lo nos olhos. – Você é perfeito demais... E a pessoa que ficar com você terá muita, muita sorte. – pronunciou tão baixinho a última parte que, se não fosse o silêncio e eles estarem extremamente próximos, Anderson não teria escutado, fazendo seu coração apertar e doer, coisas que o coração de Daniel também sentiu.

E bem, no desespero do momento, pensando que deveria dizer algo para quebrar aquele silêncio beirando o desconfortável, Anderson não raciocinou nada direito quando segundos depois, soltou:

─ Você também vai achar alguém que terá muita sorte em ter você como namorado. – se arrependendo no mesmo instante. Por que diabos havia dito isso?! Anderson só queria bater a cabeça na parede.

Deveria achar um jeito de mostrar para Daniel que está apaixonado por ele e o que Anderson faz? Exatamente o contrário, parabéns.

Arrependido ao extremo, se sentiu ainda pior ao notar Daniel sorrindo pequeno e tristemente, desanimado. Mas que inferno!

─ Não tenho tanta certeza quanto a isso. – respondeu e Anderson arqueou uma sobrancelha. Ambos ainda nas mesmas posições.

─ Por que não? – questionou intrigado. – Você é incrível e uma ótima companhia, Dani! – tentou animá-lo. Daniel deixou um riso soprado escapar, se sentindo triste e levemente nervoso.

─ Porque, bem... Ultimamente, eu... – a medida que as palavras saiam pela boca de Daniel, os olhos continuavam presos e intensos nos olhos de Anderson, que não sabia se era somente coisa da sua cabeça ou se realmente estava sentindo o coração de Daniel errando as batidas, descompassado no peito. – ... bem, ah... eu... eu acho que... meu coração pertenc... – e Daniel foi interrompido pelo barulho do alarme, o cortando no meio da frase, deixando Anderson quase ser consumido pelo nervosismo e toda a coragem de Daniel ir embora.

No automático, Daniel saiu dos braços de Anderson, desligando o aparelho e sentando-se na cama, ficando de costas para Anderson. Se espreguiçou por alguns segundos, se recompondo, enquanto Anderson continuava deitado e imóvel.

─ Bem, hm... – Anderson saiu de seus devaneios ao escutar a voz de Daniel, que continuava sentado de costas para si. – Vou ao banheiro e depois vou fazer o nosso café, tá bem?

─ Tá, tá sim, tá... ótimo. – respondeu. Observou Daniel mexer a cabeça, assentindo e, no segundo seguinte, levantou-se, saindo do cômodo, deixando a porta aberta e um Anderson perdido, confuso, intrigado e agora, nervoso, na cama.

Só queria saber como terminaria a frase de Daniel. Só queria ter certeza se era o coração dele batendo fora de ritmo ou se era o seu próprio. Só queria ter um pingo de coragem para dar um buquê com um número específico de rosas que há tempos estava borbulhando em sua mente.

Mas, por hora, se contentaria em sobreviver a mais um dia e, se tudo desse certo, uma luz surgiu em meio aos milhões de pensamentos que estavam rondando sua mente naquela manhã.

Respirou fundo, buscando tranquilidade em meio ao caos, fechando os olhos e pedindo por um dia tranquilo e bom, sorrindo ao inalar uma última vez o cheiro de Daniel que se encontrava presente e forte no travesseiro, lençóis e principalmente, no próprio pijamas que Anderson usava.

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