23. A VIDA CALMA DE UM SEMIDEUS

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Havíamos chegado às cercanias de uma pequena estação de esqui aninhadanas montanhas. A placa dizia BEM-VINDOS A CLOUDCROFT, NOVO MÉXICO. O ar era frio e rarefeito. Nos telhados das cabanas, a neve se acumulava, e montes de
neve suja se erguiam em ambos os lados das ruas. Pinheiros altos acima do vale, lançando sombras cor de piche, embora a manhã fosse de sol. Mesmo eu usando dois casacos, ainda estava congelando no momento em que chegamos à Main Street. Puta que pariu que frio é esse, me faz sentir saudades do calor de quarenta graus do Rio de Janeiro.

Grover contava as histórias antigas dos heróis enquanto andávamos, era uma boa estratégia para nós não nos lembrássemos que estavamos um frio desgraçado, e que estávamos caminhando nessa condição climática.

— bom, então você está me dizendo que, na maioria das histórias, não se tinha um parente presente porque eles eram deuses gregos? — pergunto para o sátiro

— basicamente, sim — ele mexe na sua barbicha de bode

— isso nem faz sentido — reclamo

— as histórias são assim! Se não se tem pai, significa que ele é metade divino

— se for assim, a maioria dos brasileiros são semideuses — ele arregala os olhos — todos os deuses resolveram comprar cigarro ao mesmo tempo

Conversamos sobre vários assuntos aleatórios até que paramos no meio da cidade. Dava praticamente para ver tudo dali: uma escola, algumas lojas e cafés para turistas, alguns chalés de esqui e um armazém.

— Ótimo — disse Thalia, olhando à volta. — Nada de rodoviária, nada de táxi, nada de aluguel de automóveis. Nenhuma saída.

— Tem um café! — exclamou Grover.

— Sim — disse Zoë. — Café é bom.

— E pãezinhos — completou Grover, sonhador. — E papel encerado.

— tomara que tenha pão com mortadela — digo e a minha barriga começa a roncar em resposta

Thalia suspirou.
— O.k. Que tal vocês três irem comprar comida para nós? Percy, Bianca, Clarisse e eu vamos dar uma olhada no armazém. Talvez possam nos dar informações.

Combinamos de nos encontrar na frente do armazém em quinze minutos.

Fomos até a cafeteria que ficava ali perto, o lugar era pequeno e aconchegante. A cor marrom predominava na loja inteira, além de haver muitas plantinhas. Haviam algumas pessoas sentadas nas mesas. Nos sentamos enquanto pensávamos no que pedir.

— o que vamos pedir? — pergunto olhando o cardápio

— a maioria gosta de café, menos a Bianca — Zöe deduz

— o Percy também não gosta — Grover acrescenta

— então vamos levar chocolate quente para eles — anoto mentalmente — o que vamos levar de comida?

— os muffins de blueberry parecem deliciosos — Grover comenta e Zöe acena com a cabeça

— eu vou pedir bolo de chocolate para mim e para a Clarisse — coloco o cardápio cima da mesa

— você e a La Rue estão muito juntas ultimamente... — Zöe diz cerrando os olhos

— verdade, rola alguma coisa entre vocês? — Grover questiona

— que? Não rola nada entre a gente, somos só duas amigas beem próximas — sorrio disfarçando o meu nervosismo, enquanto eles fingem que acreditam no que eu disse

Zöe dá de ombros e vai até o caixa fazer os pedidos. Saímos da cafeteria e andamos até o armazém, que era o local de encontro. Percy, Bianca e Clarisse já estavam lá nos esperando, noto um sorriso no rosto de La Rue ao me ver.

— Devemos fazer o feitiço do rastreamento — disse Zoë. — Grover, vós ainda tendes alguma bolota de carvalho?

— Humm — murmurou Grover. Ele mastigava um muffin de farelo de trigo, com embalagem e tudo. — Creio que sim. Só preciso...

Ele parou. Eu estava prestes a perguntar o que havia de errado, quando uma brisa passou por nós, como se uma rajada de vento quente estivesse perdida no inverno. Algo não estava certo.

Zoë arquejou.
— Grover, vosso copo

Depois disso foi uma loucura! Os pássaros do copo de Grover criaram vida, minúsculos pombos saíram voando. Saiu um rato do copo de Percy, e em seguida, surgiu um gato cinza do meu copo, que correu atrás do ratinho do Percy. Do copo da Clarisse saiu borboletas coloridas, por sorte, eu ia trazer o café dela em um copo com leãozinhos. Como se não bastasse o caos que estava rolando, Grover desabou igual bosta no chão. Nós nos reunimos em torno dele e tentamos acordá-lo. Ele gemeu, com os olhos tremulando.

— Ei! — disse Thalia, vindo correndo da rua. — Eu acabo... O que aconteceu com Grover?

— Não sei — Percy respondeu. — Ele desmaiou

— Bem, levantem-no! — disse Thalia. Ela estava com a lança na mão. Olhava para trás, como se estivesse sendo seguida. Em seguida, Clarisse pegou o Grover no colo. O bom de ter uma pessoa forte no grupo é exatamente esse.— Temos de sair daqui.

Chegamos ao limite da cidade e Clarisse colocou o sátiro no chão, logo em seguida, os dois primeiros guerreiros-esqueletos apareceram. Eles saíram das árvores de ambos os lados da estrada, parecendo até o raposo da Dora Aventureira. Em vez da roupa de camuflagem, agora eles usavam uma roupa feiosa azul, parecendo aqueles polícias de desenho animado. Além de possuírem a pele cinza transparente e olhos amarelos.

Eles ainda tiveram a audácia de sacar as armas na nossa direção. Não aguentei o culhão deles e tirei o meu chaveiro do bolso, logo se transformando em uma M4 preta brilhosa, amo que a arma já vem bem gay. Thalia tocou na sua pulseira, invocando a sua inseparável arma, Aegis.  O Percy destampou a sua caneta, fazendo com que a contracorrente apareça. Clarisse levantava a sua lança, parecendo um pouco irritada com o "entretenimento". Zoë e Bianca puxaram seus arcos, mas Bianca estava tendo problemas, pois
Grover continuava a apagar e apoiar-se nela.

— Recuem — disse Thalia.

A gente ia fazer isso, mas nesse momento ouvi um barulho de galhos. Dois outros esqueletos apareceram na estrada atrás de nós. Estávamos
cercados, com certeza haviam mais escondidos nas árvores. Então um dos guerreiros levou um telefone celular à boca e falou. Só que não estava falando.

Esse filho da puta emitia sons de estalos da boca, como dente noosso. De repente, entendi o que estava acontecendo.  Os esqueletos haviamse dividido para nos procurar. Esses filhos da puta estavam chamando seus irmãos. Logoestaríamos ocupados com todo o grupo.

— Está próximo — gemeu Grover.

— Está aqui — disse Percy

— Não — insistiu ele. — O presente. O presente da Natureza.

Que conversa de maluco é essa? Era só o que me faltava, já não bastava eu cair de paraquedas em uma guerra de parentes que eu nem sabia que literalmente existiam. Ainda tem um louco que quer me matar, é deusa que foi aprisionada, é amiga desaparecida, é titã, é revanche de Cronos, é esqueleto, é leão de nemeia, é feijão enlatado horrível, é jantar fast food. Isso é muita coisa para a minha cabecinha, eu só posso ter vandalizado o Olimpo na vida passada, não é possível uma coisa dessas!

— Teremos de enfrentá-los num esquema um por um — disse Thalia. —Eles são quatro. Nós somos seis, ainda temos a vantagem. Talvez, dessa forma, ignorem Grover.

— De acordo — disse Zoë.

— acho que todo mundo concorda com isso — diz Clarisse

— eu sugiro um revezamento — digo e os olhares se voltam a mim

HERMES DAUGTHER ||Clarisse La RueOnde histórias criam vida. Descubra agora