4 - Quem é você?

36 14 75
                                    

"Eu te vi duas vezes, em pouco tempo
Uma semana depois de nos conhecermos
Parece para mim, em cada vez
Estou ficando com o coração mais aberto

Eu era um caso impossível
Ninguém conseguia me alcançar
Mas eu acho que posso ver em seu rosto
Você tem muito para me ensinar"

ABBA - The name of The game

×××××××××

TERÇA-FEIRA À TARDE:

As cadeiras estavam vazias, as mesas limpas e a única alma viva na sorveteria era uma mulher sentada atrás do balcão. Havia uma televisão em uma parede, onde uma playlist de forró tocava.

- Boa tarde... - Cornélio até acenou para a mulher.

Tudo o que ele recebeu de volta foi um olhar de tédio.

- E aí tia, o que tem pra gente aqui? - Delfina perguntou, animada.

Nem parecia a pessoa malvada que era com os colegas na escola. Mas ao pensar bem no assunto, Cornélio se lembrou que ela nunca tinha feito nada grave para ele, além de o irritar, e aparentemente apenas importunou outros colegas durante os nove meses em que ele estava estudando lá.

Perceber isso o deixou pensativo, pois tudo o que sabia sobre Delfina era baseado em apenas boatos do passado.

Quem era ela agora?

- Tem picolé, sorvete no quilo e calda de morango - a atendente respondeu.

- Ah, eu queria um açaí, tem?

- Se tivesse eu tinha falado que tinha.

Cornélio tentou disfarçar a risada e Delfina cruzou os braços e o olhou com raiva.

- Tá bom, e quanto é? - Cornélio perguntou ainda se divertindo com a situação.

- Olha lá o tamanho da lista na parede. - A mulher apontou para a parede onde os freezers estavam encostados, e lá estava o painel.

Foi a vez de Delfina rir e percebendo que a mulher era de poucas ideias, se afastaram.

- Você vai pagar né? - Delfina perguntou pouco antes de esfregar a língua no picolé de morango que escolheu.

Cornélio revirou os olhos.

- Agora eu não tenho escolha.

Ele pegou um de limão e se sentaram em uma mesa próxima da televisão. O forró continuava tocando e vez ou outra Delfina dava um sacudida no corpo e cantarolava baixinho.

A coisa era tão estranha que ele nem se importou quando ela levantou e pegou outro picolé.

Cornélio não podia acreditar que a garota com uma fama de ser psicopata estava comendo um picolé de morango e quase dançando forró na sua frente. Era informação de mais ao mesmo tempo.

Ele realmente não sabia quem era aquela garota. Mas queria muito saber.

Era apenas curiosidade.

- Quem é você? - ele perguntou.

Ela o olhou por cima da mesa com o cenho franzido, surpresa por ele ter puxado assunto.

- Como assim? - Delfina respondeu e riu.

- Dizem que você gosta de provocar as pessoas, que humilha os outros e agora você tá aqui na minha frente fazendo dancinha?

Rasgo No Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora