Encaro a expressão de incredulidade e cinismo do Daniel, tentando conter a raiva.
Como ele pôde ter sido capaz de tal maldade?
Eu realmente desconhecia o cidadão em minha frente, sequer me lembrava o meu amigo, que eu admirava e convivo há anos. Aparentemente ele era um monstro, insensível, que conseguia se esconder atrás dessa aparência dócil e educada.
Mas não passava de um canalha, abusador.
Ainda teve a audácia de me entregar os exames...
As linhas em negrito nos exames, deixando evidente o positivo quase me fizeram vomitar. Ele estava agindo como se fosse inocente, mas não há como haver erros naquele exame. E aquele cínico fez-me sentir culpado e pedir-lhe desculpas.
Como ele pode ser tão nojento assim?_Eu não acredito... - Levanta-se do chão - Não. Esses exames estão errados. Eu não sou pai da Agnes.
_Você não tem vergonha de ainda tentar negar? Você é ainda pior do que eu imaginava, Daniel. Seja homem e assuma os seus erros.
Ele olhava abismado para os exames, como se estivesse surpreso. Eu sabia que não era apenas uma coincidência, mas uma parte minha torcia para ser mentira. O meu melhor amigo é um monstro, e estava sendo difícil assimilar essa verdade.
_Você não presta. Eu não sei como conseguiu me enganar por tantos anos.
_Eu juro que eu não entendo o porquê desse positivo. Mas eu não sou o pai dela. Eu nunca forçaria uma mulher, você me conhece, Alex. Por favor, acredite em mim.
_Não jure em vão. Eu não faço a mínima idéia de quem você seja, porquê o amigo que eu conhecia era bom. Mas você, não passa de um canalha. E ainda insiste em continuar negando...
_Eu irei fazer outro exame. Farei quantos forem necessários, até obter a verdade.
_Faça quantos você quiser, mas não se aproxime da Agnes. Não é porque vocês tem o mesmo sangue, que ela irá querer ter um desgraçado como você por perto.
Algumas pessoas ao redor observavam a discussão, mas se mantinham distante.
_Eu não quero você na construtora e muito menos perto da minha namorada.
_Você não pode acreditar...
_Nos exames? Quais as chances de ter dado erro? Nenhuma. Então pare de tentar recuar, e nos deixe em paz. Se possível, se afaste também do Lewis. Você é uma péssima influência para ele.
Giro os calcanhares e me afasto de sua presença desagradável. Sento-me na recepção, recapitulando essa nova informação.
Positivo!
Meu Deus, o verdadeiro pai estava mais perto do que poderíamos imaginar. E era o meu amigo.
Eu não sei se seria prudente contar para a Agnes, mas em algum momento, ela iria descobrir. Então talvez seja melhor falar-lhe antes, para evitar novas surpresas e decepções.
Encosto a cabeça no banco e permaneço inquieto, aguardando as horas se passarem. O horário de visita chega, e eu subo para o seu quarto.Era possível vê-la apenas do lado de fora, por um vidro. Ela estava se recuperando aos poucos, e o nosso filho ainda corria riscos. Encosto a mão no vidro, tentando alcançá-la, mas a distância era esmagadora.
O monitor cardíaco monitora os seus batimentos, que estavam devagar. Havia um tubo em sua boca e agulhas com soro em seus braços. Ela ainda não despertou nesses três dias, e por mais que o médico dissesse que ela está bem, eu estava preocupado. Sequer consigo dormir ou me alimentar corretamente. A única coisa que faço é tomar banho, no hotel que estou hospedado. A minha rotina diária é hospital e "casa", nada além disso._Acorda, meu amor... - Oro - Volta para mim. Por favor, eu preciso de você.
Limpo a lágrima solitária que desce, sem autorização. O médico entra no seu quarto, e ajusta o soro.
Ele anota alguma informação em sua prancheta e coloca-se do lado de fora.
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Laços Invisíveis
RomanceTodo o sofrimento de Agnes começou com a morte precoce de seu pai e o novo casamento de sua mãe. As pessoas que deveriam protegê-la, tornaram-se os seus piores inimigos. Uma infância movida à abusos, uma família enganosa, traumas irreversíveis e di...