Todas as pessoas que me importam estão no hospital. Apenas Felix vai entrar comigo, mas não deixo de me sentir grata pela presença de Greta e Trevor. Eles são os tios mais babões que eu conheço, o que me dá suspeita que se depender deles meu filho vai ser estragado. Ou estragada.
Hoje finalmente vamos saber o sexo, e mais do que nunca eu penso no que isso pode implicar pelo resto da minha vida. Não quero me prender a padrões de comportamentos baseados em gêneros, mas não posso deixar de imaginar os clichês: se for um menino, talvez ele seja mais próximo de Felix, me faça ir a jogos de algum esporte que não entendo, ou então me deixar preocupada com seu amor por animes e videogames e inexistência de vida social. Se for uma menina, pode ser que ela seja fã da Taylor Swift e me conte como está se preparando para os testes de líder de torcida. Quem sabe, ela seja fisicamente parecida com minha mãe. São tantas as possibilidades...
Felix se mantém sentado ao meu lado. Ele olha para minha barriga, que está bem mais visível pelos seis meses, e engulo em seco ao lembrar da distância entre nós.
Eu estava de quatro meses quando finalmente tomei coragem de lhe perguntar o que tinha acontecido. Felix ainda falava comigo, me perguntava se eu precisava de alguma coisa, e diminuiu a própria carga horária para estar mais presente. Mas era palpável a diferença entre antes e depois de da última vez que fizemos sexo.
— Eu sinto que somos dois estranhos agora.
Ele tocou minha barriga. Decidimos que iríamos escutar o coração do bebê e descobrir o sexo na mesma consulta. Essa conversa foi assim que chegamos em casa depois de uma tentativa de ultrassom, mas nosso plano tinha sido adiado, já que o bebê mantinha as pernas cruzadas.
— Não somos dois estranhos. Temos um filho — ele diz.
Reviro os olhos. Sinceramente, me arrependi de tocar no assunto. Felix sempre dá um jeito de dar voltas quando conversa comigo as coisas que eu realmente quero saber. Mas então ele dar um jeito de abalar toda minha estrutura.
— Eu estava pensando em que data devemos nos casar. Prefere verão, outono, inverno ou primavera?
Dessa vez, arregalo os olhos, surpresa pelo tópico. Não imaginava que ele ainda mantinha a ideia de casamento. Do fundo do meu coração, eu sabia que ele tentava seguir normalmente diante da rotina que tínhamos criado e da noite que tivemos, e por isso eu não queria insistir em algo que eu deixasse desconfortável, mas agora a situação estava ficando mais desconfortável para mim. Estávamos morando juntos, comentando sobre assuntos de trabalho, pesquisando coisas sobre a gravidez — e eu dizendo pelo menos umas três vezes ao dia para ele ficar calmo em relação a minha saúde e do nosso filho. Era um padrão de cotidiano que eu estava acostumada. Eu ainda estava com os hormônios da flor da pele.
Não que isso estivesse em primeiro plano. O que mais me incomodava era saber que Felix não confiava em mim para expor seus pensamentos mais básicos.
Oh, vamos lá, querido, eu sofrerei um parto com seu filho.
Basicamente, nessa conversa eu disse que não podíamos nos casar e nos manter como um casal como se nossas diferenças não existissem. Mas pela primeira vez, me doeu dizer não. Antes minha resposta era para uma declaração soberba de que um dia eu iria ter o sobrenome Bellucci. O momento não era diferente dos outros, mas já tinha passado por muitas coisas até chegarmos na conversa do sofá.
— Eu aposto que será uma menina. — Greta desafia Trevor. — Eu vou adorar ajudar a decorar os quartos. — Ela olha para mim, incerta. — Claro, se você permitir, Chloe. Provavelmente vou ser uma tia intrometida, mas tem coisas que são somente suas.
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O Que Nós Temos
RomanceSérie: Bellucci's / Livro 1 Para Chloe Hopkins, sua felicidade se resume em ter todos os problemas financeiros resolvidos. Renunciando seus sonhos e pronta para iniciar em seu novo emprego de assistente pessoal numa das empresas mais prestigiadas do...