Quando acordo pela manhã e vou para a cozinha encontro minha tia terminando de coar o café da manhã, me aproximo dela e beijo sua bochecha.— Bom dia, tia Lis. — Digo, aproveitando que ela terminou de coar o café e coloco logo o meu na xícara.
— Bom dia, querido. — Responde ela, e se senta ao meu lado na mesa. — Acha que consegue chegar cedo hoje?
— Não estava nos meus planos, do que precisa tia?
— Os médicos me ligaram solicitando uma reunião urgente depois da quimioterapia, mas sempre que encerro o tratamento estou exausta, queria que você se encontrasse com eles.
Sinto um frio gelar em minha barriga e um mal-estar me abater, odeio falar com médicos, nenhumas das conversas que tive com eles foram boas, na primeira vez que falei com um ele me disse que minha mãe estava morta, na segunda vez me falaram que minha tia estava com câncer, e depois disso todas as reuniões sobre minha tia eram notícias desanimadores. A cada dia o medo de perder a única família que me resta só aumenta.
— Que horas, tia? — pergunto nervoso, torcendo para ela não reparar em minha voz tremula.
— Sempre termino por volta do meio-dia a uma hora da tarde, querido. Chegue la por volta de uma hora e meia que já está bom.
Concordo com a cabeça e controlo minha respiração para não entrar em pânico. Irei pensar coisas boas, talvez dessa vez as notícias sejam boas.
Assim que termino o café me despeço da minha tia e vou à procura de trabalho. Mais tarde chego no hospital e sigo em direção à recepção.
— Bom dia.— Digo em voz baixa numa tentativa de disfarçar o nervosismo.
— Bom dia, o que deseja? — a recepcionista me responde.
— Vim ver minha a tia, Lissandra Mota, ela está fazendo quimioterapia para leucemia e também temos agendado uma reunião com o médico responsável, Doutor Carlos Rodrigues.
— Ah, sim, estar aqui, pode me dar sua identidade? — Assim que tudo é resolvido na recepção, ela me encaminha para o andar da quimio e me dá um crachá de visita. — O doutor agendou a reunião para as duas horas, a sessão da sua tia está quase encerrando, o andar dela é o segundo e o escritório do doutor é no fim do corredor do mesmo andar.
Agradeço a ajuda e sigo direto para o andar que me tia esta pelo elevador. Assim que chego ao local apresento meu crachá e identidade na recepção para liberarem minha entrada, quando entro no corredor da quimio já procuro minha tia e a encontro em uma cadeira parecida com uma poltrona acolchoada.
Ela está de olhos fechados e respiração fraca, me sento em uma cadeira igual à sua ao seu lado e a observo atentamente, ela está mais pálida que o costume, seus remédios estão injetados em sua veia e ela tem aparelhos cardíacos em seu peito. Engulo em seco, é sempre uma tortura vê-la nesse estado.
— Oi, quem é você? — ouço alguém ao meu lado, quando me viro em direção à voz vejo que tem uma senhora bem mais pálida e magra que minha tia esperando uma resposta minha.
— Oi, sou o sobrinho dela, e você quem é?
— Sou Lucia, amiga de sua tia, você é o Pedro, sobrinho bonitão dela? — Lucia é uma mulher alta, de pele negra e magra, usa um lenço na cabeça como minha tia, e roupa hospitalar, suspeito que esteja internada. Ela se senta na poltrona ao meu lado, perdendo meu rosto corar de vergonha pelo elogio. Vejo que ela não está com nenhum aparelho conectado a ela, então acredito que já tenha finalizado sua quimio e esteja recuperando as forças.
— Não sei sobre a parte do "bonitão", mas me chamo Pedro.
— A com certeza você é o bonitão, ela me mostrou fotos suas e garanto que é mais bonito ainda pessoalmente. — responde ela rindo e ri ainda mais quando me vê ficar ainda mais vermelho de vergonha.
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Mon Beau
RomancePedro Henrique só tinha um propósito quando aceitou um emprego de faz tudo na França, ganhar dinheiro suficiente para pagar o tratamento da tia, sua única família, mas ao chegar no local percebeu que tinha algo muito errado. Ele devia ter estranhad...