Capitulo 2: O começo

33 8 10
                                    

— Vamos querido, tá na hora de acordar — ouço uma voz doce.  

— Por quê? Que horas são? — Respondo sonolento.

  — Alguém tem que cuidar da sua tia, meu amor. — Ouço a voz dizer. 

  — Tia Lis? Ela tá bem, me deixa dormir. 

  — Não querido, ela não está, acorda. — Sinto uma mão acariciar meu cabelo, de alguma forma, mesmo de olhos fechados, sei que é minha mãe.  

— A senhora vai voltar? — Digo desejando conseguir abrir os olhos, só para vê-la. 

— Eu não estou aqui, meu amor. Acorde. 

  Abro os olhos, assustado, novamente esse sonho, sempre ouço a voz da minha mãe quando durmo profundamente, olho em volta e percebo que estou sentado na cadeira do ônibus, levanto minha cabeça que estava encostada na janela, esfrego os olhos para despertar e observo pela janela as ruas de São Luís passar, presto atenção nos detalhes para verificar se passei do meu ponto, quando vejo que continua longe volto a relaxar na cadeira e encosto novamente minha cabeça no vidro da janela, não posso voltar a dormir, mas posso ao menos descansar. Olho as ruas que o ônibus vai passando e penso em tudo que fiz esses últimos dias, uma rotina variada em trabalhar em bicos com horários péssimos e salário pior ainda, cuidar da tia doente e ainda procurar emprego.

Sinto meu corpo tombar para frente quando o ônibus freia e me assusto, percebendo que cochilei novamente. Sair de casa às seis e voltar as dez da noite está sendo mais cansativo que imaginei, mas é necessário, hoje foi um dia de rodar a cidade deixando currículo em qualquer canto, desesperado para trabalhar em qualquer coisa. 

Quando finalmente posso descer do ônibus sigo direto para casa, assim que abro a porta vejo minha tia sentada no sofá me esperando assistindo novela.  

— Oi, tia. — Digo e me aproximo dela beijando seu lenço que está em sua cabeça. Minha tia odeia que a vejam sem o lenço depois que ela teve que raspar o cabelo por conta do tratamento.  

— Oi querido, como foi a busca? Alguma esperança de retorno? — Minha tia se afasta para a ponta do sofá, me dando espaço para sentar.  

— Não tia, hoje foi péssimo, parece que ninguém está precisando de funcionário. — A respondo tristemente pensando em todas as lojas que fui, onde aceitaram meu currículo por consideração, mas avisaram que no momento não estavam precisando. 

  — Vai dar certo, querido, você vai ver, vamos sair dessa, ok? — Ela aperta minha mão me consolando.  

— Vamos, sim, tia. — Concordo para não preocupa-lá. — E a quimioterapia como foi? Deram alguma resposta se estão com leitos disponíveis? 

Minha tia descobriu há três anos que está com leucemia, a doença ainda não a deixa incapacitada e por enquanto não está sendo tão agressiva, e é isso que me enche de esperança, não posso perder a única pessoa que ainda me resta na vida.  

— Não, meu bem, sem vagas ainda. — Responde triste, o ideal era que minha tia ficasse no hospital, mas estão sem vagas, e como ela ainda não, está na visão deles, na pior, eles não a consideram prioridade.  

— Mas a quimio hoje foi tranquila, ainda tô enjoada e acabei desmaiando antes do fim da sessão, mas me recuperei e estou bem. — Continua ela, falando tranquilamente como se estar enjoada e ter desmaiado não fosse tão ruim. 

Deito a cabeça sobre os ombros da minha tia e suspiro, sinto algumas lagrimas escaparem molhando seu ombro, ela começa a fazer um carinho no meu cabelo como se dissesse "calma, vou melhorar", mas isso não me acalma, minha tia desmaiou e provavelmente passou mal até conseguir se recuperar para ter forças e voltar para casa e eu não estava lá, porque dia após dia levanto tendo que escolher entre ficar do lado da minha única família ou procurar um emprego na esperança de conseguir um bom trabalho que me dê condição de cuidar da casa e manter o tratamento dela.  

— Pedro? — Ouço a voz da minha tia. — Você sabe que eu não fico magoada de você não está comigo no hospital, não é, querido? — Fico em silêncio, ela pode não me odiar, mas eu com certeza me odeio. — Querido, você está fazendo o que pode, não se cobre tanto, por favor. — Continua. — Olha para mim, querido.  

Levanto o rosto e limpo ele, mesmo sabendo que ela sabia que eu estava chorando, não quero ela que veja. Minha tia segura meu rosto com as duas mãos e leva minha testa aos seus lábios e beija. 

  — Pedro, você só tem 29 anos, e eu sei que você já é adulto, mas meu amor você não é o superman ok? Você trabalha desde que tinha 17 anos só para consegui me ajudar nas despesas, acha que eu não sei que você fez isso na esperança de não atrapalhar minha vida? —  Quando eu abro a boca ela faz um "xi" me silenciando. — Você nunca me atrapalhou, eu amo você como um filho, não criei você só porque você é filho da minha irmã, mas também porque assim que te vi na sala de parto quando nasceu eu amei você. Sua mãe sabia disso, por isso que sempre deixou claro que se o pior acontecesse eu seria responsável por você.
  
Sinto meus olhos encherem de lágrimas mais uma vez e vejo que minha tia também está emocionada.  

— Você perdeu o emprego e depois descobrimos esse câncer e de alguma forma você se culpa, não é? — aceno com a cabeça respondendo ela. — Meu amor, nem você e nem eu poderíamos prever isso, ok? Para de se culpar por não conseguir um emprego ou por não me acompanhar nas quimios, eu sei que está fazendo tudo que pode por mim, e eu te amo por isso. Ok?

  Não consigo segurar algumas lágrimas e as sinto escapar, as enxugo rapidamente e sorrio para minha tia.  

— Eu também te amo, tia Lis. — Digo. — Posso tentar parar de me culpar, mas não me peça para diminuir o ritmo, ainda não posso, só vou descansar quando achar um emprego que pague o suficiente para cuidar da senhora.  

Minha tia sorrir e solta meu rosto enxugando as próprias lágrimas. 

— Eu sei querido, e é disso que vamos conversar.  

— Como assim, tia? — Respondo confuso

  — Uma amiga que faz quimioterapia comigo disse que uma família que ela trabalhou de empregada está precisando de um faz tudo. — Abro um sorriso, peço mentalmente que seja uma vaga de emprego para mim. — Mas o emprego é na França.
 
  Assim que ela termina, perco meu sorriso e a fagulha de esperança. 

— Não, tia! — Digo com raiva. — Eu não vou para outro país! Vou arrumar um emprego aqui!  

— Eu sei que você não quer, por isso evitei falar disso, mas meu bem o emprego é ótimo e salário é maior que você possa imaginar, eu mesma me assustei com o valor!  

— Sem discussão, tia! Eu não vou a lugar nenhum sem a senhora! — Digo ainda revoltado.
 
— Ok, querido, não vou insistir, se fosse o contrário eu também não aceitaria, só queria te falar para você saber, estava me sentindo culpada por não contar. — Diz minha tia parecendo ser sincera, respiro fundo para me acalmar.  

— Ok, tia, vamos deitar já está tarde. — Digo encerrando o assunto. Minha tia acena com a cabeça já levantando, a ajudo a subir as escadas e a levo para seu quarto. Assim que a deixo acomodada, saio do seu quarto e vou direto para o banheiro tomar um banho. 

  Quando finalmente me deito já sinto o cansaço me vencer e caio em sono profundo.

____________________________

Oi amores!! FELIZ PÁSCOA!!! Espero que todos tenham ganhado um monte de chocolate!! Aproveitem bastante esse domingo ❤️

Gostaram do cap de hoje? Um pouco sofrido né 🥺 nosso Beau já passou por muita coisa!

Sigam meu IG de autora e meu IG de indicação literária: @meueuliterario / @luana_autora

Sigam minhas betas!! Elas tem perfis de indicação e de autora:
IG de indicação da Nay: @diariodeumaloucaporlivros
IG de indicação e autora da Kétlin: @kit.entrelivros / de autora: @kiteez_ss

Até o próximo domingo!! ❤️

Mon Beau Onde histórias criam vida. Descubra agora