complicações, pensamentos e paranoias

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Era madrugada e, no silêncio e no escuro de seu quarto, Daniel chorava baixinho – com seus fones de ouvido no máximo tocando aleatoriamente uma playlist – como fazia há algumas madrugadas. Deitado de lado, de costas para a porta fechada, porém não trancada, seu corpo estava coberto por um fino lençol, apenas com a cabeça para fora.

A fronha de seu travesseiro já se encontrava bem molhada devido as lágrimas que não conseguiu mais segurar e se não corresse a tempo, desabaria na frente de Anderson, seu melhor amigo e primeiro amor; O cara por quem sempre teve uma quedinha, pensou ter superado aqueles sentimentos confusos mas que, uns tempos pra cá, voltaram com força, fazendo seu coração bater mais rápido desde os gestos mais simples ao mais elaborados. Desde o sorriso bonito de Anderson as lindas rosas que ganhava dele ultimamente.

Daniel, por alguns momentos, realmente estava pensando que todos aqueles buquês que estava recebendo significavam alguma coisa, mas sabia que precisava entender e aceitar que não havia nada por trás daqueles presentes tão lindos. Precisava aceitar que Anderson percebeu o quanto ele gostava das flores e comprava mais apenas para não deixá-lo sem elas. Precisava aceitar que Anderson, seu melhor amigo, apenas o via como melhor amigo e nada mais do que isso. Precisava aceitar esse fato e seguir em frente!

─ Seguir em frente deveria ser melhor, certo? Parar com a nossa rotina deveria ser melhor, não deveria? Então por que isso parece me machucar ainda mais? – murmurou a pergunta para si mesmo, respirando fundo duas vezes e suspirando ao fim. Sua cabeça doía, seu corpo doía, seu coração doía, seus olhos ardiam, as lágrimas já estavam secas nas suas bochechas e mesmo assim, novas lágrimas ainda as molhavam. – Me machuca deixar beijos nas bochechas dele ao mesmo tempo que, se eu não fizer isso, me sinto pior, como se faltasse algo no meu dia... – suspirou outra vez, passando as mãos nos olhos marejados e no rosto molhado.

Era fato que Daniel sempre foi apaixonado pelo melhor amigo antes mesmo de entender seus próprios sentimentos, entender quem era. E quando tudo ficou claro, Daniel sabia que era Anderson que fazia seu coração bater de um jeito diferente; Era ele quem deixava suas pernas fracas, sua boca seca, seu estômago encher-se de borboletas. Era Anderson que o fazia sentir-se como se estivesse em um filme clichê de romance.

E Daniel estava indo muito bem ao esconder todas essas sensações e sentimentos. Na realidade, ele havia se acostumado com eles há tempos... Até Anderson começar a presenteá-lo com aquelas lindas flores. Aquelas lindas e tão vibrantes rosas vermelhas. Daniel se sentia um idiota por ter pensado que aqueles buquês tão bonitos significavam alguma coisa além de "eu sou grato pela sua amizade, dani" até porquê o primeiro buquê que recebeu, Anderson havia dito que comprou apenas para ajudar uma senhorinha e isso era verdade, certo?

Buscando se acalmar, balançou a cabeça por alguns segundos, tentando colocar os pensamentos e emoções no lugar. Contudo, a próxima música que começou a tocar não ajudou nada, visto que Daniel fechou os olhos com força, voltando a chorar, não sabendo como ainda tinha água no seu corpo.

"... Eu te queria a vida toda, te confesso..." – cantarolou baixinho uma pequena parte, escutando a melodia e as vozes suaves e doces, sentindo como se seu corpo estivesse sendo abraçado pela música. – "... Eu quero tu na minha boca e minha boca quer você..." – cantarolou na mesma voz sussurrada, lembrando-se como quase juntou seus lábios ao lábios tão bonitos e tão beijáveis do melhor amigo, decidindo de última hora beijar o canto da boca dele ao invés da boca nas duas vezes que isso aconteceu.

Daniel só queria ouvir Anderson dizer que tudo entre eles era real; Que Anderson sentia o mesmo que Daniel sentiu praticamente a vida toda. Ele não podia estar sentindo tudo sozinho! Não podia ser coisa da sua cabeça sentir o coração de Anderson acelerado no meio do abraço deles, não podia! Certo que Daniel estava realmente cogitando a hipótese de estar ficando doido, mas sentir o coração do melhor amigo batendo mais rápido não podia ser uma invenção da sua mente!

"... Me diga agora por favor... Que eu vou correndo te abraçar..." – fungou baixinho, com o nariz entupido. – "... Te quero tanto, é quase dor... É com você que eu quero estar..." só com você, Andy... – mas que inferno de música que era tão bonita e tão dolorosa ao mesmo tempo.

Daniel realmente não sabia como ainda conseguia disfarçar o quão mal estava se sentindo nas últimas semanas; Disfarçar o quão mal vinha dormindo e não sabia como não estava cochilando entre uma aula ou outra e nem no trabalho. Daniel não imaginava que Anderson só não havia notado ainda as bolsas escuras embaixo de seus olhos apenas por estar tão surtado e em pânico consigo mesmo, os próprios pensamentos e paranoias. Chegava a ser engraçado como ambos estavam sofrendo pela mesma coisa: gostar um do outro e não abrir a boca para falar abertamente sobre seus sentimentos.

Aparentemente, haviam esquecido da regra e promessa que eles mesmos estabeleceram: nunca esconder nada um do outro. Os dois haviam quebrado isso.

Pensando nisso, Daniel sabia que precisava colocar as cartas na mesa, ele sabia que precisava. Mas eram tantas coisas em jogo se Anderson não sentisse o mesmo. Como continuariam morando juntos? Como ficaria o clima entre eles? Daniel não podia correr o risco de perder o melhor amigo e primeiro amor. Não podia correr o risco de perder Anderson. Isso o mataria mais do que se Anderson namorasse e até casasse com outra pessoa, pois ver a felicidade dele, mesmo que Daniel estivesse completamente machucado por dentro, era melhor do que se afastar. Mas... e se eles se afastassem aos poucos? Seria possivelmente menos doloroso... certo? Eles passariam de melhores amigos para amigos, depois apenas conhecidos e então...estranhos? Pensando nisso, fechou os olhos com força outra vez, sofrendo antecipadamente outra vez. Daniel odiava isso.

Ás vezes queria ser uma pedra e assim não ter sentimento algum nem pensar em nada.

─ Que inferno de complicações que eu mesmo crio! – disse para si mesmo, pausando a música e suspirando pesado ao colocar os objetos na mesinha ao lado da cama, percebendo que, outra vez, teria menos de 3 horas de sono. – Eu e minha mente paranoica e perturbada com teorias e mais teorias... – suspirou exausto, agora deitando com as costas no colchão macio, torcendo para que não chovesse forte outra vez ao mesmo tempo que, dormir abraçado a Anderson e ainda escutá-lo cantar ao pé de seu ouvido para acalmá-lo não fosse algo tão ruim assim. – Eu falando pra eu mesmo que preciso me afastar dele e meu cérebro pensando em como é bom dormir abraçado com ele... – comentou com ironia, soltando um riso nervoso. Ás vezes os pensamentos podem ser bem traiçoeiros.

Cansado e exausto de tanto pensar, tantos questionamentos e tanto chorar, Daniel fechou os olhos, se obrigando a dormir. Em poucas horas iria ver Anderson novamente, tomar café da manhã junto com ele e outra vez, esconder tudo que estava sentindo. Apenas seguiria essa rotina sem data para acabar com isso.

Mas e se, no sonho que sonhasse nesse pouco tempo que teria de sono, seu subconsciente lhe desse uma ideia e essa ideia fosse relacionada aos buquês de rosas e seus números de flores ali presentes? E se Daniel pesquisasse sobre isso e ligasse alguns pontos?

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Se for por mim

Vai ser assim

É só você querer...

Pra gente, enfim, se amar...

RosasOnde histórias criam vida. Descubra agora