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Voltei :)

Seus cabelos eram rebeldes e longos, olhar marcante, a cor verde realmente chamava atenção, o corpo franzino e juvenil denunciava que o fuzil que ela carregava na bandoleira sobre o corpo era muito mais pesado que ela.

Seguia o ritmo da batida viciante do funk, não sabia dançar, mas se permitia mover-se desengonçada quando estava bebada.

Bebada de mais para notar o quão triste era sua vida, mas ao mesmo tempo Lauren era sã de mais para saber que nunca experementou a paz.

Estava sempre em um ambiente hostíl como aquele, mas nada era tão hostíl quanto a vida que levava antes.

A fome dói, ela já sentiu isso na pele.

Mesmo rodiada de pessoas naquele baile, Lauren se sentia sozinha, na verdade sentia isso desde sempre.

Desde quando ninguém, além de sua mãe e irmãos se lembrava de seus aniversários, desde quando presenciava sua mãe sendo agredida e xingada pelo homem que lhe jurava amor, desde quando ia até a escola somente para lanchar e matar sua fome.

Se sentia impotente. A garota queria tanto ter fome de conhecimento e assim conseguir absorver o que era nescessário para ser bem sucedida, mas tudo que sentia era a fome que vinha da barriga.

Queria tanto ter uma bela história de superação sendo um espelho positivo para outras pessoas no futuro, alguma pequena criança que estivesse passando pelo mesmo que ela passou, mas a realidade não lhe permitia.

Um em centanas conseguia sair dessa realidade, ela fazia parte das centenas que não sairia.

Infelizmente, Infeliz!

Não se recordava de nenhum momento feliz até então, são 17 anos existindo.

Muitas vezes se perguntava qual era o propósito de sua vida afinal. Deus brincaria com ela ou ponto de coloca-la no mundo somente para provar da dor, sofrimento e derrota?!

Ele não faria, faria?

Outra coisa que sentia era o peso, peso das adversidades que lhe sufocava. Seu pai era ausente desde sempre, mesmo morando debaixo do mesmo teto o homem nunca se importou consigo ou com seus irmãos, a partida dele trouxe até certo alívio, já que não testemunharia mais as agressões que sua mãe sofria.

Apesar que, nas favelas do Rio de janeiro ter um pai ausente é "normal", o homem detem o recorde de quem mais aborta.

Apesar dos apesares era uma criança comum, amava quando sobrava dinheiro da feira do mês e sua mãe lhes dava danones, sonhava em ter um vídeo game, um simples, para passar o tempo se distraindo com seus irmãos, sonhava em si manter longes das ruas.

Sonhava também em ser astronauta porque cria que a Lua era feita de queijo, lá sua barriga não doeria de fome, depois manteve os pés no chão quando viu que era impossível alguém como ela ir para lua e começou a sonhar com advocacia, precisava tirar sua familia da situação humilhante que viviam, amava os filmes da seção da tarde que mostravam os advogados com belas roupas e carros, não usaria mais roupas velhas que a patroa de sua mãe mandava de seus filhos crescidos, seus sonhos foram esmagados quando percebeu e teve consciência de classe, favelas quase nunca formavam advogados renomados, a pobreza extrema e falta de recursos fez a realidade vir a tona, tinha que sonhar mais baixo, ser policial, talvez.

Não deu certo, estava atrasada na escola porque começou a andar com más companhias, parecia divertido ser popular e pular o muro da escola para fumar cigarros e beber vinho quente.

Ninguém a incentivou a ir para o caminho certo, não teve base para a se apoiar ou bons conselhos para ouvir quando fazia travessuras.

Seu pai era inexistente, sua mãe era distante.

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