SETE ANOS ATRÁS
"O frio na barriga tinha voltado. Meu pressentimento nunca mentia, papai e mamãe estavam brigando de novo. Conseguia ouvir apenas gritos. Se quisesse poderia ouvir o que eles estavam dizendo, mas eu não queria. Apertei ainda mais minha orelhas e me encolhi de baixo da pequena mesa que tinha no meu quarto. Ia apenas esperar passar porque sempre passava, daí meu papai viria falar comigo e a mamãe ia fazer macarrão e tudo voltaria ao normal.
A briga passou. Eles não pararam de brigar, a briga só ficou mais distante.Consegui ouvir passos na escada.Isso era diferente. Destampei meus ouvido e sai de debaixo da mesa. Abri a porta devagar e desci as escadas. A mamãe estava ajoelhada no chão chorando e a porta estava aberta. Saí correndo apenas para ver o carro do meu pai saindo as pressas da garagem.
Então eu soube que meu papai não ia conversar comigo e minha mãe não ia fazer macarrão. Foi aí que eu soube que o amor era uma grande mentira"DIAS ATUAIS
-Oi-cheguei perto dela e falei.Ela me olhou com a expressão curiosa. Agora conseguia ver seus olhos,de um verde acastanhado penetrante,tão cheios de segredos que eu tive um vontade súbita de descobrir.
-Veio pedir desculpas,imagino.-ela falou finalmente.
-Na verdade vim pedir licença. Você está atrapalhando uma foto.-ela revirou os olhos e virou as costas para mim.
Imediatamente segurei seu pulso onde pude sentir o sangue sob sua pele,quente.-Ei eu to só brincando. Vim pedir desculpas sim. Acho que fui meio grosso com você.-Acha?!
-Ta legal. Eu tenho certeza que fui grosso com você e agora estou pedindo desculpas,ta legal?
-Melhorou. Talvez eu também te deva desculpas por ser tão desastrada...
-Talvez você deva pedir desculpas para a humanidade então.-com isso ela me deu um soco no braço, mas não estava brava. Pelo contrário, ela estava rindo. Deve ter sido uma das coisas mais lindas que eu já vi. Não aguentei e ri também.
-Pensei que você tivesse que trabalhar.
-Pensei que você tivesse que fazer sala para os convidados.
Quando me dei conta estávamos dançando e girando pelo salão num ritmo só nosso. Nunca levei jeito pra dança. Tentei me perder no ritmo da música mas acabei desistindo. Decidi me focar no ritmo dela. Me perdi no movimento do seu corpo, que vibrava junto com as batidas da música. Me concentrei na curva de seus ombros, que desciam e subiam por causa dos movimentos dos braços. Todo o mundo parecia se fechar em torno de nossos corpos, eu a sentia em minha frente e apenas isso bastava. Mas ao mesmo tempo sentia a música coordenando nossos movimentos, e também sentia as luzes de neon iluminando nossos sorrisos.
Não sabia porque estava dançando com uma desconhecida. Não sabia porque me sentia tão bem em relação a isso.
Só sabia que me sentia extremamente confortável e curiosamente feliz, e que me permiti ficar assim.