50 - Aquele onde tudo está bem.

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🎨 | Boa leitura!

📄 NOAH URREA

É estranho estar olhando para a porta da casa onde eu cresci de novo. Achei que nunca mais estaria aqui. Eu desejei nunca mais estar aqui. E, se for para ser totalmente sincero, ainda não sei o porquê de estar aqui. Mas alguma coisa dentro de mim disse que seria a coisa certa quando Any sugeriu esta manhã. E mesmo que meus dedos estejam trêmulos, eu não vou sair correndo.

A porta foi aberta pelo Benjamin. Primeiro, seu rosto estava formal como em qualquer outro dia de trabalho, isso até ele perceber que era eu diante dele. E o jeito como seus olhos se arregalaram me fez rir um pouco.

— Oi, Ben! — digo sentindo meus nervos darem uma trégua.

— Noah! Mas... — ele sorri de um jeito desconcertante. — Eu achei que...

— Eu sei. — assinto. — Any esqueceu algumas coisas e eu resolvi acompanhá-la.

— Ben! — sem qualquer cerimônia, Any abre os braços e enlaça o homem num apertado abraço. Ele ri de um jeito quase sufocado e eu observo a cena adorável em minha frente. — Não vamos demorar muito. — ela segue para dentro da casa.

Em todos os anos da minha infância e adolescência, nunca vi Ben abraçar ninguém. Seus cumprimentos sempre se resumiam a acenos de cabeça e sorrisos educados. É chocante vê-lo deixar alguém esmagá-lo desse jeito. Mas é o efeito da minha raio de sol, claramente. Qualquer pessoa eventualmente acaba se encantando por ela.

— Seja muito bem-vindo, senhor. — Ben sorri de um jeito cordial e me dá espaço para entrar.

Passamos pelo hall de entrada que não mudou muito desde a última vez que estive aqui. As obras de arte parecem as mesmas e só um detalhe ou outro insignificante da decoração parece ter sido alterado. Paro no meio da sala quando chegamos lá. Engulo em seco por um instante relembrando quando eu corria pelo cômodo inventando histórias e amigos na minha cabeça quando me sentia sozinho e não tinha companhia para brincar. É praticamente impossível não deixar o semblante melancólico assumir o meu rosto.

Sinto Any ao meu lado encaixar a sua mão dentro da minha. Enlaço meus dedos nos dela e respiro fundo. Não é tão ruim quanto eu achei que seria. Em minhas indagações ansiosas, eu me imaginava desmaiando só de sentir o cheiro amadeirado de sândalo que parece emanar de cada canto da casa. Mas estou em pé bem aqui e só sinto alívio por não ser mais aquele jovem que se sentia preso por essas paredes apenas sonhando com o dia em que poderia ter um espaço só seu.

— Vamos? — digo olhando para a minha namorada.

Ela sorri fraco e continua segurando a minha mão quando vamos para a escadaria exageradamente espaçosa. Subimos e eu a acompanho até a porta do meu antigo quarto.

— Usei o seu quarto enquanto morava aqui, espero que não se importe.

— Tudo bem.

Any abre a porta e eu tenho um baque nostálgico que me transporta para quinze anos no passado. Não mudei muito as coisas depois que saí do colegial, porque fui morar em uma das fraternidades da universidade e só voltava para casa aos fins de semana. Então, estou olhando para o quarto de um adolescente dos anos dois mil. Meus pôsteres e minha vitrola estão exatamente no mesmo lugar.

— Confesso que achei que meus pais iriam transformar o cômodo em um depósito.

— Voltou para cá depois da faculdade? — Any pergunta.

— Só por dois meses, depois que consegui um emprego, eu aluguei um apartamento pequeno. Não era o melhor do mundo, mas a opção mais rápida para sair daqui. Depois que me formei, minha mãe começou a triplicar o seu nível de cobrança, era impossível ter paz nessa casa.

Room Haters ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora