Prólogo

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9 MESES ANTES

Cornélio encarou o portão verde em sua frente e suspirou. Estava prestes a entrar no Colégio Estadual do Mato, o nome era tão estranho quanto a combinação do portão verde com o muro pintado de marrom claro. Um lugarzinho feio, com aspecto de sujo e mal acabado. Porém, mesmo que sua primeira impressão fosse horrível, não havia muito o que fazer além de entrar.

Enquanto caminhava pelo pedaço de chão cimentado, Cornélio tentava se acostumar com o ambiente aberto e arborizado, o chão de terra que cercava a construção dos blocos de sala e seus novos colegas que estavam por todos os cantos. Entretidos uns com os outros, em seus assuntos fúteis, os adolescentes não fizeram questão de reparar em Cornélio, o que de forma alguma o fez se sentir mal. Muito pelo contrário, o que menos queria era atenção.

— Cornélio!

Ele logo olhou na direção da voz e instantaneamente abriu um sorriso.

Era tão bom ver o rosto dela.

— Eugênia!

Abriu seus braços e se permitiu ser abraçado por alguns segundos, e quando se afastaram os dois começaram a rir apenas pela felicidade de estarem juntos.

— Eu tô tão feliz que você tá aqui, sério! Vai ser muito bom a gente estudar juntos de novo — Eugênia afirmou sem tirar o sorriso dos lábios.

— Vai ser mesmo! — ele concordou.

— Então você é o famoso Cornélio!

Logo atrás de Eugênia, um rapaz de pele parda, alto e esguio se aproximou, e Cornélio logo o reconheceu por causa do cabelo cacheado tingido de vermelho. Aquele com certeza era o namorado de sua amiga, pelo menos pela descrição que ela fez.

— E você deve ser o Sérgio. Do jeitinho que você falou — Constatou e piscou um olho para Eugênia que tentou esconder um sorriso. — Prazer.

— O prazer é meu, a Eugênia falava tanto de você que já sinto que te conheço — Sérgio disse e riu enquanto também olhava para Eugênia que ficava cada vez mais envergonhada e todo o seu rosto ficava rosa.

— Só coisas boas, imagino. Porque eu emprestei meu ouvido para ela falar de você.

Os dois trocaram um olhar cúmplice e gargalharam ao ver que Eugênia não tinha onde enfiar a cara, afinal, ali estavam seu namorado e seu melhor amigo se conhecendo. E esse encontro era muito perigoso porque ela tinha fofocado todo o tipo de coisa de um para o outro.

— Não vou te provocar mais tomatinho, fica tranquila. — Cornélio ia colocar uma mão no cabelo dela, mas se impediu antes de levantar a mão.

Se lembrou que Eugênia agora tinha um namorado, e se fosse ele, não gostaria de ter alguém acariciando sua namorada.

— Acho bom mesmo, miojão — Eugênia revidou e em um gesto natural, abraçou a cintura de Sérgio, que também estava rindo.

Cornélio revirou os olhos, nunca escondeu a aversão que tinha por aquele apelido ridículo. Quer dizer, ter o cabelo cacheado e loiro não era motivo para ele ser um "miojão".

Mas observar essa cena o fez se sentir bem recebido, e Cornélio pensou que talvez não tenha sido tão ruim mudar de cidade e escola logo no terceiro ano do ensino médio. Talvez pudesse ser bom conhecer novas pessoas e novos ares.

— Vamos logo conhecer os outros.

Eugênia chamou Cornélio enquanto entrava de mãos dadas com Sérgio dentro do pátio principal do colégio. Ele os seguiu e logo foi apresentado para Nathyaska, Inácio e Tales. Já de início se deram bem e ficaram conversando enquanto esperavam a coordenadora com as instruções sobre o início do ano letivo.

Rasgo No Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora