Esperança

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Termino a reunião por videoconferência e desligo a tela do computador momentaneamente. Eu estava me sentindo exausto, novamente eu havia tido uma péssima noite de sono e sequer consegui fazer as refeições corretamente. Eram pendências na construtora, brigas simultâneas com o meu filho e a morte do Samuel. Este último conseguia ainda ser mais difícil e doloroso, porquê além de ser um ótimo rapaz que estava prestes a trabalhar aqui, era amigo da doce Agnes. Vê-la naquele velório foi muito duro, era evidente o seu sofrimento e eu temia por sua saúde mental. É impressionante como nossos caminhos se cruzam, com um ou outro. Mas infelizmente foi uma fatalidade terrível esse acidente e a morte.

Este fim de semana o Lewis iria para a casa da mãe, em seu aniversário. Rapidamente as memórias de quando comemoravamos juntos me vêm em mente. Todos os anos, ela comemorava com toda a nossa família, reunidos e felizes. Mas algumas mortes fizeram um estrago nas festas. E passamos a ser apenas nós três. Atualmente é apenas ela, o seu novo namorado e o meu filho. Eu sempre envio uma mensagem de felicitação, apesar do nosso término. Afinal foram anos juntos e não éramos inimigos. Sempre seríamos os pais do Lewis e bons amigos distantes. Eu não havia conversado com o meu filho desde ontem, quando ele teve a audácia de sugerir ocupar a vaga no estágio, e eu não pretendia falar nada, ainda. Talvez seja muito bom que ele vá e repense suas palavras e atitudes arrogantes.

Ouço leves batidas na porta e autorizo a entrada do meu amigo. Ele se senta na minha frente, enquanto explica alguns detalhes do nosso novo projeto.

_O quadro de estagiários está em falta. Você acha que deveríamos contratar outro?

_A morte do Samuel está muito recente ainda. Deveríamos esperar um pouco ou nem mesmo contratar alguém.

_Eu sei disso, Alex. Mas não podemos estacionar, a construtora precisa continuar. Foi uma fatalidade terrível, mas precisamos dar seguimento ao trabalho.

_Eu não sei, Dan... - Hesito - Sabe, fica parecendo que a vida daquele rapaz era insignificante para nós. Eu não o conheci, mas acredito que era um garoto excelente. Do contrário, não teria notas tão altas e pessoas que o amam.

_Você notou a ausência de pessoas da idade dele no seu velório? - Questiona - Aparentemente ele não tinha amigos e isto é um pouco estranho.

_Eu perguntei ao Lewis sobre ele. O meu filho disse que eram da mesma sala, mas sequer trocaram um cumprimento. A única pessoa que eu vi além de sua família era a Agnes.

_A menina que você ajudou?

_Sim. Ela me disse que eles eram melhores amigos. Estava completamente arrasada e entristecida.

_Impressionante como coisas ruins acontecem quando essa menina está por perto. - Diz - Tome cuidado, Alex!

_Ela não tem culpa. É evidente que alguma coisa acontece com ela e eu queria muito descobrir.

_Não deveria se importar tanto. É só uma menina entrando na fase adulta. Está passando por mudanças, conhecendo o mundo e descobrindo a vida.

_Eu adoraria que fosse apenas isso. - Manuseio a cabeça - Ela me deixa muito curioso.

_Tem certeza que é apenas curiosidade?

_O que mais poderia ser!? - Levanto a sobrancelha - Além de empatia, compaixão e solidariedade?!

_Eu vou acreditar que você não sente mais nada além de compaixão.

_O que você está insinuando? Não tem a mínima chance de ser algo semelhante. - Ele dá de ombros - Quantas vezes eu terei que dizer que ela é apenas uma criança?

_Quantos anos tem essa criança?

_Com certeza menos do que você está imaginando.

_Você acha que acima dos dezoito?

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