Proelium

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Os grupos se dispersaram e os vendedores ambulantes apareceram. Os espectadores aproveitaram a pausa para a alimentação, e assim os grupos o fizeram também, mas em outro local. Todos eles foram conduzidos até um cômodo especial, cheio de pratos chiques e petiscos diferentes postos na mesa. Havia de tudo um pouco, do doce ao azedo, mas claro, em porções pequenas para melhor digestão, pois assim conseguiriam lutar sem expelir tudo pela boca. A iluminação era feita por lustres de vidro e as cadeiras, iluminadas, focalizavam seus revestimentos de veludo vermelho. As prateleiras com livros enfileirados em ordem alfabética deixavam o local com ar de limpeza e organização.

A equipe, com exceção de Natalie e Shi, começaram a se servir. Os outros dois passearam pelo cômodo, mas assim que o mais novo decidiu conversar com seu amigo de longa data, se separaram. A garota de cabelos lisos preferiu não se intrometer na conversa deles, decidindo dar uma olhada nas prateleiras.

Ao ver todos aqueles livros, ficou fascinada, era como um playground para uma criança. Passando levemente a ponta dos dedos neles, buscava algum título que lhe chamasse a atenção, até que a trajetória de suas digitais fora interrompida por um palmo. Virou-se para descobrir quem havia perturbado seu minuto de sossego, e, surpreendentemente, era a loira de porte sofisticado que um dia conviveu com ela e seus irmãos, Christinna. Com seu salto alto, ela aparentava ser mais alta até que Natalie. Não que ela fosse mais alta que Natalie, ambas tinham 1, 75 cm, mas de salto, é claro, ela estava bem mais alta.

— Qual o seu problema? Por qual motivo você deu uma surra em Ana? — Retirou a mão da prateleira e cruzou os braços de forma lenta. Ela aparentava estar brava.

— Está falando da sua colega? Era o que eu tinha que fazer, desculpa, não queria machucá-la... — Natalie também cruzou os braços enquanto olhava pro chão, envergonhada, como quem ainda não superou tudo o que passou em sua vida. Ao finalmente encontrar o olhar de Christinna, ambas pararam e ficaram daquele jeito durante um longo período de tempo, enquanto o ambiente era preenchido com as vozes e passos dos outros participantes. O olhar de Christinna não era frio, pelo contrário, estava em chamas. Ela precisava encarar Natalie nos olhos, como quem encara o seu pior inimigo...Não, como quem está de fato encarando o seu pior inimigo. Seus olhos estavam semicerrados, e ela não fazia a mínima questão de piscar aqueles olhos azulados.

Natalie se sentiu intimidada, então mais uma vez, olhou para baixo. Sua rival continuava a lhe encarar como se quisesse lhe esganar. Sua respiração estava fora do comum e as suas bochechas estavam levemente enrugadas com a expressão que estava fazendo. Natalie pareceu voltar para sua infância, quando tinha de encarar seus rivais de luta nos olhos e via neles a dor, sofrimento e desespero. Ela sabia que Christinna estava sentindo tudo isso por ter perdido a única pessoa que lhe amava, e o pior de tudo, sabia que levava a culpa também por isso, assim como os seus amigos.

— Christinna, seja o que for que você tenha em mente, eu nunca quis lhe fazer mal algum. — Ela a encarou de volta. Piedosa, era como se ela precisasse do seu perdão, embora ela realmente não tenha feito nada de ruim que a machucasse.

— Eu vou fazer da sua vida um inferno. Assim como de todos aqueles nojentos que você anda...É só aguardar, você vai querer morrer. — Christinna disse a última frase com um sorriso medonho.

Ela a observou ir embora, com seu salto fazendo barulho no chão e cabelos e roupa ao vento. Por algum motivo, Natalie sentiu um arrepio na espinha, arregalando os olhos, assustada. O que ela quis dizer com isso? O que ela tinha em mente?

Perdida em seus pensamentos, não percebeu Han bem a sua frente, estalando seus dedos.

— Acorda, menina!