Ao ouvir seu nome, Shi fez uma careta, implorando aos seus amigos para não ir, como criança que não quer ficar na escola. Assim que foi arrastado pelas axilas por sua melhor amiga, finalmente mudou a pose para um homem destemido.
— Seja legal com sua oponente, ok? Nada de ficar sendo ranzinza.
— Ah, Natalie, me erra, já sou adulto e sou um amor de pessoa, sei bem o que fazer.
Ainda de cara feia, ele encarou a sua oponente que estava chegando no círculo central, o observando com uma expressão de estranhamento, mas assim que estavam cara a cara, ele lembrou das palavras ditas anteriormente e forçou um sorriso, mas Alexia ficou assustada com seus dentes pontudos, encolhendo os ombros e arregalando os olhos. Isso claramente deixou Shi um pouco constrangido. Quando ele estava com seus amigos, ele esquecia que não ria para as pessoas por conta disso, e também se lembrava do bullying que sofria de Christina consequentemente. No fundo, ficou um pouco triste, mas não é como se ele precisasse da aprovação de uma desconhecida, então mudou totalmente seu semblante para aquele velho Shi que era a antiga estrela do Proelium, antes de, claro, Natalie chegar.
A olhando de forma ameaçadora, ele sorriu lentamente para ela.
— Essa luta não vai durar nem dois minutos direito, loirinha. — Ele parecia debochar, ainda sorrindo daquela forma.
— É o que vamos ver. — Ela finalmente o encarou, pondo as mãos na cintura e o peitoral para frente. Após uma derrota nas lutas físicas, ela parecia mais determinada ainda. Estava usando o uniforme da equipe.
O funcionário se pôs no meio dos dois, mais baixo que ambos. Quando anunciou o começo da luta, ele saiu de forma muito rápida, para não ser atacado. Rapidamente, Shi invocou na sua mão uma metralhadora com mira, mas diferente da luta com Natalie, não era só a espoleta, e sim balas. Com a sua magia, ele tinha adaptado-as. Ele fez com que as balas fossem de borracha, para que não corresse o risco de matar alguém, já que a sua magia era violenta assim como ele. Mas causar uns bons machucados, ah, isso sim iria fazer. Ele fechou um olho e com o outro aberto mirou na garota a sua frente, assim atirando várias vezes seguidas em pequenos intervalos de tempo. Para seu azar, a garota se desviou dos tiros com acrobacias incríveis, coisa que ele não estava esperando.
Quanto mais ele atirava, mais ela se desviava com precisão das balas. Quando percebeu, a tinha perdido em meio a tanta fumaça que saia de sua metralhadora. "Merda! Essa palhaça se enfiou onde?" pensou, com raiva. Enquanto ainda estava raciocinando, Alexia jogou uma granada também adaptada na frente de seus pés. As suas granadas eram inúmeras, e tinham vários efeitos, indo dos mais fracos aos mais fortes. Elas tinham uma fumaça colorida e seu exterior também era colorido, cada uma com uma identificação que só ela sabia. Esta em especial servia para soltar uma fumaça tóxica para os pulmões do inimigo.
Shi tossiu como se fosse um velho usuário de cigarro, com uma das mãos fechadas, levada a boca. Assim que percebeu que era uma granada que fazia aquilo, a chutou para longe, na tentativa de fazer com que a fumaça se afastasse. Levou a camisa ao nariz, com o mesmo tampado, tentando evitar que ele inalasse a fumaça. Como não via Alexia ainda diante de toda aquela nuvem colorida, ele invocou outra metralhadora e voltou a atirar para todos os lados possíveis, com as duas mãos. Ria de uma forma frenética enquanto o fazia, não é como se ele não gostasse de se soltar em lutas. Até o momento em que acabou a sua munição. No meio daquela fumaça, Alexia percebeu isso pelo sons que a arma fazia e pela reclamação do seu dono.
Aproveitando a oportunidade e, ainda de longe, jogou mais duas granadas que explodiram consequentemente gerando mais fumaça colorida. Essas eram normais, apenas serviam para explodir e lançar estilhaços para todos os lados, na tentativa de ferir o inimigo. Bom, a tentativa deu certo. O seu oponente de olhos amarelos cobriu os olhos com os antebraços, os fechando, enquanto o vento que a explosão gerou balançava de forma rápida a sua roupa, cabelos e a faixa que Natalie o deu de presente. Assim que retirou de vista o antebraço que tampava a sua visão, viu apenas um vulto se aproximando e o socando no queixo. Um gancho muito bem dado.
E mais outro soco no olho, e mais outro na barriga, mais um na bochecha...Inúmeras vezes ele apanhou, e já estava com ódio daquela fumaça que o impedia de ver direito e de ter vantagem na luta, além de estar machucado por seus estilhaços. Levando ainda mais socos, ele resolveu naquele momento inadequado parar de adivinhar de onde surgiria o próximo e resolveu pensar. Em meio a inúmeros palavrões que ele mesmo dizia a cada interjeição de dor, ele raciocinava lentamente. Quando Alexia iria dar-lhe um soco na têmpora para fazê-lo desmaiar e acabar logo com a luta, ele finalmente calou-se e, inesperadamente, começou a desviar de todos os golpes de forma muito precisa, agradando um lado da plateia que torcia por ele. O mesmo observou que havia um padrão em cada golpe. Percebeu exatamente que ela só usava as mãos para golpear, enquanto usava as pernas de base. A mão direita era a responsável pelos golpes em cima e a esquerda pelos golpes em baixo. Os golpes eram esquerda (nas costas e barriga) e direita (na bochecha). Com isso, ele percebeu que ela era muito confiante com as mãos, mas não com as pernas. Pegando um dos socos com a sua mão contrária, sorriu mais uma vez para ela, de cenho franzido.
— Você poderia ganhar, mas não hoje!
Ele apertou a mão dela, que ansiava por sair cada vez mais que ele colocava mais força. Sem raciocinar direito, tentou usar a outra mão, sem perceber que ele já havia notado o padrão de seus golpes, mas foi em vão. Com as duas mãos sob seu domínio, Shi as soltou de modo rápido para simplesmente lhe dar a famosa "rasteira" fazendo-a cair no chão. No momento em que ela tentou levantar, levantando o torso junto da cabeça, ele voltou a atacá-la, puxando-a pelas pernas e a arrastando por todo o círculo central. "Bom, ao menos com a bunda ralada ela vai ficar!", pensou. Assim que cansou de puxá-la por aí, invocou uma metralhadora e a apontou para a cabeça dela, agora sério.
— Se mover um dedo, eu atiro.
— Bala de borracha não machuca!
— Quer ver?
Ele preparou a metralhadora para atirar, enquanto mantinha a inimiga sentada sobre as duas pernas no chão.
— Você não teria coragem de me machucar, né?! — Ela fez o olhar de um cachorro tristonho.
Ele, sem hesitar, ainda sério, atirou em sua coxa, a fazendo gritar de dor. A bala de borracha pode não ser tão forte como a bala normal, mas ela ainda sim é danosa. Ainda gritando de dor, ela levantou as duas mãos, afirmando que se rendia. Shi gritou para o funcionário responsável anunciar sua vitória, que se assustou e logo contou até três e a anunciou de um jeito sensacionalista, ressaltando o fato de que sim, mal durou dois minutos.
Shi comemorou atirando para cima inúmeras vezes, enquanto ria freneticamente. Ele voltou correndo para o seu time e os abraçou, como se voltasse a ser uma criança, quase pulando neles. Era incrível como ele passava de uma pessoa rude e agressiva para alguém carinhoso e caótico em poucos segundos, mas isso só com quem ele achava "digno" de receber o seu carinho.
— Ok, pessoal! A luta agora será entre: Rosie, do time verde, e Lilly, do time branco. Boa sorte às nossas lutadoras!
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Proelium
Ficção GeralEm um mundo ferido, mas tecnologicamente evoluído após uma onda de fome gerada por causas desconhecidas, Natalie tenta superar todos os traumas de seu passado obscuro e finalmente preencher o vazio em seu peito. Para isso, ela terá que enfrentar o s...