Capítulo I

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Os estalos do fogo ecoavam pelo cômodo enquanto algemas de couro marcavam meu pulso pálido e  uma vampira idiota olhava-me sedenta por sangue. Não, de acordo com ela, ela nunca beberia do sangue de um ser sujo como eu. Bobinha, acha mesmo que pode resistir a sangue? No final, ela era só uma vampira.

- Você parece muito calmo pra quem vai morrer. - Disse ela enquanto esquentava uma faca. Talvez aquilo fosse doer mais do que o necessário. Havia uma fumaça pelo quarto, com uma espécie de calmante, meu corpo estava fraco demais para qualquer coisa. Não é como se eu realmente pudesse fazer muito contra ela mesmo que não drogado.

- Posso gritar se quiser.

A expressão da vampira mudou, de nojo para ódio. Vampiros são orgulhosos, era como se eu duvidasse da capacidade dela de matar-me. Mas não é bem assim, é impossível duvidar de uma força que não existe.

- Não me entra na cabeça. Como que nossa sociedade te aceitou tão fácil? Você deveria ter sido morto a muito tempo. - Começou a desabafar como se eu fosse algum tipo de terapeuta. Eu é quem estava prestes a morrer, então por que é ela quem está chorando no meu colo.

- Faça isso então, me mate logo. Mal posso esperar. - Revirei os olhos. De certa forma, aquela situação me deixava animado. Como uma criança andando de bicicleta pela primeira vez. Embora eu nunca tivesse andado em uma.

- Você acha que eu não tenho capacidade pra isso? - Indagou aproximando-se com a faca que mudou de cor ao ser exposta no fogo por tanto tempo. 

- É claro que você tem, mas sabe, seria um desperdício me matar sem antes provar do meu sangue. - Inclinei minha cabeça para o lado deixando meu pescoço a mostra. Quem sabe assim eu sobrevivo por mais tempo.

- Eu nunca beberia sangue de um verme como você. - Mentirosa, no final todos eles fazem o mesmo. Vampiros nojentos.

- Tem certeza? Todos que provaram não quiseram parar, dizem que é doce e puro, o melhor que já beberam. Agora você me tem aqui, vai mesmo desperdiçar essa chance? - A cor de seus olhos mudaram, antes eram roxos, cheios de ódio mas  que ainda mantinham a razão, agora eram vermelhos, cheios de desejo devido ao instinto animal que estava mais forte do que nunca. A vampira estava ofegante, claramente já não conseguia resistir, só mais um pouco e ela cairia direitinho. Deixando seus desejos dominarem seu corpo.

- Pare de me atiçar, humano de merda.

Antes que eu pudesse responder ela enterrou seus dentes em meu pescoço, tolinha, meu sangue é como veneno para outros vampiros. Para todos, menos ele. A vampira continuou a sugar com sua sede incontrolável mas não conseguiu estender muito. Quando vejo, sua cabeça já foi cortada fora. Finalmente.

- Atrasado. - Repreendi, mas não acredito que ele realmente tenha se importado.

- Você fez isso de novo? - Ignorou minha fala ao ver o sangue escorrendo pelo pescoço. Minha pele formigava, os arredores da mordida doíam. Mas ele só se importava com ter o seu território invadido. Só se importava em proteger sua presa, ou seu orgulho seria ferido, assim como o da mulher que acabara de ser decapitada. A diferença é que ela perdeu.

- Óbvio que eu fiz, você se atrasou, essa era minha única escolha. - Vampiro idiota.

- Você podia ter suportado aquela dor, você sabe disso, Vanitas!

- Ah, claro, é muito mais fácil me fazer sofrer do que ferir seu ego maldito ao ter que compartilhar sua "carne", não é mesmo, Noé? - Idiota, maldito! Ele nunca pensa em mim, nenhum vampiro faz isso, eles só pensam em si mesmos.

- Não é bem assim, Vanitas, não foi que eu quis dizer. - Envolveu-me em seus braços na tentativa desesperada de me acalmar. Ele conseguiu, ele sempre consegue.

- Mas foi isso que disse. - Minha cabeça estava meio turva por causa da fumaça tóxica. Ela era doce, doce demais para mim, eu queria vomitar mas quase não tinha forças para falar. Aquilo parecia penetrar em minha pele. Igual quando meu sangue penetrou em seu corpo.

- Tudo bem, me desculpe, sim? - Disse se ajoelhando. Ele segurou minha mão e beijou-a com delicadeza. Apesar de ser um vampiro, ele sempre me escutou, como um pequeno cachorrinho correndo atrás do dono, chegava a ser engraçado. Para um vampiro, ele até que vai bem. Noé me ama, só não sabe como amar. Pelo menos eu espero.

- Vamos embora antes que eu desmaie com o cheiro da fumaça. - Ele não tinha percebido a fumaça tóxica, afinal, não era tóxica para ele. Ele me segurou em seus braços e pulou para fora do lugar. Tão fofo, quando está preocupado ele deixa seus interesses de lado por mim, ele podia fazer isso mais vezes. Talvez se eu corresse mais perigo ele viria correndo e chorando de preocupação? Não é uma má ideia.

- Por que não me avisou antes? Mesmo que você não morra com ela, pode causar danos ao seu corpo. - Eu não sou de porcelana, novamente se achando superior. Mesmo que eu adoeça frequentemente, eu não precisava dele. Eu não era tão inferior, se não fosse pelo incidente, talvez eu fosse até mesmo mais forte do que ele. Não, isso é uma fantasia possível apenas em meus sonhos.

Ignorei sua fala - mesmo que fosse difícil - e enterrei minha cabeça em seus peitos enquanto ele ainda me abraçava com os braços forte. Era confortável. Ele sabia que eu estava cansado, ele sabe tudo sobre mim, então apenas calou-se e me levou para casa. Eu me sentia seguro envolvido em seu corpo morno - sempre pensei que os corpos de vampiros fossem gelados - sentimento que era raro até conhecê-lo.

Apesar de todos os seus defeitos. Que eram muitos, assim como os meus. Noé ainda estava lá por mim, na verdade era o único. Único. Nem sempre ele foi o único, nem sempre eu estive tão sozinho mas ao mesmo tempo tão preenchido. Nem sempre pude sentir confiança em alguém, mas sei que certamente não sentem confiança em mim. Pelo menos não agora. Noé é o único que ainda está aqui e acho que me apeguei por causa disso, talvez eu tenha criado uma imagem dele que na verdade não existe. Espero que ele não tenha segundas intenções comigo, espero que ele me ame de verdade, porque se não ama, ele finge muito bem. Noé cuida de mim sempre que não consigo me mexer, me escuta sempre que quero conversar e sempre me defende mesmo quando estou errado. Não sei se o amo ou apenas tenho medo de perder a minha única forma de sobrevivência no mundo. Nesse mundo.

A noite é fria, mas eu não sinto frio. Sou carregado por meu amado até a cama. Ele me colocou nela com delicadeza para não me acordar. Eu não estava dormindo. Mas desejei que ele não soubesse disso. Não gosto de como ele age como se eu fosse quebrar, mas talvez eu realmente fosse.

Noé me colocou na cama e me cobriu com cobertores grossos para que eu não sentisse frio. Ele saiu do quarto por um tempo e mesmo que meu corpo ainda estivesse quente, ouvir seus passos se afastando faz meu coração gelar. Eu realmente não posso viver sem ele. Novamente consegui ouvir seus passos, mas dessa vez estava se aproximando, o que me deixou feliz. Noé se sentou na cadeira ao lado da cama e me observou até que eu dormisse. Bem, na verdade não sei. Não sei se ele sabia que eu estava acordado, não sei até quando ele ficou me olhando, apenas sei que quando acordei, ele estava dormindo ao meu lado. Estava relaxado, talvez ele realmente confie em mim, ou talvez apenas saiba que não tenho forças para machuca-lo. Mesmo que tivesse, minhas emoções não permitiriam.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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