Aprendi desde cedo a sentir saudades
Demasiado cedo até
Aprendi que têm tantas formas
Que são causa e efeito
Mas também aprendi que posso apenas senti-las e deixá-las estar
Como o amor, sossegadas no meu peito
Afinal sou só eu que as sinto
Mais ninguém
Aprendi que se as suprimir com o tempo acabam por passar
Ninguém precisa de saber
Talvez se eu não chorar...
É que aprendi que falar sobre elas não seca as lágrimas no rosto
Nem traz de volta o amor e aposto
Que mesmo se resultasse a dor seria pior aindaAprendi então que mais vale sentir saudades e fazer delas poema
Algo me diz que revelá-las se tornaria rapidamente num problema
Podem chamar-me cobarde
Insensível
Fria
Não sabem a dor que cabe em mim
Quando vejo cada fotografia
Só queria voltar atrás
Poder parar o tempo
Olhar-te nos olhos
Fazer-te ficar só mais um momento
Prometo que não demora nada
Só quero restaurar a foto rasgada
De quando achei que não pensar, nem te ver
me faria esquecer cada madrugada
Mas a saudade não funciona assim
O tempo passa depressa
E a tua imagem esvai-se aos poucos de mim
E tenho medo
Tanto medo de te esquecer
De que a única memória que me reste seja a dor da saudade daquilo que um dia podíamos ser
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Desconhecer-te
PoetryPoemas e crónicas de se tentar desconhecer alguém que está gravado em nós